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Jolie faz comunicado oficial sobre refugiados venezuelanos

9 de junho de 2019

Em 2002, 2010 e 2012, eu estive no Equador visitando alguns dos muitos refugiados colombianos que haviam fugido do conflito. Eu disse às famílias que conheci, que estava ansiosa para visitar a própria Colômbia, quando a paz possibilitasse o retorno dos refugiados.

Hoje, eu me encontrei com refugiados colombianos que retornaram, mas não pelos motivos que eu esperava. Mais de 400.000 colombianos, que tinham se deslocado para a Venezuela, foram forçados a retornar em razão desta situação catastrófica. Eles estão ao lado de 1.3 milhões de refugiados venezuelanos que buscam proteção na Colômbia.

Além disso, 3.3 milhões de cidadãos venezuelanos estão cruzando a fronteira por curtos períodos de tempo, visando encontrar suprimentos e assistência básica. O impacto nos serviços públicos aqui na Colômbia é impressionante.

Alguns hospitais localizados na fronteira estão, agora, fornecendo assistência médica tanto para venezuelanos quanto para colombianos. Muitas escolas duplicaram o número de alunos em suas salas de aula. Mas a Colômbia ainda mantem sua fronteira aberta e está fazendo tudo o possível para absorver esse número sem precedentes de pessoas que se encontram desesperadas. Os colombianos conhecem bem o que é se deslocar. Este país passou por 50 anos de guerra. Seu acordo de paz tem menos de 3 anos e é frágil.

É extraordinário o fato de que um país que enfrenta enormes desafios tenha demonstrado tanta humanidade e esteja fazendo esses esforços para salvar vidas. Quero conhecer a coragem, a força e a resiliência do povo colombiano. A situação aqui na Colômbia, no Peru e no Equador, coloca em debate e em retórica, as questões dos refugiados em muitos países pacíficos, inclusive o meu, em um contexto de humildade. Apesar de que essa retórica política geralmente implica menos de 1% de todos os refugiados que são reassentados nos países ocidentais.

A maioria das pessoas desenraizadas do mundo está deslocada dentro de suas próprias fronteiras ou fugiu para países vizinhos como a Colômbia. Olhando ao redor do mundo, parece que, muitas vezes, quem tem menos dá mais. O apelo humanitário emitido pelo UNHCR e seus parceiros em Dezembro do ano passado é inferior a 1/4 do que é financiado – 21% do valor é financiado, para ser exata. Enquanto isso, o número de refugiados e migrantes venezuelanos subiu para mais de 4 milhões.

Esta é uma situação de vida e morte para milhões de venezuelanos. Mas o UNHCR recebeu apenas uma fração dos recursos que precisa, para fazer o mínimo necessário para ajudá-los a sobreviver. Os países que os recebem, como a Colômbia, estão tentando administrar a situação com recursos insuficientes. Mas, nem eles e nem os atores humanitários, como o UNHCR, estão recebendo os fundos que necessitam para manter o ritmo do fluxo e ainda assim, fazem tudo o que podem. Isso não é verdade apenas com relação à crise da Venezuela. Esta imagem de números crescentes e fundos em declínio é replicada internacionalmente.

No dia 20 de Junho, comemoramos o Dia Mundial do Refugiado. O UNHCR espera outro aumento significativo no número total de pessoas deslocadas em todo o mundo e uma queda no número de pessoas que podem voltar para a casa – assim como a maioria dos refugiados que eu conheci ao longo dos anos.

Em vez de nos concentrarmos em lidar com a lacuna que existe na diplomacia, com a lacuna que existe na segurança e na paz, que fazem com que essas pessoas se movimentem, devemos ouvir cada vez mais o que os governos individuais não estão mais dispostos a fazer: receber refugiados ou pessoas que precisam de abrigo, ou contribuir com o financiamento das operações e dos recursos da ONU. Com o número de refugiados crescendo tão rapidamente em todo o mundo, é ingênuo apresentar essas políticas como se fossem algum tipo de solução.

Quando a casa do seu vizinho estiver pegando fogo, você não ficará seguro apenas trancando a porta de sua casa. Liderança significa assumir responsabilidade, já que gerações antes da nossa, assumiram a responsabilidade de enfrentar ameaças à paz e à segurança e construíram uma ordem mundial baseadas em regras. Precisamos deste tipo de liderança novamente agora, urgentemente.

Enquanto isso, não é possível colocar um valor no apoio que a Colômbia, o Peru e o Equador estão dando ao povo da Venezuela, porque isso está no centro do que é ser humano. A resposta humana não é fechar os olhos. É reconhecer seus companheiros, homens, mulheres e seus sofrimentos. É trabalhar para encontrar soluções, não importa o quão difíceis sejam. E, acima de tudo, a resposta humana não é culpar uma vítima de guerra, ou de violência, por suas circunstâncias, ou por seus pedidos de ajuda com relação ao seus filhos indefesos.

Hoje, precisamos dessa humanidade mais do que nunca, de um pensamento racional de pessoas que não tem medo de assumir uma responsabilidade e de mostrar liderança. Essa será minha mensagem enquanto deixo a Colômbia e servirá para os próximos meses, enquanto tento acompanhar o que observei nos últimos dois dias. Não vou esquecer do que vi aqui, não vou esquecer do povo venezuelano que conheci aqui. Meu coração está com eles e espero voltar em breve. Muito obrigada.

Fonte: UNHCR

Em nossa Galeria, foram adicionadas mais fotos da nossa musa, Angelina Jolie, durante os dois dias de missão humanitária na Colômbia. Clique nas miniaturas abaixo para ter acesso aos álbuns.

Fotos:

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