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Angelina Jolie fala sobre um tipo diferente de desfile de moda

17 de março de 2018

Em todos os seus anos como uma atriz vencedora do Oscar e também diretora, Angelina Jolie – a mulher mais glamourosa deste planeta – nunca foi a um desfile de moda. “Eu nunca estive em um”, diz a Enviada Especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR), em sua experiência de se encontrar sentada na primeira fileira de um desfile especial durante uma visita a um abrigo para refugiados em Nairobi, no Quênia, em Junho de 2017. “Mas foi o meu estilo de desfile de moda: as meninas mais bonitas, sobreviventes com suas cabeças erguidas, trazendo suas próprias criações e cultura, mostrando como é possível encontrar sua feminilidade de novo depois de ser brutalmente atacada.”

O abrigo que Jolie visitou no Dia Mundial do Refugiado é dirigido por RefuSHE, uma ONG que procura preencher uma crucial falta de cuidados para meninas e jovens mulheres dos 13 aos 23 anos, voando da Somália ao Sudão do Sul, e outros lugares devastados pelas guerra da região. “Todas as garotas que eu conheci foram separadas de seus familiares ou tiveram seus pais mortos”, diz Jolie. “Quase todas passaram por violência sexual, e muitas deram à luz após serem estupradas.” O RefuSHE oferece terapia e abrigo e as conduz para um programa de educação multidisciplinar.

Com o apoio da UNHCR, o RefuSHE também encoraja o empoderamento econômico, ensinando as jovens a fazer coloridos lenços usando tinturas resistentes, uma técnica tradicional do leste africano semelhante ao tie-dye. Isso dá às refugiadas uma habilidade comercializável que pode ajudar a colocá-las no caminho da independência financeira. 100% do que é arrecadado com os lenços feitos por elas é reinvestido no programa e em suas artesãs; desde 2010, mais de 70% delas se tornaram auto-suficientes.

“Eu achava que as meninas representavam suas culturas e suas habilidades de uma forma tão impressionante”, diz Jolie sobre o desfile de moda, que até fez sua plateia ficar de pé e dançar com as modelos. “Elas são mulheres completas.” O programa faz parte da iniciativa da UNHCR, MADE51, que visa trazer o acesso comercial aos refugiados artesãos.

Agora a MADE51 está ajudando o RefuSHE expandir sua linha de produtos com uma nova linha de bolsas feitas pelas artesãos que vivem em Kakuma, um campo de refugiados no nordeste de Quênia, onde Jolie construiu uma escola para meninas, e perto da Colônia Kalobeyei. Os tecidos serão tingidos à mão em Naironi e então enviados a Kakuma, onde as artesãs o transformarão em sacolas, bolsas e carteiras. De lá, as bolsas serão enviadas a Kalobeyei, no qual um grupo de artesãs Etíopes, renomadas por suas habilidades de costura com miçangas, adicionarão os enfeites.

“Há muito talento dentro da população de refugiados que se perde porque as pessoas não são permitidas a trabalharem ou não podem trabalhar”, diz Jolie. Para Halima Aden, uma modelo Somália-Americana de 20 anos que passou os sete primeiros anos de sua vida em Kakuma, o programa RefuSHE é uma adição muito bem-vinda aos refugiados, onde mulheres empreendedoras dependem de uma economia de troca de comércio de incensos ou tranças de cabelo para equilibrar as despesas. “Eu queria que minha mãe tivesse tido algo assim no acampamento dela”, diz Aden. “Como uma refugiada, às vezes você sente que você não tem o que dizer nesse mundo, então é muito legal ver que mulheres podem colocar as mãos nos seus próprios destinos. A habilidade que elas aprendem é algo que elas podem levar consigo porque é um conhecimento que fica com você.”

Integrando várias habilidades artesanais e espalhando o trabalho em diferentes campos de refugiado, o programa dá um número máximo de refugiados a oportunidade de aplicar suas habilidades e ganharem renda, o que é especialmente importante para os campos remotos do Quênia, onde o clima semi-árido é inapropriado para agricultura. A MADE51 planeja que se os revendedores se envolverem e fizerem pedidos, existe o potencial de criar 12 mil novos empregos no Quênia por conta própria. “Nós precisamos de mais iniciativas como essa” diz Jolie, se referindo às comunidades de refugiados-artesãos em 70 países, que vão desde fabricantes de cestas de Ruana a tapeceiros do estilo kilim do Afegão, que podem se beneficiar com a MADE51. “Ninguém quer ser um refugiado ou viver de ajuda”, ela diz. “Eles querem ter vidas dignas, úteis, como qualquer um de nós. Então espero que esse seja só o começo.”

Escrito por Alison S. Cohn
Traduzido por Guilherme Leite

Fonte: Harpers Bazaar