Jolie concede entrevista para o jornal O Globo
19 de setembro de 2019
Por Gilberto Júnior
Ela – Jornal O Globo
Sem aviso prévio, Angelina Jolie surge em cena enrolada num robe branco e com grampos nos cabelos. Um boas-vindas e tanto para desconstruir qualquer imagem de perfeição que pudesse existir. O primeiro contato é rápido e sem troca de palavras. A atriz, de 44 anos, apenas escuta algumas instruções da equipe de relações públicas dos Estúdios Disney e desaparece do hall do hotel, em Beverly Hills. Nossa conversa só acontece quase sete horas depois desse “encontro”.
Na agenda, o lançamento do filme “Malévola: Dona do Mal”, com estreia marcada para 17 de outubro nos cinemas brasileiros. Os assessores deixam claro a todo instante que perguntas pessoais estão terminantemente proibidas, ainda que o clima familiar do ambiente esteja propício para a investida. Estão circulando pelo espaço os três filhos biológicos que teve com o ator Brad Pitt — de quem se separou em 2016, após 12 anos entre namoro e casamento, alegando “diferenças irreconciliáveis”.
Shiloh, de 13, está no grupo. Talvez essa seja a herdeira do clã Jolie-Pitt com mais destaque na imprensa, em reportagens que abordam, na sua maioria, a identidade de gênero da adolescente. Defensora da diversidade, Angelina nunca tratou o tema como tabu. “Ela gosta de se vestir como um garoto. Quer ser um menino. Ela acha que é um dos irmãos”, disse a atriz em entrevista à revista “Vanity Fair”, em 2010.
Sem causar o mesmo alarde de Shiloh, os gêmeos Vivienne e Knox, de 11 anos, também são vistos e até param para lanchar na sala de espera. Vivienne, aliás, fez uma ponta no primeiro “Malévola”, de 2014. Era a única criança que não caía no choro ao ver Angelina caracterizada como a “vilã” de chifres e asas do conto de fadas. A família, no entanto, não está completa. Os filhos adotivos da atriz, Maddox, de 18 (que agora é um estudante de bioquímica numa faculdade na Coreia do Sul), Pax, de 15, e Zahara, de 14, aparentemente não estão acompanhando a mãe no trabalho. “À medida que crescem, vejo que eles são indivíduos fortes, com a cabeça aberta”, disse a estrela à revista “Hello!”. “Tento liderar pelo exemplo e ser gentil, agradável, amorosa e tolerante.”
Angelina Jolie ao lado do jornalista em foto tirada por Elle Fanning
Não se trata de mais um de seus papéis. Ao vivo e a cores, Angelina é tudo isso. Ao longo da nossa entrevista, a americana não parece desinteressada em momento algum. Dá uma gargalhada logo no primeiro minuto do bate-papo ao ouvir que nasceu para interpretar a elegante Malévola. “Foi tão divertido voltar ao set. Considero um trabalho fácil porque amo a personagem”, comenta ela, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante pelo filme “Garota, interrompida”, em 2000. “Foi realmente incrível nos reencontramos em fases diferentes da vida”, acrescenta Elle Fanning, coprotagonista de “Dona do mal”, que tinha apenas 14 anos quando rodou o primeiro filme.
A continuação do longa se passa tempos depois de a princesa Aurora (Elle, hoje com 21) despertar do sono da morte com um “beijo de amor” — e não foi de um príncipe encantado. “O que acho bonito na sequência é que no centro da discussão está o direito de Aurora defender o que quer: um casamento, formar uma família própria com o príncipe que ela ama”, conta Angelina. “Esse filme é sobre abraçar sua verdadeira natureza. Espero que encoraje as pessoas a aceitarem quem são. Elas podem ser suaves, guerreiras, selvagens… Não importa, contanto que seja real.”
E Angelina é muito “de verdade”, cheia de nuances. Filha do ator Jon Voight, com quem nem sempre teve uma boa relação (chegou a tirar o sobrenome do pai na Justiça) e da atriz Marcheline Bertrand, falecida em 2007 (vítima de câncer no ovário), foi uma adolescente abastada com tendência depressiva, tinha uma queda por facas e automutilação, usou heroína e chegou a carregar um colar com o sangue do ator americano Billy Bob Thornton, seu segundo marido — Pitt foi o terceiro; e o ator britânico Jonny Lee Miller, o primeiro.
Depois de uma temporada no Camboja, onde rodou “Lara Croft: Tomb Raider” (2001) e presenciou a pobreza e o sofrimento, a jovem rebelde foi se transformando numa importante voz a favor dos direitos humanos. A americana, inclusive, fica visivelmente tocada ao falar sobre o trabalho que desempenha no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados(Acnur). Colaboradora da ONU desde 2001, ela roda o mundo para fazer o bem. Em junho, visitou a América do Sul para conferir a situação dos refugiados venezuelanos. “Tenho sorte de passar um período com essas pessoas, que sobrevivem com tanta graça e cuidam dos filhos apesar dos obstáculos inacreditáveis pelo caminho. Sinto-me honrada de levar um pouco de sorriso para as crianças”, conta a atriz. “Ela não se conforma em acompanhar os casos pela TV. Vai a campo passar longas horas com os refugiados. As histórias ajudam a torná-la uma defensora ainda mais poderosa”, diz Federico Sersale, chefe do escritório do Acnur em Riohacha, na Colômbia.
A estrela, que retirou os seios, os ovários e as trompas de Falópio para prevenir o câncer, parece imune aos efeitos colaterais da fama. “Precisamos ter uma razão para viver. Estamos aqui, de alguma forma, nessa condição humana, juntos, para explorar nossas diferenças. Descobrir em que pontos somos semelhantes para nos unirmos; desafiar uns aos outros. Mas é necessário ser quem somos. Não há tempo nessa vida para fingir”.
Autora do icônico vestido preto que Angelina usou no Oscar de 2012, a estilista Donatella Versace afirma que a atriz ama ser quem é: “Ela gosta de ser a criadora do próprio destino”. Ícone do tapete vermelho, Angelina não enxerga esses momentos como um conto de fadas, mesmo vestindo Versace, Saint Laurent e tantas outras grifes. “Claro que é uma parte interessante do meu ofício, mas o red carpet nunca foi meu objetivo. Para mim, o Brasil é um conto de fadas. Sei que existem muitos desafios e dificuldades, mas que país extraordinário! Que gente interessante! Que história incrível, com aquela natureza linda. Isso é um sonho.”
Depois de rodar o mundo, Angelina deseja que os seis filhos — todos nascidos fora dos Estados Unidos, em países como Camboja, Etiópia, Vietnã, Namíbia e França —, e até os futuros netos tenham a chance de ver de perto o que ela viu. “Espero que todos sejam capazes de entender o quão preciosa é a diversidade.”
Fonte: Ela – Jornal O Globo
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