Jolie e Pitt estão em crise, mas só em “À Beira Mar”
13 de novembro de 2015
CALIFÓRNIA – Durante as filmagens de “By the Sea” (À Beira Mar), Angelina Jolie Pitt e Brad Pitt – respectivamente no papel de uma ex-bailarina depressiva e de seu marido escritor romancista com bloqueio de inspiração – usaram um método específico para iluminar o clima muitas vezes sombrio no set. “Correm várias piadas sobre o fato de que ninguém jamais vai querer ser nosso vizinho de quarto novamente”, disse Angelina, referindo-se aos seus personagens que, frequentemente, espiam por um buraco na parede, dois amantes que estão no quarto de hotel ao lado do seu.
“À Beira Mar”, previsto para estrear no Brasil em 5 de dezembro, foi escrito, produzido e dirigido por Angelina e é a primeira vez em que ela e Brad atuam juntos num filme, depois do longa de 2005, “Sr. e Sra. Smith”. Deixando de lado as possíveis armadilhas que poderiam surgir ao dirigir o cônjuge na vida real, o filme é arriscado de várias outras maneiras. Ambientado numa cidadezinha do litoral da França, o longa se inspirou nos filmes de arte europeus dos anos 1960 e 1970 e conta a história da implosão do casamento de um casal americano.
Numa suíte do Hotel Four Seasons, Angelina, 40, cujo último filme como diretora foi uma história de sobrevivência, “Invencível”, da 2.ª Guerra, parecia otimista a respeito disso tudo – desde a análise do “fato ou ficção” que “À Beira Mar” poderá causar à possível recepção crítica do que ela chamou de “escolha corajosa”. E acrescentou: “Sei que algumas pessoas vão odiá-lo. Outras, adorarão, mas foi importante voltar a me sentir uma artista.”
No pulso direito, ela usava uma pulseira vermelha feita com linha adquirida em uma recente viagem ao Camboja, além disso, uma tatuagem aparecia na manga esquerda do seu vestido bege. Espontânea, engajada, ela falou da influência fundamental do fato de ter os seis filhos com ela no local das gravações e da implicação de Brad com o francês. “Quando estávamos gravando, ele às vezes dizia: ‘Parece que você me deu dez vezes mais diálogos em francês do que para você mesma'”, contou rindo.
Confira abaixo alguns trechos da conversa.
Seu primeiro filme exigiu muita pesquisa. Como se preparou para este drama matrimonial dos anos de 1970?
O fato do filme ser ambientado na França ajudou, então nós nos concentramos na cultura e na época em que se passa a história. Mas sou exatamente eu numa página em branco, minha dor, meu eu. Foi uma experiência muito estranha – e acho que não a farei com tanta frequência. (Ri) Eu casei um pouco antes. Talvez esse fosse meu estudo.
Na época do casamento, você já estava com Brad há cerca de nove anos. O fato de oficializar a união mudou alguma coisa?
Foi uma coisa muito boa. O grande momento foi quando assinei os papéis com o Brad (da adoção conjunta) de Maddox e Zahara. Foi uma decisão dos dois juntos em comprometer-se a fazer parte da vida do outro pelo resto da vida. Portanto (o casamento), não estava em pauta. De certa maneira, foi bastante casual.
Casual?
A cerimônia foi na França, mas tivemos de fazer os trâmites legais na Califórnia. Um dia, um dos nossos assistentes disse: ‘Vocês precisam assinar alguns papéis’. E entre uma reunião e outra nos disseram: ‘Aqui está a certidão de vocês’. Então alguém falou: ‘O juiz está aí fora’. Nós dissemos: ‘Como assim, o juiz está aí fora’? O juiz entrou e a certa altura, Brad perguntou: ‘A gente precisa se levantar?’. O juiz respondeu: ‘Não’. De repente, percebemos que estávamos casados, do modo mais informal possível.
E pouco tempo depois, vocês estavam em Malta para filmar um relacionamento em crise. Esta é sua ideia de lua de mel?
Bom, tecnicamente era uma lua de mel. Alguns dias depois do início das filmagens pensei: É uma péssima ideia. O que eu estava pensando? Isto vai nos destruir antes mesmo de a gente começar. Mas na época em que terminamos de gravar o filme, tínhamos conversado e tivemos dias ótimos, também tivemos dias ruins e tudo mais, mas tínhamos chegado ao fim. Aprendemos alguma coisa a respeito um do outro, descobrimos um novo relacionamento de trabalho e passamos a gostar da ideia. As coisas ficam ruins, mas, dessa forma, a gente consegue trabalhar o problema.
Quando você releu o roteiro do seu filme – que a princípio, não tinha intenção de interpretar – como foi quando você se deu conta de que seria a atriz principal e enfrentaria dura provas emocionais?
Houve uma série de cenas que eu quis mudar ou cortar. Percebi que quem estaria nua na banheira seria eu. Mas me peguei pensando: ‘Deixa disso, você pode mudar ou cortar esta cena porque fez uma mastectomia, ou porque vocês estão casados e as pessoas vão analisar isto ou aquilo’. Mas me dei conta de que isto seria uma espécie de trapaça.
Fale do desafio de dirigir e representar no mesmo filme.
Como diretora, eu tinha que ser muito segura. Minha personagem? Ela não conseguiria dirigir nada. Ela é uma bagunça. A dualidade – ser diretora e depois precisar interpretar o papel de uma pessoa tão vulnerável – muitas vezes foi difícil. Há uma cena toda em que eu grito: Corta! Em outra, eu estou berrando histericamente e gritando corta. Tem também uma cena de sexo em que grito corta para Brad. Apesar de tudo, eu acabei rindo, foi muito engraçado.
São tão poucas as mulheres diretoras em Hollywood que, recentemente, uma investigação federal quis saber se se tratava de uma discriminação de gênero na indústria. Entretanto, muitas vezes você deu a impressão de resistir à ideia de falar sobre o que é fazer parte de um grupo tão pequeno. Por que?
Às vezes, as pessoas que estão neste negócio só se preocupam com o fato de que você pertence a uma minoria. Eu não quero que as pessoas digam: ‘Será que precisamos de uma diretora mulher?’. Eu quero ouvir: ‘Deveríamos ter um grande diretor para este filme?’. Entretanto, sou a primeira mulher diretora com a qual Brad já trabalhou. Não parece certo, se a gente refletir sobre isso.
Concordo.
O sexismo está em todos os setores e deve ser discutido. Quero dar apoio a outras mulheres por causa das oportunidades que tive – e foram muitas. Como diretora, tento fazer o melhor possível e, ao mesmo tempo, chamar a atenção para o máximo de mulheres diretoras e escritoras. Neste momento, estou produzindo “The Breadwinner” (“A Outra Face”), filme de animação sobre o Afeganistão (que terá Nora Twomey como diretora).
O que você acha da primeira experiência de trabalho de Brad com uma diretora?
Não sou apenas uma mulher, mas uma escritora e diretora. Nós somos também marido e mulher. Acho que foi duas vezes mais difícil, pois sabemos de certas coisas a respeito um do outro. De início, foi um pouco desconfortável. Você quer ser cuidadosa com o que faz e com o que não faz. Ao mesmo tempo, posteriormente ele me disse que sentiu que podia ser o mais aberto possível em sua atuação, porque sabia que eu estaria lá para ajudá-lo a fazer sua melhor interpretação.
No meio de tudo isso, você tinha filhos para pôr na cama à noite, um deles adolescente, Maddox, que estava trabalhando como faz tudo num filme que não é exatamente para crianças da idade dele.
Ele ficava nas cenas mais leves, mas tínhamos como norma que, em certas cenas ele não ficaria no set. Eu cresci neste ambiente e, por isso, deveria até me sentir mais feliz se as crianças não se interessassem, mas ele adorou.
Vamos falar dos e-mails hackeados dos executivos da Sony divulgados em 2014. Ficou surpresa quando leu a conversa a seu respeito entre a ex-codiretora da Sony, Amy Pascal, e o produtor, Scott Rudin?
Não li nada sobre aquilo.
Mas ficou sabendo do conteúdo.
Alguém me contou. Há certas coisas que me aborrecem. Os ataques pessoais? Estou acostumada com isso. Honestamente, meu primeiro instinto foi ficar preocupada com Amy. Queria saber se ela estava bem. Não que eu seja santa, mas porque acho que nós precisamos ter em mente todo o contexto. Ela tem filhos. Sabia que seria um problema para ela.
Voltando à realização de filmes, você já sonhou em voltar a um trabalho menos sério, como a comédia romântica?
Adoro comédias. Mas nunca me pediram para fazer algo do gênero. Tentei fazer comédia quando era mais jovem. Não funcionou. Não me considero muito engraçada.
Em “À Beira Mar”, há muita gritaria, choro, bebida e até pontapés. Você se importa que o público veja o filme e dê demasiada importância a ele?
Se as pessoas quiserem achar que temos brigas terríveis, inseguranças e que ficamos deprimidos e emotivos, elas tem toda razão, já que é claro que isso é verdade. Brad e eu somos duas pessoas muito humanas e com defeitos. Acho que isso é uma boa coisa para mostrar.
Entrevista por Margy Rochlin
Fonte: Estadão
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