Entrevistas / Photoshoots

Jolie concede nova entrevista a Harper’s BAZAAR

12 de junho de 2020

Nesta sexta-feira, dia 12 de Junho de 2020, a revista Harper’s BAZAAR britânica publicou, em seu site oficial, uma entrevista exclusiva com a cineasta e ativista estadunidense, Angelina Jolie. A atriz falou sobre as consequências do corona vírus e sobre o que tem assistido, lendo e ouvido durante o confinamento. O ensaio fotográfico foi realizado pelo filho mais novo de Angelina, Knox Jolie-Pitt. Leia a entrevista traduzida na íntegra pelo Angelina Jolie Brasil:

Esse período de bloqueio levou você a reconsiderar o que é realmente importante para você?

Anos atrás, tive a sorte de viajar com a ONU para as fronteiras ao redor do mundo e de ter tido a oportunidade de colocar em perspectiva o que realmente importa. Tendo seis filhos, sou lembrada diariamente sobre o que é mais importante. Mas, depois de quase duas décadas de trabalho internacional, essa pandemia e esse momento na América me fizeram repensar as necessidades e o sofrimento dentro do meu próprio país. Estou focando nos aspectos globais e domésticos; eles estão obviamente ligados. Existem mais de 70 milhões de pessoas que tiveram que deixar suas casas em todo o mundo por causa das guerras e perseguições – e há racismo e discriminação nos Estados Unidos. Um sistema que protege a mim, mas pode não proteger minha filha – ou qualquer outro homem, mulher ou criança em nosso país com base na cor de sua pele – é intolerável. Precisamos progredir de algo que vá além da simpatia e das boas intenções, para leis e políticas que realmente abordem o racismo estrutural e a impunidade. Acabar com os abusos no policiamento é apenas o começo. Vai muito além disso, em todos os aspectos da sociedade, do nosso sistema educacional às nossas políticas.

Que conselho você daria para ensinar as crianças sobre questões que envolvem raça e racismo?

Ouvir aqueles que estão sendo oprimidos e nunca achar que sabem tudo sobre as coisas…

Quais foram algumas das coisas mais inspiradoras que você testemunhou durante o confinamento?

A maneira como as pessoas estão crescendo. Dizendo que estão cansadas das desculpas, de meias medidas e demonstrando solidariedade entre si diante das respostas inadequadas daqueles que estão no poder. Parece que o mundo está acordando e as pessoas estão forçando um acerto de contas mais profundo, dentro de suas sociedades. É hora de fazer mudanças em nossas leis e instituições – ouvindo aqueles que foram mais afetados e cujas vozes foram excluídas.

Quais foram os impactos mais horríveis gerados pela quarentena sob sua perspectiva?

Estou profundamente preocupada com o impacto da pandemia e da crise econômica global nos refugiados. São pessoas que foram expulsas de suas casas e países em razão de bombas, estupro e perseguição violenta em todas as suas formas, muito antes deste vírus. Os refugiados sofrem com a xenofobia, racismo e preconceito todos os dias e são algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo quando se trata das consequências econômicas da pandemia. O outro horror é a violência doméstica. A realidade, antes do confinamento, era que o lugar mais perigoso para uma mulher estar era dentro de sua casa. Durante o confinamento, o abuso e o nível de violência aumentaram. Acima de tudo, minha preocupação é com as crianças. O número de crianças que conhecemos sendo abusadas e agredidas neste exato momento me mantém acordada à noite. Há uma crise de saúde global com relação às crianças que sofrem abuso, negligência e os efeitos desse trauma. E não é o bastante para protegê-las.

Por que você acha que muitas pessoas não levam a sério os problemas que cercam a violência doméstica?

Ainda fechamos os olhos para a violência doméstica. Muitas vezes não acreditamos nos sobreviventes, não colocamos os direitos das crianças em primeiro lugar ou não levamos o trauma a sério. Nossos serviços de proteção à criança não têm recursos e fundos adequados. Eles não têm treinamento adequado. Os juízes também. Nos Estados Unidos, não existe sequer um registro nacional de mortes por abuso infantil ou uma definição de morte causada por maus tratos, o que significa que não podemos rastrear a escala do problema de maneira eficaz. Tenho como convicção que, não apenas aqueles que cometem abusos, mas também aqueles que os encobrem e os rejeitam, devem ser responsabilizados. Todo mundo diz que é contra a violência doméstica, mas é esse tipo de coisa muito específica que precisamos mudar – e a proteção das crianças deve estar no centro disso.

Milhões de jovens em idade escolar e universitária tiveram a educação interrompida pela pandemia. Existe o risco de que algumas crianças nunca retornem à sala de aula e, se voltarem, como poderemos protegê-las?

Quando as meninas estão fora da escola, elas ficam muito mais vulneráveis ao casamento infantil, ao trabalho infantil, ao abuso sexual e a outras violações de seus direitos. A pandemia parece ter gerado efeitos indiretos na vida das meninas em muitos países. Sabemos disso, mas ainda existe inércia. A ONU alerta que a pandemia pode resultar em mais de dois milhões de casos de mutilação genital feminina e em mais de 13 milhões de casamentos de crianças na próxima década. Isso é horrível. Não existe uma resposta fácil, mas soar o alarme sobre isso, exortando os governos a se anteciparem, nos locais onde as meninas serão mais vulneráveis, e a agir, é algo essencial como primeiro passo. E não devemos aceitar nenhuma retórica de líderes que digam que outras questões têm prioridade. Não há nada mais importante.

Você é uma defensora apaixonada pela mudança; o que conecta todas as causas que você apoia?

Direitos humanos e igualdade. Alguns países têm circunstâncias mais extremas, mas a realidade é que a luta para viver em segurança, com independência, em poder trabalhar e prover dignidade à sua família é a mesma luta em todos os lugares, e está ficando cada vez mais difícil para muitos. pessoas vulneráveis. Seja uma família de refugiados ou uma família que luta contra a fome e a pobreza em nossos próprios países.

Como surgiu sua parceria com a Anistia Internacional nos livros infantis? O que lhe deu essa ideia?

A razão pela qual os direitos não atingem uma criança que vive em determinado país, ou uma criança que vive em uma casa onde os adultos os estão bloqueando. Em muitos casos, a criança não pode depender dos adultos. Estamos trabalhando em um livro para ajudar as crianças a se capacitarem. Ensinará o que fazer quando seus direitos são revogados ou não concedidos desde o início. Queremos ajudar as crianças, que estão tão engajadas agora, a usar seus conhecimentos, a lutar por seus direitos e reivindicá-los.

O que você tem lido ou assistido durante o confinamento e como você achou isso útil?

Estou ouvindo coisas na maior parte do dia. Eu acompanho online a revista Time, o The New York Times, a BBC World Service e os ativistas do movimento Black Lives Matter. Mais recentemente, assisti ao documentário “Não Sou Seu Preto” (I Am Not Your Negro) sobre James Baldwin e o movimento dos direitos civis na América. Antes de dormir, tenho lido o livro “Comportamento Irracional” de Don McCullin e refletido sobre como o jornalismo mudou na metade do último século.

O que você fez para aliviar os pensamentos ansiosos durante a pandemia?

Como a maioria dos pais, concentro-me em manter a calma, para que meus filhos não sintam a ansiedade através de mim, além de tudo com o que já estão se preocupando . Eu coloquei toda a minha energia neles. Durante o confinamento, o coelho de Vivienne faleceu durante uma cirurgia e nós adotamos dois novos coelhos pequenininhos que são deficientes. Eles precisam estar em dupla. Meus filhos são muito gentis e ajudaram nos cuidados com eles ao lado da irmã neste momento. E nos cães, na cobra e no lagarto …

Qual é o seu único desejo de vida após o confinamento?

Que o foco nos esforços, que buscam realizar mudanças estruturais, visando proteger as pessoas vulneráveis, permaneça no centro de nossas discussões. Que não nos voltemos para nós mesmos e que trabalhemos com ainda mais consciência sobre nossa humanidade compartilhada.

Fonte: Harper’s BAZAAR

 

Fotos:

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