Diretor de Tomb Raider diz ter batalhado para conseguir Jolie no papel
14 de março de 2018
Lara Croft está voltando às telonas no dia 15 de março, mas a personagem feminina dos videogames que quebrou barreiras ainda com seus traços poligonais nos jogos do Playstation e, posteriormente, nas telas do cinema, apareceu pela primeira vez 17 anos atrás. A personagem que leva o nome do jogo – uma aristocrata britânica com habilidade em arqueologia e afinidade por shortinhos – escalou pelos rankings de cultura pop no final dos anos 90, se tornando uma celebridade digital sem precedentes na época das revistas femininas e “Girl Power”.
Recentemente, o diretor Simon West contou à revista norte americana “Entertainment Weekly” que ele foi contatado pela Paramount Pictures várias vezes antes de aceitar fazer o primeiro filme da franquia “Tomb Raider”, lançado nos cinemas em 15 de junho de 2001, depois de Croft ter acumulado um reconhecimento mundial com cinco jogos lançados anteriormente. Embora a personagem Ripley, do filme “Alien”, já tivesse mostrado seus músculos heroicos diversas vezes e a Mulher Maravilha já tivesse consolidado seu legado nas páginas dos gibis da DC, West diz que ele estava contra um mercado que não estava acostumado com mulheres liderando o sucesso nas bilheterias.
“Não havia tido uma atriz principal feminina em filmes de ação-aventura que havia mantido a carreira após um filme desse tipo, e Angelina não era tão grande como as outras atrizes da época, que poderiam fazer o papel, que já haviam feito outros filmes maiores e que tinham um maior e mais longo registro nas bilheterias… Alguma delas eram mais precavidas do que Angelina, outras eram perigosas demais. Na época, havia todo tipo de coisas escritas sobre ela nos jornais – algumas delas não eram verdade. Ela era uma jovem mulher experimentando”, disse West à EW. Ele diz que nomes como Catherine Zeta-Jones, Ashley Judd e Jennifer Lopez foram cogitados para o papel, mas ninguém via a personagem como outra atriz além de Jolie – graças ao seu estilo ‘danado’ – e todo o processo de caracterização “nunca chegou a realizar testes de elenco ou nivelamento”, mas demorou um pouco para considerar Jolie.
“Ela tinha uma ótima e obscura reputação sobre ela”, ele se lembra, se referindo à imagem inortodoxa de Jolie na época, que incluía usar um pingente que continha o sangue de seu marido na época, Billy Bob Thornton, e causar furor ao beijar o irmão na boca na noite em que ganhou seu primeiro Oscar em 2000. “Ela vivia um estilo de vida diferente e não se preocupava com o que falava. Ela falava o que pensava e tinha uma reputação notória. Foi meio difícil, para mim, conseguir com que ela passasse pelo processo de aprovação da produtora, porque eu queria uma atriz que fosse trazer algo ao papel e ela trouxe essa fantástica mitologia de Angelina Jolie como essa obscura, louca, fantástica mulher com uma personalidade única e interessante. Eu queria que aquela mitologia de Angelina Jolie se fundisse à de Lara Croft.”
Uma fonte conta à EW que a produtora nunca contatou [Jennifer] Lopez para o filme, enquanto um representante de [Catherine] Zeta-Jones deu a entender que a Paramount não chegou a realizar reuniões oficiais com a atriz sobre o papel. A equipe de [Ashley] Judd também não tinha informações sobre o elenco de “Lara Croft: Tomb Raider”, e mesmo a pedido da EW, a Paramount não teve acesso imediato aos detalhes das seleções de elencos para o filme.
Quando o primeiro filme foi lançado, atores que não haviam sido testados antes de serem escolhidos, como Paul Walker e Vin Diesel, foram encarregados de fazer as produtoras conseguirem sucesso com filmes como “Velozes e Furiosos” (2001) e “Triplo X” (2002), mas o fato de que Angelina Jolie já ter um Oscar por atriz coadjuvante em “Garota, Interrompida” na época (mais 3 Globos de Ouro) a favorecia para ser cogitada para o papel, e criou uma reputação para ela como uma atriz crível. Isso, de acordo com West, não fazia muita diferença para a produtora que pretendia gastar $115 milhões de dólares para fazer o primeiro filme de “Tomb Raider”.
“Ninguém tinha problemas com relação às habilidades de atuação dela, a capacidade de atingir a audiência do público geral era a preocupação da produtora. O filme que ela ganhou o Oscar teve um investimento minúsculo perto do que eles queriam gastar com “Tomb Raider”, então eram riscos a serem feitos. Como em qualquer negócio, eles queriam mais seguranças e garantias possíveis, e [eles se sentiriam mais seguros] com outra pessoa no lugar”, diz ele à EW. No final das contas, escolher Jolie permitiu que ele mostrasse à produtora que a personagem seria muito mais forte nas mãos da atriz. Assim, ele começou a moldar Croft e o roteiro do filme para combinar com as forças de Jolie, para assim, nascer uma Lara Croft estilosa que condizia mais com a visão de West.
“Angelina veio até mim após nós a escolhermos e nós estávamos conversando sobre a personagem ser uma aristocrata britânica. Ela me disse, ‘Então eu deveria ter aulas de etiqueta, não acha? Eu deveria aprender como comer e como segurar uma xícara?’ e eu disse ‘Não! De jeito nenhum!”, diz West. “A primeira coisa que eu quis fazer era ter certeza de que Lara não teria a cara de uma pessoa rica e mimada. [Esses tipos] que colocam seus pés na mesa, que fazem de tudo para tirar esse mito de que são princesinhas que devem se comportar como princesas. Esse foi um dos primeiros aspectos da personagem: ela está tentando se libertar de todas as coisas ao seu redor – dinheiro, oportunidades – e ela está tentando provar que é uma pessoa capaz, que é uma mulher. Ela pode sair e fazer exploração, aventura, roubo e arrombamentos, tão monstruosamente quando um homem pode.”
Para aprimorar seu foco nas complexidades de Croft como personagem, West diz que ele tentou se concentrar na proatividade e proezas de Lara, contra sua fisicalidade.
“Havia, definitivamente, uma [noção] de que a Lara Croft dos jogos era superficial e visualmente agradável, mas no filme, me concentrei em mostrá-la como uma pessoa real. Todas as conversas que tínhamos sobre ela eram do tipo, ‘Como ela está se sentido, por que ela está fazendo isso, ela é capaz de fazer isso?”, explica West. “[Sexualizar ela] provavelmente seria o fim deste filme e da personagem, e se tivesse sido mais “mamão-com-açúcar” ao invés de atrevido e forte, talvez não tivessem levado tão a sério. Nós falamos sobre a personagem tão seriamente quanto qualquer outro personagem de um drama. Não tínhamos que ceder para qualquer coisa superficial que as pessoas estavam esperando. Quando você se senta numa sala de cinema para assistir um filme, você tem que ‘comprar’ o personagem como uma pessoa real ao invés de ficar se perguntando se ela está igualzinha a do jogo.”
Isso também significava correr o risco de remover qualquer traço de interesse romântico de Croft – um passo corajoso para um filme desse tipo, independentemente do gênero do personagem.
“Eu nunca considerei ela ter um interesse romântico no filme, porque nós estávamos tentando estabilizá-la como uma exemplo de ação-aventura para garotas. Acho que foi isso que Angelina se interessou: ser um exemplo”, diz West, reconhecendo que o filme teve um papel importante na origem dos trabalhos humanitários de Jolie; ela se tornou Embaixadora da Boa Vontade da ONU ao viajar para o Camboja em 2001 e depois adotou seu filho, Maddox, também do país, após terminar de filmar “Tomb Raider” no território.
West continua: “De algum jeito, o filme a inspirou para o resto de sua vida também, de que ela podia ser um exemplo. Ela foi fazer coisas maravilhosas de caridade e eventos mundiais. Foi inspirador para ela e ela queria inspirar as garotas.”
Apesar de “Tomb Raider” arrecadar $131 milhões apenas no território norte americano (fato que abriu portas para filmes de ação com personagens principais femininas), uma continuação do filme foi lançada em 2003, inspirando parques de diversão da Paramount ao redor do mundo e começando um novo capítulo na vida de Jolie tanto como ativista humanitária quanto como uma das maiores atrizes que lucram em bilheteria; o filme não afetou Hollywood como West imaginou que faria.
“Na época, a produtora estava incrivelmente nervosa com o resultado que poderia ter sido gerado. Eu fiquei surpreso por ter demorado tanto [para outros filmes de ação com personagens principais femininas aparecessem], porque eu achei que dois ou três anos depois, teriam 10 filmes do tipo lucrando com seu sucesso”, ele diz. “Mas é demais ver como as coisas funcionam lentamente. E finalmente “Jogos Vorazes” e ‘Mulher-Maravilha’ estouraram!”.
Artigo escrito por Joey Nolfi
Traduzido por Guilherme Leite
O filme da franquia, desta vez estrelado pela atriz sueca Alicia Vikander, será lançado nos cinemas nesta quinta-feira, dia 15 de Março de 2018. Desta vez, Lara não será uma arqueóloga especializada em sobrevivência, mas sim uma jovem de 21 anos que, ao mesmo tempo que quer encontrar seu lugar no mundo, está em busca de seu pai, desaparecido há sete anos. A ideia da Warner Bros., segundo o produtor Graham King, foi fazer “um filme que prestasse homenagem ao game”, mas que ao mesmo tempo trouxesse algo para os que ainda não conhecem a franquia. Assista o trailer oficial do filme abaixo:
Fonte: Entertainment Weekly | IGN Brasil
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