Especialistas alertam contra corrida para testes de câncer
17 de maio de 2013
O exame genético ao qual a atriz Angelina Jolie se submeteu antes de decidir fazer uma mastectomia dupla (retirada dos dois seios) está ajudando milhares de outras pessoas a prevenir a doença ao redor do mundo.
O teste, que pode ser feito a partir de amostras de sangue ou de saliva, detecta a presença de mutações genéticas bastante raras que, segundo especialistas, estariam fortemente associadas a casos hereditários de câncer de mama e de ovário – em especial, falhas nos genes conhecidos como BRCA1 e BRCA2.
Segundo Julie Sharp, da organização Câncer Research UK, em geral, o teste é indicado para pessoas que têm um histórico familiar considerado de alto risco. E em alguns países, como a Grã-Bretanha, é oferecido gratuitamente pelo sistema de saúde público para indivíduos desse grupo.
“E por pacientes com ‘histórico familiar de risco’ entendemos pessoas que têm um número significativo de parentes próximos que tiveram câncer cedo, antes dos 50 anos”, explicou Sharp à BBC Brasil.
Era esse o caso de Angelina, cuja mãe desenvolveu câncer por volta de 46 anos.
No Brasil, a rede pública não oferece esse exame genético “preventivo” – realiza apenas a mamografia, o exame clínico mais indicado para o diagnóstico do câncer de mama. No entanto, ele está disponível em clínicas e hospitais privados, onde o valor pode variar de R$ 3 mil a R$ 8 mil e é coberto por alguns planos de saúde. Entre os locais que oferecem o exame estão, por exemplo, o laboratório Fleury e o Gene. A empresa americana InterGenetics também tem um convênio com médicos brasileiros que lhes permite enviar amostras para serem analisadas em seus laboratórios nos Estados Unidos.
Evitar o ‘pânico’
Médicos brasileiros acreditam que a decisão de Angelina é importante para informar a população sobre a existência desse exame, mas também ressaltam o fato de que a análise do histórico familiar é sempre o primeiro passo.
“A estratégia que ela tomou (de fazer o exame e a cirurgia) já existe há alguns anos e é válido que seja divulgada. Mas o mais importante é que ela não se torne uma estratégia que cause pânico, levando muito gente a fazer o teste sem indicação médica apropriada. Antes de mais nada, é preciso conversar com o médico para ver se há possibilidade um câncer hereditário. A discussão sobre o histórico da família é a base para todo o diagnóstico”, afirma o oncologista e pesquisador do INCA (Instituto Nacional do Câncer), José Bines.
O geneticista Sérgio Pena, do laboratório Gene, também acredita que ninguém deve fazer o teste automaticamente, sem antes consultar um geneticista.
“Há um conjunto de indicações que, se reunidas, justificariam um teste desses, como a presença na família do pai ou da mãe de vários casos de câncer de mama, especialmente os precoces (antes dos 50 anos), parentes com esse tipo de tumor nas duas mamas e predisposição familiar para câncer de ovário”, afirma Pena.
Segundo Sharp, o paciente pode pedir a um parente com um diagnóstico confirmado de câncer que submeta seu material genético para exames com o objetivo de ajudar os médicos a entenderem onde exatamente está a mutação que poderia ser transmitida hereditariamente. Pena diz que o mesmo procedimento é adotado no Brasil.
Segundo especialistas, nos casos em que uma falha é detectada no gene BRCA1, por exemplo, o risco de seu portador desenvolver câncer varia de 50% a 95% dependendo de uma série de outros fatores – como seu histórico familiar. Para Angelina Jolie, tal risco seria de 87%.
Risco
De acordo com a médica do Câncer Research UK, as mutações genéticas hereditárias conhecidas seriam responsáveis por apenas 2% dos casos de câncer de mama registrados. Isso ajuda a entender por que um teste negativo em um exame genético não é garantia de que o paciente não desenvolverá a doença. Além disso, especialistas estão apenas começando a mapear as mutações genéticas hereditárias que estariam associadas ao câncer. Caso o teste de uma paciente indique um alto risco de desenvolver um tumor, ela tem três opções segundo Sharp.
A primeira, e mais extrema, é a retirada dos seios, pela qual Angelina optou. A segunda seria a realização frequente de exames como ressonâncias e mamografias. Por fim, ela também poderia optar por tomar uma substância que especialistas acreditam reduzir significativamente as chances de desenvolvimento da doença (o tamoxifeno), embora tal tratamento ainda esteja em fase de testes.
Nenhum desses métodos, porém, elimina totalmente o risco de câncer de mama e ovários. Mesmo na mastectomia, tal risco é reduzido em cerca de 90%, mas ainda existe – até porque os médicos dificilmente conseguem extrair absolutamente todas as células da mama. Além disso, esse risco remanescente também pode variar dependendo, por exemplo, da decisão da paciente de retirar ou manter o mamilo.
Fonte: BBC Brasil
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