Enviada Especial / Trabalho Humanitário / UNHCR

Angelina Jolie faz comunicado oficial no Peru

24 de outubro de 2018

Bom dia.

Sou muito grata pelo Presidente Vizcarra me receber nesta manhã e pela conversa que nós acabamos de ter. Muito obrigada, Ministro Popolizo, pelo seu trabalho e por suas palavras.

Eu vim ao Peru para testemunhar a situação humanitária daqueles que fugiram da Venezuela. Eu passei os últimos dois dias em Lima e na fronteira, na cidade de Tumbes, por onde milhares de Venezuelanos estão entrando diariamente. Esta região está enfrentando uma das maiores migrações em massa de sua história. A crise é ainda mais chocante por ser previsível e evitável. Todo venezuelano que eu conheci descreveu a situação de seu país como desesperadora.

Ouvi histórias de que, na Venezuela, as pessoas estão morrendo por falta de assistência médica e por falta de medicamentos; pacientes com câncer cuja quimioterapia foi abruptamente interrompida, pacientes diabéticos sem acesso à insulina, crianças sem antibióticos básicos, pessoas famintas e relatos trágicos de violência e perseguição. Nenhum dos venezuelanos que conheci quer caridade. Eles querem uma oportunidade para que possam se ajudar. Conheci um homem que, até alguns meses atrás, era advogado na Venezuela. Agora, ele está grato por ter um pequeno trabalho em uma fábrica de camisetas. Assim como muitos outros, seu único objetivo é ser capaz de enviar alguns dólares para casa para que seus filhos possam comer.

A mensagem que eu ouvi consistentemente foi: “nós não queríamos sair, nós tivemos que sair”. Depois de conversar com tantas pessoas, ficou claro para mim que essa não foi uma movimentação feita por opção. Os venezuelanos que eu conheci não fugiram para o norte, mas viajaram para o sul do Peru. Muitos fugiram para a Colômbia e para o Equador, países que também estão sendo muito generosos neste momento crucial.

Como em quase todas crises de deslocamento, os países que tem menos recursos estão sendo solicitados para fazerem o máximo. Quero agradecer ao povo do Peru por sua generosa e resiliente resposta a esta difícil situação. Eu disse ao Presidente Vizcara o quanto a UNHCR (ACNUR) aprecia os passos que o Peru está dando para ajudar os venezuelanos a terem uma situação legal e terem acesso aos serviços básicos. E nós discutimos os esforços regionais que estão sendo realizados em Quito, que são os primeiros passos a caminho de uma solução regional. Também conversamos sobre o que mais a comunidade internacional pode e deve fazer para apoiar o Peru e seus vizinhos.

O número de pessoas deslocadas em todo o mundo continua aumentando, sendo atualmente 68,5 milhões de pessoas. Uma pessoa é deslocada à força a cada dois segundos por razões de conflito ou perseguição.

Existe uma preocupação pública justificada sobre este movimento sem precedentes de pessoas em fronteiras internacionais. E uma percepção de que a distinção entre refugiados e migrantes econômicos, consagrada no direito internacional, está sendo obscurecida. Considerando que os migrantes econômicos optam por se mudar, muitas vezes por razões muito compreensíveis, os refugiados enfrentam uma ameaça imediata à vida e não podem voltar para casa com segurança e sua proteção torna-se uma responsabilidade internacional compartilhada.

Em um momento em que os princípios fundamentais estão sendo questionados, é mais importante do que nunca que tenhamos os sistemas e recursos para identificar pessoas com pedidos genuínos de refúgio e asilo, para garantir que possam ter o apoio que precisam. É crucial reforçar o Estado de direito, o respeito pelos direitos humanos, a proteção internacional e os sistemas de asilo.

Isso se aplica também à situação no México, onde o UNHCR está reforçando sua presença no sul, incentivando as pessoas a se registrarem e aplicarem por meios legais, onde podem definir suas razões para buscar asilo.

Acima de tudo, onde quer que vivamos, precisamos que nossos governos façam mais para enfrentar o conflito e a insegurança que está criando refugiados, para que as pessoas possam retornar a seus países. No que tenho de experiência, a grande maioria dos refugiados quer fazer exatamente isso: eles querem voltar para casa.

Fui profundamente tocada pela dignidade e força dos refugiados venezuelanos que encontrei nesta visita e pelo calor e generosidade do povo peruano.

Muito obrigado por me receber em seu belo país.

Sua causa é minha causa.

Vídeo:

Fonte: UNHCR