Na última quinta-feira, dia 13 de Fevereiro de 2025, o website oficial do renomado jornal espanhol, “El Mundo“, compartilhou uma entrevista exclusiva com nossa musa inspiradora – Angelina Jolie, através da qual a atriz falou sobre seu novo filme, “Maria Callas. Confira a matéria completa abaixo, traduzida pelo Angelina Jolie Brasil.
Por Luca Mastrantonio
Maria Callas era o rouxinol sublime que Aristóteles Onassis queria trancar em uma gaiola dourada. Ela também era uma tigresa indomável.
Maria era a nêmesis de “La Callas”, foi a semideusa e a mulher, a filha estuprada, a mãe fracassada, a criatura muito humana dotada de um dom heróico, e de uma voz que lhe escapava pelas mãos. Sua perda anunciou o fim. “Maria Callas”, o filme dirigido por Pablo Larraín, conta a história dos últimos dias de Maria Callas em Paris ao lado de seus dois funcionários de confiança (interpretados por Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher), seus cães e um jovem entrevistador que brinca, como se fosse um gato com uma bola de lã, com as memórias que a personagem de Callas desenrola e rola, emaranha e corta.
Memórias vívidas, sonhos desfeitos, alegrias e arrependimentos de uma vida vivida para a ópera e marcada pelo desejo de ser amada. Amada, sobretudo, por Aristóteles Onassis, um magnata irresistível e um homem possessivo. São essas as ideias em torno das quais gira a interpretação de Angelina Jolie, retratando Maria Callas de corpo e alma, em seu físico atormentado, em sua voz inexplicável, em seus olhos colados nas grossas lentes de seus óculos, como peixes em uma bola de cristal.
A nível pessoal, com qual aspecto de Maria Callas você mais se identificou?
O que mais me envolveu foi o seu amor pelo seu trabalho; ela levava a música muito a sério. Ela era extremamente disciplinada em seu ofício. Eu também sou uma pessoa muito trabalhadora. E, em um nível pessoal, também conheço a solidão de ser alguém que luta consigo mesma. Alguns podem pensar que é por meio da arte que somos compreendidas mais profundamente pelos outros, mas a realidade é que passamos muito tempo nos sentindo sozinhas.
O que você narra, parece uma variação da síndrome do impostor. Mas no caso de Maria Callas pode ter sido mais uma ideia obsessiva da perfeição.
Para ela foi assim, sim. Não é o meu caso. Ela e eu fomos criadas de formas muito diferentes. Eu tive sorte de ter uma mãe que me criou para sentir que, se eu não fosse perfeita em alguma coisa, ela me amaria de qualquer jeito, com todos os meus defeitos. Minha mãe era gentil e calorosa. A mãe de Maria Callas era completamente o oposto. Acho que desde pequena Maria foi informada de que ela não valeria nada se não fosse perfeita. Ter a presença perfeita, emitir um som perfeito, construir uma voz perfeita, um corpo perfeito, uma aparência perfeita… Ela nunca sentiu que o que fazia era suficiente. Ela viveu sua vida e sua obra sob dolorosa pressão. A verdadeira família de Maria Callas, no filme, é aquela que lhe é oferecida por seus dois funcionários. Bruna e Ferruccio. Ferruccio é como se fosse um amigo de confiança, mas não um confidente, um pouco marido e um pouco pai, mas sem intimidade ou autoridade. Com Bruna há mais cumplicidade e espontaneidade. As duas personagens compartilham uma cena na cozinha da casa. Maria canta e pede a Bruna um julgamento crítico sincero.
Você teve, talvez no começo da sua carreira, alguém como a Bruna? Uma pessoa em cujo julgamento você confiava totalmente? Não porque ela era uma especialista, mas porque ela realmente sabia ouvir.
Minha mãe era essa pessoa. Ela queria ter sido atriz e havia desejado isso intensamente. E acho que foi por isso que me tornei atriz. Não era tanto o meu sonho, mas sim o dela, algo que ela não conseguiu realizar. Aos 25 anos, ela se divorciou do meu pai e ficou com dois filhos pequenos. Então ela adaptou sua vida ao que tinha. Ela adorava passar muito tempo comigo, conversando sobre teatro, me levando para assistir peças, falando sobre o processo criativo… Minha mãe estudou com Lee Strasberg e era uma artista maravilhosa, mas nunca teve a oportunidade de viver uma vida artística.
Você, por outro lado, conseguiu. Você se lembra de um momento em que sua mãe percebeu que sua carreira estava decolando?
Não sei se houve um momento específico, mas acho que ela ficou feliz comigo e por mim. E era isso que importava. Passei boa parte do início da minha carreira pensando em fazê-la feliz. Era como se ela estivesse respirando através de mim e estivesse feliz em me ver. Eu acreditava que viver como artista era uma das melhores vidas que alguém poderia ter, viver com criatividade.
Existe algum filme seu que tenha causado impacto nela? Talvez Garota, Interrompida, um dos primeiros.
Não há nenhum em particular, minha mãe morreu há vários anos, ela só viu o começo do meu trabalho. E o engraçado é que ela me disse que colocava meus filmes só para ouvir minha voz em casa.
Um pouco parecido como Maria Callas, que no filme coloca seus próprios discos para ouvir sua voz novamente…
Sim, de certa forma, como se eu fosse uma cantora.
Falando em conexões: no filme sentimos Aristóteles Onassis como um homem cujo magnetismo é irresistível para Maria Callas. Onassis é o homem que podia ter tudo o que quer. Era o seu grande amor. Mas ele também representava o risco de acabar trancada numa gaiola dourada. Você já conheceu um homem como Onassis?
Acho que nunca conheci um homem que me fez sentir do jeito que ela se sentiu com Onassis. Minha relação com os homens é… não sei. Nos últimos anos, tenho estado sozinha há muito tempo. É até estranho pensar nisso. Mas se deixarmos de lado as complexidades de Onassis, posso dizer que gosto de homens que têm esse nível de masculinidade. Onassis fez Maria sentir que poderia ser uma criança, que ela poderia ser terna, até mesmo pequena, porque ela tinha uma presença muito forte ao seu lado. Maria gostava daquela doçura, ela não via Onassis como uma gaiola, mas como alguém que lhe permitia se expressar. E tenho certeza de que ela gostava de sexo, ela gostava de ser mulher. E provavelmente foi preciso um tipo especial de homem para fazê-la se sentir assim.
No filme, Maria queima suas roupas de palco para romper com o passado. O que você queimaria?
Nada. Não sou de me apegar às coisas. Meus filhos zombam de mim porque eu dou muitas coisas. Costumo ter caixas cheias de coisas esperando para serem doadas. Meu armário é pequeno. Eu não tenho esse apego, não quero ser possuída pelas coisas. Enquanto meus filhos estiverem ao meu lado, nada importa. Se alguém me perguntar: “Se sua casa pegasse fogo, o que você levaria?”, eu respondo: meu passaporte. A liberdade de movimento é a verdadeira liberdade para mim.

• Fonte: El Mundo
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