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Angelina Jolie é capa da revista espanhola, “Yo Dona”

12 de março de 2016

Angelina Jolie não é nem um pouco “Malévola”. Quase sem maquiagem, mas vestida completamente de preto, a atriz parece muito mais acessível e mortal do que poderia se esperar. Ela te olha (ou te deslumbra) diretamente nos olhos, seus lábios não são tão grossos e o que se destaca é a magreza de seus braços, enquanto ela conversa abertamente em um escuro sofá de uma suíte de luxo em um Hotel de Londres. Estamos aqui para conversar sobre “À Beira Mar”, o filme em que, pela primeira vez, ela dirigiu a si mesma e também seu marido, o ator Brad Pitt, em uma espécie de batalha emocional, a qual apenas alguns casais sobreviveriam. Já com cumpridos 40 anos de idade, Angelina confirma, no entanto, que os dois saíram “fortalecidos” desta experiência, enquanto desfrutavam das águas maltesas que, isso sim, os obrigou a examinar seu próprio relacionamento depois de uma longa década.

“À Beira Mar” aborda uma turbulenta relação de um casal que se encontra a beira de um precipício. Você não teve medo disso influenciar sua vida real?

Com certeza, essa preocupação sempre esteve com a gente. Mais de uma vez nós pensamos neste risco e nos perguntamos se era uma péssima ideia… Mas nós preferimos ser corajosos e tentar. E no final, saímos mais fortalecidos desta experiencia. Eu diria que estamos ainda mais próximos depois de termos nos aproximado de um precipício no filme. Qualquer projeto de trabalho entre marido e mulher te afeta, e mais ainda se isso te obriga a examinar sua própria relação. Você tem que estar preparada de alguma maneira, mesmo que sempre exista um traço de incerteza. Nós mesmos não sabíamos pelo o que íamos passar.

“O que não mata, fortalece”. Este ainda é seu lema?

Absolutamente. Eu penso que nesta vida você tem que enfrentar tudo aquilo que te assusta. Dê a cara a bater. Se você faz apenas coisas fáceis e permanece sempre em sua zona de conforto, você não progride. A vida é feita de desafios e nós precisamos deles para crescer. Enfrentar seus medos… Essa é a única maneira de progredir e avançar como pessoa.

De qualquer forma, a gravação deste filme deve ter sido uma experiência radicalmente diferente de “Sr. & Sra. Smith”, seu primeiro filme com Brad Pitt.

Nós eramos muito jovens e não nos conhecíamos. Foi uma gravação muito divertida e aquele era um filme radicalmente diferente, para atingir um grande público. “À Beira Mar” é um caso de arte e ensaio, na qual eu pretendo capturar a atmosfera do cinema europeu do qual sempre gostei. E os nossos personagens são muito diferentes de nós mesmos. Brad interpreta um escritor alcoólatra e eu interpreto uma ex-bailarina depressiva e frustrada por razões a descobrir. E, além disso, no filme os dois não possuem filhos. Nós não poderíamos ser mais diferentes.

Mas as brigas no filme parecem muito reais.

Bem, em todos os relacionamentos existem brigas. Nós também temos temos dias bons e ruins, não somos o casal perfeito. Mas nossos problemas não tem nada a ver com os problemas de Roland e Vanessa, felizmente.

Você se preocupa com a percepção que as pessoas possam ter sobre seu relacionamento com Brad Pitt?

Não é algo que me preocupa. São tantos boatos que é absurdo tentar desmenti-los.

E o fato de gravar em Malta, em plena lua de mel ao lado dos filhos (seis), também fazia parte do roteiro?

Não estava previsto, mas conseguimos fazer tudo se encaixar. A pior parte desta profissão é pelo grande tempo que você passa longe da sua família. Dessa forma, foi um luxo poder ter minha família próxima e ter a possibilidade de “trocar de papéis” no final do dia, mesmo que muitas das cenas nós tenhamos gravado a noite.

O que você pode dizer sobre o duplo papel de atriz e diretora? Como foi dirigir a Angelina Jolie?

Foi uma experiência terrível! Eu não desejo isso a ninguém, e acredito que não voltarei a fazê-la. Era algo como usar vários chapéus ao mesmo tempo. Minha personagem no filme é uma mulher destruída e que passa quase todo o tempo chorando. E ao mesmo tempo eu tinha que mudar de postura e interpretar uma personagem forte e controladora, como deve ser uma diretora. Tive que tomar decisões como a de gravar ou não, a cena da banheira, com seu marido na ficção e na vida real do outro lado da porta, e os câmeras esperando instruções…Enfim, uma bagunça!

Como uma escritora e diretora, você poderia ter cortado a cena na qual aparece nua. Por que você decidiu mantê-la?

O roteiro do filme foi escrito antes da minha cirurgia [no ano de 2013, Jolie se submeteu a uma dupla mastectomia, após descobrir que possuía 85% de chances de desenvolver câncer de mama]. Algumas vezes eu pensei em retirá-la, mas em outros momentos eu achava que devia fazê-la. Eu acho que é importante não ter medo nem de se sentir menos mulher por ter feito uma mastectomia. Seus seis podem parecer diferentes, mas você continua sendo a mesma pessoa.

Como e quando você escreveu “À Beira Mar”? Por que você decidiu interpretá-lo?

A primeira ideia surgiu há uns três anos. Eu ainda estava afetada com a morte da minha mãe, com quem eu sempre fui muito unida [Marcheline Bertrand faleceu em 2007 devido a um câncer de ovário]. Tudo começou com uma reflexão sobre uma perda pessoal, como um exercício particular, quase um experimento. Eu nunca pensei que isso acabaria realmente se tornando um filme, e que eu mostraria o roteiro para Brad. Eu, muito menos, escrevi o roteiro pensando em nós. A decisão de fazer o filme foi tomada certo diz de maneira muito menos premeditada, quando conversávamos de voltar a trabalhar em algum projeto juntos. Queríamos fazer algo com liberdade artística e decidimos nos arriscar com esta ideia.

Como diretora, foi uma grande mudança depois de dirigir “Na Terra de Amor e Ódio” e “Invencível”. Na verdade, é o primeiro filme que você dirige que não se passa durante a guerra.

É verdade, “À Beira Mar” parece um parêntese na minha carreira como diretora. Nunca antes eu tinha explorado um conflito estritamente pessoal, e de fato, em meu próximo filme, eu volto ao tema bélico. Será uma adaptação do livro “First They Killed My Father: A Daughter of Cambodia Remembers”, que foi escrito com as memórias de Loung Ung sobre as atrocidades praticadas no Camboja pelo Khmer Vermelho. Estou fazendo este filme em parceria com a Netflix e meu filho Maddox participa da produção. Para ele, que nasceu no Camboja, é muito importante conhecer essa parte da história.

Por que essa obsessão com a guerra?

Porque nos conflitos bélicos existe sempre uma dimensão humana que na maioria das casos, nos escapa. Os meios de comunicação focam, geralmente, apenas nos bombardeios e na frieza dos números. Raramente nós ficamos sabendo da tragédia que está por trás das vítimas, que são pessoas de carne e osso assim como nós.

Como você vê o que está acontecendo na Síria?

É o grande fracasso da diplomacia mundial do século XXI. Deve-se fazer tudo o possível para interromper esta guerra atroz que já dura muitos anos e que, inclusive, pode se tornar um conflito de escala global. Deve-se redobrar os esforços políticos e diplomáticos e evitar que esse desastre humano se prolongue mais. Infelizmente, existem muitos interesses em pauta para a comunidade internacional. Por um ponto final neste drama é o desafio de nosso tempo.

E, como Enviada Especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o que você acha da atitude da Europa?

Chegamos a um ponto crítico. A barragem quebrou, e eu não sei se todos os países europeus estão cientes do que está acontecendo. Espero que surjam novos líderes com clareza suficiente e propósito de tomar frente nesta crise humanitária. Angela Markel demonstrou essa visão em momentos críticos, mas não sei se a Europa tem clara dimensão do problema. Em todo o mundo existem mais de 60 milhões de refugiados. E o que está acontecendo na Síria é, talvez, o maior êxodo em massa desde a Segunda Guerra Mundial. Esta situação se desenvolveu ao longo da última década. Eu mesma pude comprovar, durante as minhas visitas aos campos de refugiados, e mais de 40 países. Chegamos a um nível de destruição sem precedentes. A ONU não possui condições suficientes para garantir a comida a milhões de refugiados este ano. Nunca existiu um momento na história moderna que as necessidades sejam tão grandes e os recursos sejam tão escassos.

Como você combina seu trabalho de cineasta com o de ativista? Da onde você tira tempo e energia?

Para mim, são dois lados da mesma moeda. E assim como faço no meu trabalho, eu procuro envolver minha família. Brad me apoia totalmente. Meus filhos me acompanharam algumas vezes aos campos de refugiados e sabem o que isso significa para mim. Estes três últimos anos foram especialmente críticos para o meu desempenho, mas minha energia não acabou e espero não falhar agora que fiz 40 anos. Eu assumo o envelhecimento como algo natural.

Você gostaria de ser lembrada como diretora, atriz ou como ativista?

Como diretora, e é assim que eu vou concentrar meus esforços a partir de agora. Como atriz, as pessoas não me conhecem muito. Eu quero ir mais longe, quero me conectar com o público e fazer filmes que realmente me interessam e transmitam uma mensagem poderosa.

Por que existem tão poucas diretoras no cinema? Quando podermos ver algumas candidatas competindo ao mesmo tempo nos Oscars?

Já somos algumas. mas nossa eterna referência continua a ser Jane Campion. Eu acho que as coisas estão mudando em Hollywood, embora em uma velocidade mais lenta do que gostaríamos. O sexismo existe, mas também temos que assumir nossa responsabilidade. As mulheres devem confiar mais umas nas outras e devemos ser corajosas. É imprescindível que nos atrevemos a contar o nosso lado da história.

Entrevista por Carlos Fresneda, Yo Dona.

Angie também está na capa da revista italiana, “Sette”, a qual traz um artigo sobre o filme “Kung Fu Panda 3”. Confira as scans:

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