No dia 19 de Dezembro de 2024, a revista “Vanity Fair” compartilhou em seu website oficial uma entrevista exclusiva com nossa musa inspiradora – Angelina Jolie. Confira a matéria completa abaixo, traduzida na íntegra pelo Angelina Jolie Brasil! Agradecimentos especiais à professora de inglês, Juliana Galdi.
Por David Canfield
Atualmente, Angelina Jolie está abraçando um território desconhecido. Ela se destacou como o ícone da ópera, Maria Callas, no elegante filme biográfico dirigido por Pablo Larraín, para o qual ela passou meses fazendo aulas intensivas de canto.
Depois de ter corrido por Los Angeles enquanto divulgava o filme — ela foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Award na semana passada — agora ela já se encontra trabalhando em seu próximo filme. Ela se conecta comigo através do “Zoom”, de Paris, durante uma pausa na produção de “Stitches”, um drama independente escrito e dirigido por Alice Winocour. Neste projeto, Jolie interpreta uma cineasta americana – o que pode soar como um território relativamente familiar. Mas, novamente, ela foi incumbida de fazer algo que nunca fez antes: desempenhar um papel principalmente em francês.
“Eu não sou fluente — falo um pouco, mas… dar significado para cada palavra e fazer uma performance exige um tipo diferente de entendimento sobre o que estou dizendo, ser emocional e não pensar na linguagem”, ela diz. “Este é um desafio diferente.”
Até fazer “Maria”, Jolie não havia filmado um filme independente desde bem antes da pandemia. Então é uma surpresa vê-la voltar para outro filme dramaticamente complexo e dirigido por um artista; já faz mais de uma década desde que ela trabalhou com essa intensidade e rigor como atriz. Jolie reconhece isso — no ano passado, ela se sentiu diferente, re-energizada, disposta e ansiosa para mais uma vez assumir os tipos de riscos artísticos que, no começo, definiram sua ascensão como artista, em filmes como “Gia” e “Garota, Interrompida”.
Já se passaram quase 25 anos desde a estreia deste último filme, que rendeu a Jolie um Oscar e a colocou no caminho do estrelato, algo acompanhado pelo o que ela chama de sua tendência de se afastar do olhar curioso da indústria — e do público.
“Maria” acompanha Callas nos últimos e solitários dias de sua vida, e esse quadro melancólico, deu a Jolie o espaço para entregar uma performance profundamente vulnerável. O papel exigiu que ela olhasse para dentro, como poucos trabalhos ultimamente exigiram, e ela ainda está compreendendo sobre como essa experiência a impactou — e o que ela quer dizer sobre isso. Mas ela se sente pronta para seguir em frente, e talvez também descubra por que levou alguns anos para “ficar viva novamente”.
Vanity Fair: Você disse que fazer “Maria” te fez lembrar do que significa ser uma artista. Você pode falar mais sobre isso — com o que você sente que entrou em contato novamente?
Angelina Jolie: “Eu não tenho sido eu mesma há um tempo, então não pude me dedicar tanto ao trabalho durante alguns anos. Sentir que poderia trabalhar novamente, me comunicar e estar com pessoas legais — muito do que faço é em colaboração com outros artistas. Quando tudo dá certo, acabamos criando juntos. Quando você está com pessoas legais e criativas, você aprende muito sobre si mesma e sobre a vida. Você se sente em um lugar seguro para brincar e se arriscar. Eu tive isso com Pablo e não acho que seja por acaso que eu tenha encontrado outra situação dessa em “Stitches”, que é muito parecida e com pessoas muito bem-intencionadas e atenciosas. Eu estava conversando com Louis Garrel, um maravilhoso ator francês, sobre nossas cenas e nosso trabalho. Eu também conversei com Alice [Winocour] esta manhã sobre a vida e a saúde das mulheres, temas que fazem parte do filme. A arte, para o público ou para o artista, pode realmente ser muito curativa e nos fazer crescer. É para isso que todos nós estamos vivos — para descobrir, sentir, criar e conectar. Sem isso, estamos apenas dificilmente existindo.”
Tem sido uma grande parte da sua vida há tanto tempo. Imagino que tenha sido muito significativo sentir isso de novo.
“Realmente foi. Provavelmente mais do que eu consigo expressar. Se ninguém recepciona sua arte ou se você não consegue se conectar, é como gritar no escuro. Significa muito que as pessoas tenham reagido a “Maria”. Sempre senti, desde muito jovem, que o cinema tem sido uma forma de me comunicar com o mundo e de não me sentir tão sozinha. Estamos todos passando por essa condição humana e por essa vida. Então é muito, muito curativo poder fazer parte desses filmes, falar com vocês sobre isso e viver dessa forma. E eu senti falta disso. Percebi que realmente sentia falta disso. Sentia falta de ser uma artista.
Quando você diz que sentiu falta, como foi passar por esse período em que você não sentiu tanto isso?
“Fiquei muito sombria por razões que prefiro não explicar, mas não tinha muita luz e vida dentro de mim. É como se sua luz se apagasse. Eu também precisava ficar mais em casa, então não conseguia me comprometer com grandes períodos de tempo. Escolher no que trabalhar e quando trabalhar não era uma escolha criativa, em muitas das vezes. Nos últimos anos, às vezes era a escolha prática. Realmente, acho que “Maria” foi o começo de ficar viva novamente. Eu precisava de muitas pessoas gentis ao meu redor para segurar minha mão.”
A ênfase em pessoas legais…
“Sei que digo isso com muita frequência, mas nosso ramo pode ser muitas coisas. No final do dia, temos muita sorte de fazer o que fazemos, mas gastamos muito tempo com sentimentos grandes, profundos e emotivos. Se você não fizer isso com pessoas com quem você se sente segura, isso pode te afetar de maneiras muito ruins.”
Parece algo que você aprendeu com o tempo.
“Ah, com certeza. Todos nós já convivemos com pessoas horríveis em nossas vidas, com as quais é difícil fazer seu trabalho porque você se sente emocionalmente vulnerável e então você sente que está sendo usada da maneira errada. Com muitos artistas, nós somos meio crus. É por isso que às vezes parecemos um pouco loucos. Parte do que fazemos é não nos sentirmos confortáveis. É sentir profundamente, explorar e ir a lugares estranhos em nossa mente e em nosso corpo. Se você for livre para fazer isso, essas coisas maravilhosas podem acontecer. Mas, às vezes, você pode ser uma pessoa muito vulnerável em um mundo um pouco sombrio — e pode acabar surtando.”
Maria é uma personagem muito vulnerável, obviamente. Como foi essa experiência, em um nível prático, de passar o dia a dia nos sets?
“Foi pesado. Maria foi uma experiência muito completa. Não consegui deixá-la nos sets, como às vezes acontece. Parte disso foi porque, de qualquer maneira, eu sempre estava fazendo treinamento depois das filmagens; sempre havia uma próxima ária. Mas tudo acaba levando à morte, e a morte foi a última coisa que filmamos. Tenho quase 50 anos e minha mãe teve câncer quando tinha 48. Você fica realmente pensando sobre a morte, sobre coisas que lhe causam tristeza ou sobre coisas que você perdeu em sua vida. Imagino que você, e talvez muitas pessoas que você conhece, já passaram por momentos em que se sentiram muito tristes, mas estavam sozinhos. Eu certamente já passei por esses momentos de tristeza estando sozinha. Compartilhar isso agora, não apenas com a equipe, mas com o mundo, e conhecer outras pessoas e reconhecer que temos esse nível de dor, pode ser muito catártico – expressar coisas pesadas juntos. Maria também era engraçada, mas o lado pesado dela era… sim. [Risos] Acho que isso me fez querer tentar viver mais plenamente. Sempre que você faz algo sobre a morte, você pensa frequentemente sobre a vida, naturalmente.”
Há um detalhe legal para esse momento, considerando que já faz 25 anos desde que o filme “Garota, Interrompida” foi lançado, pelo qual você ganhou um Oscar. Você interpretou Lisa, uma psicopata diagnosticada e em tratamento psiquiátrico — outra personagem muito pesada. Como você compara sua posição atual como atriz, com a artista daquela época?
“Ainda não descobri realmente como me sinto sobre isso, mas existe algo bonito e reconfortante no fato de que há algo não muito diferente entre essas mulheres e a pessoa que eu era 25 anos atrás. Talvez eu tenha me aproximado dela de uma maneira diferente. Talvez eu não a tenha perdido tanto quanto pensei. Espero estar melhor em alguns aspectos: hoje sou mãe e sou muitas outras coisas… Talvez eu ainda esteja tentando me conectar e talvez eu ainda continue sentindo as coisas profundamente. Eu não sei. Tenho certeza de que um terapeuta se divertiria muito com isso. Enquanto você está me perguntando, estou pensando tipo, meu Deus, algum terapeuta deveria estudar essas coisas e me dizer o que elas significam.”
Você se lembra como foi interpretar Lisa naquela época?
“Sim, o que é interessante porque não tenho muitas lembranças da minha vida. Lembro que não a considerava louca e que ela era uma pessoa real. Ela precisava ser amada, ela se sentia sozinha e queria a verdade. Eu só vi o filme uma vez — é difícil falar sobre ele porque eu assisti apenas uma vez há 25 anos — mas, pela minha memória, Lisa só queria que alguém fosse honesto com ela e que se conectasse com ela. De alguma forma, ela acabou se sentindo muito, muito sozinha por isso — não muito diferente de Maria. Não encontrar alguém que a entendesse o suficiente, não encontrar um caminho a seguir, onde ela se sentisse bem. Esse é um tema recorrente? Que estou sozinha? O que é isso? [Risos] Provavelmente existe algo muito trágico que eu não quero abordar agora, mas… É.”
Sim, eu entendo. Lembrando da divulgação do filme, Lisa era frequentemente mencionada como louca e sem o tipo de nuance que você está falando agora. Você se lembra de ter encontrado isso?
“Eu me lembro de ouvir as pessoas dizendo isso. Mesmo que elas pensassem que estavam me elogiando por interpretar Lisa, elas estavam me elogiando por interpretar uma pessoa louca. Isso me deixou triste, porque eu não pensava nela dessa forma e não gostei de saber que fui mencionada dessa forma. Mas também foi uma época em que eu ainda estava tentando me entender e talvez houvesse algo em mim que eu não estava entendendo — sobre o que as pessoas consideram loucura. Quero dizer, essa é a mais pura verdade. A dura verdade é que, durante aquele momento em que você está tentando se descobrir, em que você é jovem, um pouco selvagem, forte, curiosa e emotiva — as pessoas dizem: “Não, isso é loucura. Ela é louca. Você é louca.” Isso, provavelmente, só me isolou mais e me fez pensar que eu devia ser diferente. Talvez eu seja sombria [dark], ou talvez eu seja estranha, ou talvez eu não seja o que as pessoas querem que eu seja.”
Parece diferente com Maria? Apenas por curiosidade, ouvi pessoas expressando muito mais carinho por ela.
“Eu não leio as coisas publicadas sobre mim, mas depois das exibições do filme, conversei com pessoas que foram muito gentis. Mas também ouço as pessoas se referirem a ela como um pouco louca. As pessoas ainda conseguem vê-la e não percebem que ela era apenas uma garota que não era amada.”
Que é o tema do filme.
“Que é basicamente o tema do filme, certo? Não existe nada que ela faça que machuque alguém ou que seja contra alguém. De alguma forma, ela é vista como se houvesse algo errado com ela, algo nela irrita as pessoas. Mas sim, acho que há muito amor por ela e nada me deixa mais feliz do que isso. Se ela era uma diva, era porque foi muito dura consigo mesma e com qualquer coisa relacionada ao seu trabalho, porque ela era perfeccionista. Ela também era alguém que se achava perfeita e, ao mesmo tempo, que não era nada, porque era isso o que sua mãe lhe dizia. Ela definitivamente era mais dura consigo mesma, do que qualquer outra pessoa poderia ser.”
Sem querer parecer muito um psicólogo, mas como você se relaciona com essa ideia de perfeição a todo custo?
“A propósito, você seria um ótimo terapeuta.”
Vou lhe contar que considerei trabalhar com isso. Mas estou genuinamente curioso sobre como você se conectou com essa parte dela.
“Acho que é por isso que demorei alguns dias para dizer sim, porque eu sabia que estava caminhando para o impossível. Você não pode ser tão boa quanto ela — certamente nunca poderá ser tão boa quanto ela no palco, nunca poderá cantar tão bem quanto ela, e só pode rezar para não decepcionar aqueles que amam seu trabalho. Eu estava com medo. Eu estava com medo de realmente falhar nisso.”
Você pode me contar sobre quando levou “Maria” para Veneza e como você estava se sentindo naquele dia, tanto antes da exibição quanto depois de sentir a reação na sala de cinema?
“Foi engraçado levá-la para Veneza porque ela estava em Veneza — até dizemos isso no filme; Onassis fala sobre vê-la no Festival de Cinema de Veneza. Eu estava tentando decidir o que vestir e descobri que havia fotos dela em Veneza, usando um pequeno casaco de pele; foi por isso que usei aquela pele falsa. Foi estranho. No filme, eu canto em italiano e estava na Itália. Como iria ser? Essas são pessoas que realmente conhecem essas árias e essa é uma forma de arte muito respeitada e compreendida aqui. Fiquei muito animada por esses motivos, em levá-la para Veneza e muito nervosa também. Quando o filme foi bem recebido, quando senti que as pessoas estavam gostando, foi um grande alívio. Então, quando você está com pessoas que ama, você olha ao redor para os rostos dos artistas com quem trabalhou, é um momento lindo.”
Agora que você está se sentindo revigorada criativamente, há cineastas com quem você gostaria de trabalhar ou tipos de trabalho que você gostaria de fazer no futuro?
“O que você acha que eu deveria fazer?”
Bem, como você mencionou, você conseguiu ser seletivamente engraçada em “Maria”. Eu adoraria ver você fazer mais comédia.
“Obrigada. Eu acabei de escrever para uma amiga minha hoje, Eunice, que está em Liverpool, e ela disse: ‘Por que você não está fazendo… Você deveria fazer algo divertido.’ Eu respondi dizendo: ‘Eu gostaria de encontrar algo divertido’, mas não tenho certeza. Nunca tenho certeza do quão engraçada sou. Eu adoraria fazer algo divertido e leve. Acho que eu teria que fazer uma personagem tipo escada *. Eu sinto que é isso que eu sou. Eu aceito isso. Em “Malévola”, foi tipo, ok, eu serei a pessoa séria. Há tantos diretores maravilhosos com quem eu adoraria ter a chance de trabalhar. Eu gostaria de ter permissão para atuar nessa área. Eu adoraria que as pessoas se aproximassem e estivessem dispostas a me convidar para atuar com elas e criar com elas. Então veremos. Sim, comédia, talvez.
Vamos jogar para o universo.
“Se der certo, foi por sua conta.”

*Obs: O termo escada na comédia refere-se a um ator / personagem que completa a piada para um outro personagem, sendo mais comum em esquetes de duplas cômicas. O personagem escada faz o contraponto de seu(s) companheiro(s) de cena, sendo geralmente um “homem mais sério” e posturado, diferente dos demais em cena que são cômicos e exagerados. Em inglês, esse tipo de personagem é conhecido como “straight man”.
• Fonte: Vanity Fair | Wikipedia
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