Imparável Angelina
15 de outubro de 2012
Como estamos praticamente sem notícias e fotos novas, resolvi traduzir e compartilhar essa entrevista feita por Chris Connelly com Angelina durante a divulgação de “In the Land of Blood and Honey” no mês de Setembro de 2011 para a edição do mês de Janeiro de 2012 da revista Marie Claire norte americana. Há uma versão da entrevista traduzida pela Marie Claire Brasil, mas mesmo assim resolvi traduzir a versão americana pois é muito mais interessante. Apesar de ser um pouco antiga, espero que gostem, assim como eu gostei.
Jolie escreveu e dirigiu um surpreendente filme de amor, guerra e traição. “In the Land of Blood and Honey” é diferente de tudo o que você já viu. Abram espaço, Steven Spielberg e Kathryn Bigelow, porque Hollywood tem uma nova e poderosa diretora.
“É meio-dia de um chuvoso dia de outono e tudo esta sereno na King’s Road – a rua principal de Chelsea, um dos chiques bairros de Londres. A rua parece um desfile de moda já que jovens mães passeiam empurrando os carrinhos de bebês enquanto seus filhos estão firmemente protegidos contra o incipiente frio. Diante disso, fui surpreendido quando um sedan apareceu em uma rua lateral e estacionou na frente de um discreto restaurante indiano para deixar uma das mulheres mais famosas do mundo, que usava óculos aviador com armações douradas – sua marca registrada – apesar do dia estar nublado. A tentativa em cumprimentar Angelina Jolie ainda na rua foi a pior ideia que eu tive durante todo o dia. Um paparazzo estava posicionado do outro lado da rua, e por isso Jolie nos levou para dentro do restaurante. Foi quando eu percebi que não havia outros clientes no local – Jolie reservou o lugar inteiro para nós. Vestida de preto da cabeça aos pés, ela aparentemente não usava nenhuma maquiagem, nenhum colar, nenhum brinco e o efeito era simples: o nível mundial de beleza não precisa de propaganda.
Apropriadamente assim porque seu glamour de celebridade é irrelevante. Angelina Jolie – atriz ganhadora do Oscar, sereia e provocadora, tatuada que virou ativista da ONU – pode agora adicionar escritora e diretora à sua longa lista de conquistas profissionais. Seu filme, “In the Land of Blood and Honey”, firmemente explora os horrores da guerra que aconteceram na ex-Iugoslávia através de um romance confuso que acontece entre Danijel, um oficial sérvio, e Ajla, uma mulher muçulmana que eventualmente se torna uma prisioneira de guerra em um acampamento de trabalho forçado. Grande parte do filme é cruciante, porque deve ser. Jolie, escrupulosamente homenageia o registro histórico. A guerra travada pelos sérvios contra os muçulmanos da Bósnia apresentou todas as atrocidades do século 20: campos de extermínio, limpeza étnica, massacres civis, pessoas inocentes usadas como escudos humanos e estupro. O que a heroína de “In the Land of Blood and Honey“, interpretada por Zana Marjanovic, teve de testemunhar e suportar na primeira meia hora de filme, irá deixar a audiência atormentada.
“Eu acho que ainda é difícil entender o que aconteceu,” disse Jolie, “e como isso podia estar acontecendo a 40 minutos da Itália durante os anos 90, exatamente no momento em que o filme “A Lista de Schindler” estreiou. Jolie já testemunhou várias crises humanitárias ao redor do mundo, mas esta guerra cuja fúria e barbárie são impossíveis de não abalar. “Você não pode dar sentindo a algo que naturalmente não faz sentido: estuprar e matar seus vizinhos, com os quais você convivia desde sempre,” disse ela.
Quando Ajla é presa como prisioneira e é levada a um acampamento de trabalho forçado para mulheres, ela se surpreende ao descobrir que seu amor perdido, Danijel, é um dos comandantes sérvios. A guerra enfurece ferozmente ao seu redor, mas em quatro paredes o casal passa eventualmente a compartilhar – um emocional e sexual cenário de fuga que Jolie navega com mistério e segurança – amor, arte e ternura competindo com questões sobre identidade, traição e responsabilidade. “Eu, obviamente, imaginava o que estaria acontecendo comigo se eu estivesse naquela situação,” disse Jolie, que sabe o que significa ter amado desafiadoramente. “Se eu fosse apaixonada por alguém e acontecesse de nós ficarmos em lados opostos do conflito, mas se nós tivéssemos nos apaixonados antes do conflito começar, o quão longe eu seria capaz de ir? O quanto eu estaria aberta, e quando eu começaria a me fechar? Isto seria amor ou seria sobrevivência?”
Enquanto escrevia o filme, Jolie disse que começou como um pequeno exercício “uma desculpa para escapar das minhas frustrações com a comunidade internacional e com as questões relacionadas à justiça. Achei que ninguém jamais iria ler ou ver. Em pouco tempo o projeto me consumiu. Algumas das partes mais obscuras foram, provavelmente, concebidas durante as aulas de arte de Shiloh; Eu ficava atrás, em um canto, esperando as crianças terminarem,” disse ela. “E então, de alguma forma, o projeto acabou sendo lido lentamente por Brad e por alguns amigos. Houve uma discussão sobre fazê-lo e eu fiquei apavorada em entregá-lo para alguém. Não foi o que eu pensei, ‘Eu vou escrever alguma coisa, e quero dirigir isto.”
O envolvimento de Jolie não poderia ser mais informal, e não poderia ser mais diferente da realidade que a câmera parecia pegar. (O que ela vestia enquanto dirigia? “Vestidos de festa,” brincou ela). Mas quando o assunto é seu filme, ela agita seu anel rapidamente e começa a tirá-lo e colocá-lo. Ela gostaria de ter realmente acertado, não para o seu próprio bem, mas sim para honrar as vidas de muitas pessoas que ela conheceu na região e que confiavam nela para contar a história de sua terra e de seu compartilhado sofrimento. Em alguns casos, membros de seu próprio elenco viveram os momentos que estava filmando. Um deles foi baleado, outro perdeu cerca de 28 parentes na guerra. “Para eles, era difícil reviver aquilo, mas eles tinham força para fazer isso – uma força que eu não conheço,” observou Jolie com admiração. Ela desfrutou especialmente a oportunidade de trabalhar ao lado de outras atrizes. “Foi bom trabalhar com outras garotas, eu realmente não tenho amigas nos filmes, se você notar,” disse ela sugerindo que isso também acontecia fora das câmeras. Mas ela rapidamente se corrigiu. “Bem, eu tenho algumas amigas. Eu só… Eu só fico muito tempo em casa. Eu não sou muito sociável. Eu não saio muito com elas, e eu sou muito caseira.”
Jolie adotou uma postura de extrema preocupação com relação ao elenco. Não estranha à nudez, ela não saía do quarto para as cenas de amor do casal. Filmar as cenas de “humilhação e abuso” que “absolutamente aconteceram” na vida real – nas quais mulheres mais velhas eram forçadas a se despir na frente de sérvios zombadores – levaram ela a ter uma preocupação paradoxal com relação as atrizes. “Eu estava tão nervosa. Eu devo ter ido até elas umas quatro vezes acompanhada de um tradutor para dizer ‘Nós vamos gravar isso somente uma vez, e nós teremos uma reação genuína. Por favor, eu não acho que eles realmente estarão rindo de vocês. Eu estava uma bagunça!” Mas ficar nua em grupo não chateava as atrizes; há banheiros públicos por toda a Europa. “Eu dizia que elas deviam ir para casa e descansar e elas perguntavam, ‘Por que? Nós não estamos fazendo um bom trabalho?’ Eu entrei em pânico mesmo elas sendo tão profissionais.
O filme foi gravado em bósnio, sérvio e croata com legendas em inglês, o que encorajou os membros de seu elenco a falar se eles estavam tendo problemas com alguma coisa. Eles abraçaram a oportunidade. Logo no começo do filme, Ajla diz ‘eu te amo’ por cima do ombro de sua irmã e sai. Jolie sentiu que Marjanovic estava se segurando um pouco. Ela me disse: dizer ‘eu te amo’ a uma irmã é algo comum na America, onde você diz ‘eu te amo’ [tão facilmente] e abraça o entregador de pizza. Nós realmente não fazemos isso’,” lembrou Jolie.
É difícil saber onde Jolie estaria sem a capacidade de amar. Certamente não em uma casa de dois pais com seis filhos sendo três deles adotados em orfanatos ao redor do mundo e três deles produtos biológicos de seu incessante relacionamento com Brad Pitt, de 48 anos de idade. Quando surgiu a ideia de que Pitt e ela fossem co-estrelas em um filme novamente, assim como fizeram em “Sr. & Sra. Smith”, Jolie negou pois acredita que o público acharia “irritante” assisti-los interpretrando duas pessoas apaixonadas. Na verdade, ela parece querer deixar de atuar completamente. “Isso não significa que eu vou parar amanhã,” disse ela. “Mas certo dia eu acordei e pensei ‘Deus, eu sou uma atriz’. Eu acho que eu nunca tive a intenção ser uma atriz. Acho que minha mãe quis isso para mim. Eu adorava contar histórias e eu gostava da profissão, mas é tarde demais para me tornar outra coisa?”
Jolie pede vinho tinto e abre sua jaqueta. Pitt, de acordo com ela, “expandiu a minha vida de um modo que eu nunca imaginei. Nós construímos uma família. Eu sustento isso de uma forma muito querida.” Sobre criar seus filhos, ela diz: “Eu suponho que o que aprendi com Brad é ser capaz de ter o tipo de família cuja felicidade e bem-estar vem antes dos próprios pais. Eu sou muito, muito grata por ter uma família tão amorosa, a qual eu não teria sem ele.”
Os gêmeos de três anos e meio, Knox e Vivienne, são os mais novos da ninhada. “Knox é muito homenzinho,” conta Jolie. “Muito físico, durão. Ele adora dinossauros e espadas. Vivienne é o que sua mãe nunca foi: Uma menina feminina. Ela é muito elegante e delicada,” comenta Jolie. “Viv vai pegar flores no jardim para colocá-las em seu cabelo. Ela gosta de fazer as unhas e coleciona bichinhos de pelúcia. É engraçado para mim ter de comprar todas as coisas em cor de rosa e assistir filmes de princesas!”
E é isso, há um escasso momento para a mamãe e o papai, admite Jolie. No entanto, pelo menos seus filhos são a favor: “Se eles vêem a mamãe e o papai precisando de algum momento particular juntos ‘porque eles precisam se beijar e outras coisas’, as crianças ficam risonhas e felizes. Porque isso é algo que lhes dá alguma segurança.” As crianças querem os ver casados? Jolie ri. “Eles tem mecionado isso, sim. Se você levar isso de forma emocional, você pensa ‘Ohh, as crianças não se sentem seguras o suficiente! Mas então você pensa, “Espere um minuto: eles acham que o casamento é uma festa com um bolo de quatro camadas!” Com 36 anos, Jolie já está satisfeita com o número de filhos? “Nada planejado para o momento, mas eu não sei. Eu posso acabar ficando grávida.”
Por razões óbivas – as frequentes viagens e os olhares curiosos – ela e Pitt fazem com que seus filhos estudem em casa. Zahara, 7, começou a fazer hipismo (“Ela encontrou sua vocação”), e Shiloh, 5, tem brandido crendenciais de moleca enquanto corre em bicicletas. “É muito engraçado ver Brad tentando ensinar Shiloh, porque ela não quer ouvir. Ela não quer que o pai sente na parte de trás. Ela não quer aprender sobre os freios. Ela só quer acelerar! Eu gostaria de saber da onde ela tirou tudo isso. É, é a combinação de nós dois,” adicionou Jolie, sorrindo. Com 8 anos, Pax é, talvez, o mais parecido com sua mãe com relação à temperamento. “Ele é extremamente selvagem, mas tem um coração muito bom. Você sabe, como aqueles punks rockers – quando você realmente os conhece eles são apenas como gatinhos. Mas, ao mesmo tempo, ele irá se meter em problemas.”
Jolie não se esqueceu de como sua mãe lidava com o seu comportamento selvagem de quando era criança: “Minha mãe não conseguia gritar com a gente, e ela também não conseguia jurar. Mas ela chorava, e eu iria ouvi-la chorar porque nossos quartos eram um do lado do outro. Se eu saísse a noite toda e não ligasse – eu podia estar fazendo qualquer coisa – eu iria ver em seu rosto que ela não dormiu a noite toda. Ela me amava.” Com a menção de Marcheline Bertrand, que morreu de câncer de ovário com 56 anos de idade em 2007, Jolie abaixou seu olhar. “Eu gostaria que ela estivesse aqui. Eu nunca vou parar de sentir falta dela. Minha mãe nasceu para ser avó, ela teria simplesmente amado isso. Ela conheceu alguns dos meus filhos, e ela foi fantástica. Maddox lembra de tudo sobre ela,” Jolie acredita que sua mãe aguentou firme ao batalhar contra a dor da quimioterapia, ela até estava confiante de que tudo acabaria bem. “Assim que Maddox chegou em casa, eu acho que ela sabia que tudo ia ficar bem.” É Maddox, de 10 anos, que cuida de Jolie agora. “Se estou fazendo algo e fico frustrada, ele segura minha mão e diz ‘Você está cansada? É por isso que você está chateada?’ Ele realmente cuida de mim.
Seu relacionamento com seu pai, o ator Jon Voight, descongelou um pouco, depois de anos de afastamento. “Ele conheceu as crianças. Estamos na vida um do outro, mas nós não, como uma regra, discutimos sobre o passado,” disse ela, referindo-se às décadas de discórdia que se seguiram devido a suposta infidelidade de seu pai, o que levou à separação de seus pais. Jolie toma mais um gole de vinho. “Quando minha mãe morreu, eu tive que ligar e dizer a ele. Eu ia escrever uma carta porque eu não tinha falado com ele nos últimos seis anos, mas eu percebi que tinha de ligar. Nós conversamos por cerca de dois minutos. Eu não estava ligando para saber dele. Eu estava ligando para passar informações. Por isso, foi uma conversa muito rápida.”
Depois de duas horas e meia de conversa, Jolie escolheu um prato de comida indiana e não olhou nenhuma vez para o telefone, um BlackBerry, ou até mesmo para o seu relógio. Seu segurança lembrou-a de que horas eram: Pitt estava voltando para casa e a família tinha um passeio de kart planejado. Rapidamente, ela caminhou até a porta comigo. Eu recebi um par continental de beijos no rosto e um amigável sorriso de despedida. Em seguida, ela foi até o banheiro feminino. Não é de admirar: eu saí do restaurante na sua frente e entrei em um frenesi de paparazzis. Momentos depois, atrás de mim, Jolie deu seus passos para a segurança de seu carro. As nuvens já tinham ido embora e o sol estava brilhando. Dia perfeito para andar de kart.
*Obs: De acordo com o que foi pedido pela fã Bruna Andrade no Ask.fm doAngelina Fan Brasil, resolvi postar esta entrevista. Esta entrevista foi realizada por Chris Connelly para edição do mês de Janeiro de 2012 da revista Marie Claire norte americana. Na galeria do Angelina Fan Brasil você pode ver as scans da revista e da matéria, assim como também o photoshoot feito pelo fotógrafo Alexei Hay para a revista. Esta entrevista foi realizada no dia 21 de Setembro de 2011 no restaurante indiano Rasoi Vineet Bhatia, em Chelsea, na cidade de Londres. Na galeria do Angelina Fan Brasil você pode ver as fotos de Angelina deixando o restaurante exatamente neste dia:
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