Jolie fala sobre “Maria” para a The Hollywood Reporter
30 de agosto de 2024
Nesta sexta-feira, dia 30 de Agosto de 2024, a revista norte americana The Hollywood Reporter compartilhou em seu website oficial a capa de sua edição do dia 04 de Setembro, que traz nossa musa inspiradora – Angelina Jolie.
Além de uma nova entrevista, a revista publicou também um novo ensaio fotográfico exclusivo registrado por Blair Getz Mezibov. Confira a matéria traduzida na íntegra pelo Angelina Jolie Brasil, com contribuição do nosso colaborador Gui Milk.
Depois de um hiato autoimposto do cinema e um período turbulento em sua própria saga, a atriz indescritível se senta com a THR para discutir seu ressurgimento, a interpretação da tempestuosa diva Maria Callas, e seu próprio filme sobre trauma e sobrevivência: “Eu sou uma pessoa com sentimentos muito profundos e com nervos à flor da pele”.
Por Rebecca Keegan
Angelina Jolie entra em sua sala de jantar com painéis de mogno em Los Feliz usando um vestido de verão branco transparente e desliza carregando um bule de chá de ervas com três grandes cachorros atrás dela. Estamos em meados de agosto e Jolie está prestes a fazer algo que não faz há anos – viajar para vários festivais de cinema para promover seus filmes.
“Maria”, a cinebiografia de Pablo Larraín na qual ela interpreta a diva que definiu a ópera, Maria Callas, está programada para estrear em Veneza, Telluride e Nova York; “Without Blood”, o drama de guerra que ela escreveu e dirigiu a partir de um livro lançado em 2002 e escrito por Alessandro Baricco, estará no Festival de Cinema de Toronto, onde ela será homenageada com um prêmio no dia 8 de Setembro.
A Netflix lançará “Maria” nos EUA enquanto que “Without Blood” ainda está procurando um distribuidor. Ambos os projetos marcam um retorno ao negócio de filmes de prestígio para Jolie, 49, depois de anos se concentrando principalmente em ser mãe de seus seis filhos, que agora têm idades entre 16 e 23 anos. Seu último filme como diretora foi “Primeiro Mataram Meu Pai”, de 2017, e o mais recente como atriz foi o filme da Marvel de 2021, “Eternos”.
Os projetos são pessoais de uma forma que é quase desconfortável de discutir. “Maria” – para qual Jolie passou mais de seis meses aprendendo a cantar, respirar e andar como a soprano mercurial – traz o retrato de uma ícone aprisionada por sua própria imagem. O filme se passa em Paris no ano de 1977, durante os últimos dias da vida de Callas, quando ela está tentando cantar novamente depois de anos longe de um palco, para um público que a vaiou quando não gostou do som de sua voz e a chamou de “tigresa” por seu temperamento. Larraín diz que, como Callas, “Angelina tem uma enorme quantidade de mistério. Eu pensei que ela poderia interpretar essa mulher que estava procurando encontrar sua própria identidade.”
“Without Blood”, que traz Salma Hayek e Demián Bichir interpretando duas pessoas conectadas por um evento traumático em suas juventudes, marca o retorno de um assunto que Jolie explora repetidamente como cineasta: o impacto dos conflitos (neste caso, um que nunca realmente ocorreu). É um assunto de intenso interesse para ela como mãe e defensora dos direitos humanos, que viajou para campos de refugiados e zonas de guerra.
A casa de Jolie é uma mansão de belas artes construída para o cineasta Cecil B. DeMille, com um paisagismo exuberante, que ela comprou após sua separação de Brad Pitt em 2016, em um divórcio altamente controverso e que ainda está em andamento. Uma casa na árvore imponente no quintal é um sinal da família que ela criou dentro de seus portões de ferro forjado. Ela construiu a casa na árvore muito alta, diz ela, porque “nunca tive medo de altura”.
Tendo agora feito dois filmes tão íntimos a partir de suas próprias experiências, Jolie está descobrindo como ela quer falar sobre eles. Ela se recusa a discutir Pitt ou falar sobre o recente acidente de bicicleta elétrica do filho Pax, de 20 anos, apenas informando que ele está se recuperando. Ao longo da tarde, enquanto seus cães roncam baixinho em seus pés, a atriz se abre com uma franqueza estimulante sobre alguns assuntos – como a redescoberta literal de sua própria voz – e traça limites firmes em torno de outros. Na velha Hollywood, Jolie diz: “Você poderia passar por isso de forma privada e confusa, mas o trabalho falaria mais alto. Agora, a relação com o público é diferente. Estou tentando me acostumar em ter que decidir sobre o que compartilhar.”
THR: Você está com a agenda lotada para ir aos festivais. Terminando estes dois filmes, você consegue aproveitar o momento?
AJ: Muitas vezes não. Eu me tornei artista muito cedo apenas para ajudar minha mãe a pagar as contas. Tive momentos em que adorei ser artista e tive momentos em que estive muito, muito longe de me sentir confortável neste ramo. Espero poder ter um novo relacionamento com ele.
O que te levou para a história de Maria Callas?
Apenas me dê um momento, porque esta é a primeira vez que falo sobre ela. Eu meio que me afastei. Foi tão intenso que eu tive que me afastar. Eu me afastei, não cantei ou falei sobre ela desde então. O que nem sempre acontece comigo, mas este papel realmente me pegou. Tenho certeza de que muita coisa será lida sobre nossas semelhanças como mulheres, mas a semelhança que talvez não seja a mais óbvia, é que não tenho certeza de quão confortáveis nós duas nos sentimos em sermos pessoas públicas. E também existe uma pressão por trás do trabalho que não é apenas a alegria proporcionada por ele.
E ainda assim eu amo criar e ela amava cantar, mas às vezes existem todas essas outras coisas que tiram a alegria e mudam as experiências. Foi muito difícil, o que ela passou. As pessoas eram bastante agressivas quando ela não era capaz de ser o que as pessoas queriam que ela fosse. Eram muito cruéis e ela carregava muitos traumas e trabalhava muito, muito duro. Eu comecei a realmente me importar com ela e queria que esse aspecto da história fosse contado.
No começo, cantar era apenas um meio de sobrevivência para ela. “Isso é o que você deve fazer para manter nossa família segura ou para ganhar dinheiro. Isso é o que queremos de você e o que esperamos de você.” Sua abordagem para a música era, de acordo com o que ela dizia, que ao encontrar uma obra, você deve apenas estudá-la, estudá-la, estudá-la e a fazer exatamente como o compositor a escreveu. Você não deve acrescentar nada. Você não deve se sentir nela. Você deve fazer o trabalho com precisão, como lhe for dito, e então você dá vida a ele e o encontra.
Como isso se compara à forma como você se prepara como atriz?
Eu não sei o que é que eu faço. Eu costumava brincar que comecei a fazer aulas de aviação quando sentia que precisava de uma habilidade prática, porque minha habilidade era apenas ser emocional. Isso foi antes de eu começar a dirigir filmes mas é tipo, “o que realmente eu faço?”. Para mim, quando alguém ri e interage, parece uma forma de se comunicar com outras pessoas. E acho que ela também experimentou isso. Acho que é por isso que doeu tanto quando ela foi excluída e atacada.
Na primeira cena em que Maria está ensaiando com o pianista, depois de tantos anos sem se apresentar, você está prestes a abrir a boca para começar a cantar quando um olhar marcante e sombrio cruza seu rosto. O que você estava pensando naquele momento?
Você quer saber todos os meus segredos particulares?
Esse é um segredo particular?
Estou tornando a dor dela pessoal para mim e isso certamente é muito particular. Foram muitos meses de aulas de canto. Meses apenas aprendendo a cantar, depois as aulas de italiano, depois aprendendo a fazer a voz e todas as outras coisas como ela fazia. Eu tentava ser precisa. Eu recomendaria que quase todos os seres humanos fizessem uma aula de ópera. Existir e nunca ter cantado com todo o seu corpo e tão alto o quanto poderia cantar — é algo que eu acho que todos nós deveríamos vivenciar. É assustador e isso raramente é exigido de nós. Raramente nos é pedido durante a vida, que sejamos tudo o que podemos ser ou que sintamos tudo o que podemos sentir.
Muito pelo contrário. É dito para reprimirmos tudo e o dia todo.
Exatamente. Na minha primeira aula, eu chorei. Eu estava triste, eu estava com medo. Foi uma estranha reação do meu corpo físico. Eu fiquei lá e o instrutor disse: “Ok, apenas esteja em seu corpo. Respire fundo, deixe tudo sair e apenas abra a boca e deixe esse som vir de dentro.” E foi aí que fiquei muito emocionada. Você descobre o quanto trancamos nossa dor em nossos corpos. Nossa voz fica tensa, nossos ombros ficam altos, temos dores de estômago, fazemos todas essas coisas que são uma espécie de proteção para nós. A coisa mais difícil foi sentir novamente, respirar novamente, me abrir novamente de uma maneira que este filme exigia e que eu realmente não fazia há um bom tempo. Então, talvez o que você viu no meu rosto tenha sido esse sentimento. Ter que sentir tudo. O que ela tinha que fazer naquele palco… Exige todo o seu coração, corpo, mente e ópera. E você não pode fazer isso pela metade.
Você realmente não é uma pessoa mediana. Há algum paralelo entre você e Maria Callas aí. Você sempre foi alguém que não molha os dedos do pé antes de entrar na piscina? Você mergulha.
Eu acho que meu fracasso é não saber fazer de outro jeito. Eu realmente não sei. E muitas vezes eu queria saber. Eu queria saber como ficar quieta e calma. Eu sou impulsionada para frente constantemente e nem sempre é a melhor sensação. Para o bem ou para o mal, eu sou uma pessoa com sentimentos muito profundos e com nervos à flor da pele. Então, quando eu sinto algo profundamente, eu me jogo nisso. Quando faço isso, me sinto viva ou me conecto a algo verdadeiro dentro de mim. Eu acho que todos nós temos momentos em nossas vidas em que estamos em sintonia com quem realmente somos. E todos nós conhecemos esses momentos. Geralmente, se nós nos ouvirmos nesses momentos, nosso caminho fica cada vez mais claro. E quando somos forçados a tomar decisões quando estamos com medo ou sendo pressionados, tomamos caminhos muito diferentes. E isso pode ser muito destrutivo.
Como foi filmar no Teatro LaScala, a casa de ópera localizada em Milão?
Foi uma experiência extracorpórea porque eu não canto. Eu tive alguém na minha vida que não era gentil comigo sobre cantar. Foi em um relacionamento em que eu estive. E então, eu simplesmente presumi que eu não sabia cantar de verdade. Eu tinha estudado teatro, mas foi estranho como isso teve esse efeito em mim. Eu meio que me adaptei à opinião daquela pessoa. Então, precisei superar muitas coisas para começar a cantar. E descobri que eu também sou uma soprano. A vida toda, eu pensei que tinha uma voz grave. Eu até falei para o instrutor de canto que minha voz era mais grave, mas ele disse: “Não, você realmente é uma soprano.” Mas provavelmente algo aconteceu. Descobri que a nossa voz muda quando passamos por coisas diferentes em nossas vidas. Então isso foi um choque pra mim. Foi muito estranho.
Então, eu aprendi a cantar e a gostar de cantar, mas estava muito, muito tímida durante todo esse processo. Pablo [Larraín] começou a filmagem com um super close-up que abre o filme, porque assim podíamos gravar com a sala vazia. Meus meninos [Maddox e Pax] estavam lá, mas praticamente não havia ninguém porque, quando você canta ópera tem que ser bem alto. Deus sabe quantas pastilhas para garganta eu tive que usar e o quanto eu estive ensaiando durante todas as noites e todas as manhãs. Eu estava muito nervosa para começar. Eu não queria decepcionar a equipe. Estávamos em um teatro ou em uma igreja na Grécia quando pensei: “Oh, quem está lá fora? Podem me ouvir cantar da rua?” Mal passamos por isso e então: “OK, agora teremos que adicionar mais alguns membros da equipe para uma tomada mais ampla; e agora o público tem que começar a entrar.” E foi aumentando, aumentando e aumentando até que chegamos ao La Scala. O La Scala era para onde tudo estava caminhando e que exigiria a presença de toda a equipe e de todo o público. Era algo tão além da minha zona de conforto que eu estava tonta. Não havia mais nada a fazer, exceto aceitar e me entregar de verdade. A camada final dessa performance em particular foi o que me deixou confortável, a performance emocional de sua dor e de sua loucura.
Você tem uma maneira de se livrar disso no final de um dia de trabalho — desse estresse ou dessa intensidade?
Sou mãe há 23 anos. A coisa mais linda sobre ser mãe é que você não é o centro da sua vida. Então, você deixa o set focada em algo para alguém. Essa é a sua vida real. Seu mundo real. E isso sempre é a maior parte de quem você é. Nunca estive em um set onde minha família não pudesse estar, porque estava muito focada — eu não sou essa pessoa. As pessoas podem aparecer e me visitar. Significou muito pra mim que meus meninos estivessem comigo em “Maria”. Quando eu tinha momentos realmente difíceis, eles vinham e me davam um abraço ou uma xícara de chá. Essa foi provavelmente uma das coisas mais intensas: geralmente, quando expresso muita dor, nunca é na frente dos meus filhos. Você realmente tenta esconder dos seus filhos quanta dor e tristeza você carrega. E então, para eles estarem com você quando você está expressando isso em tal nível… Acho que foi a primeira vez que eles me ouviram chorar assim. Isso geralmente eu levo para o chuveiro.
Maddox e Pax estavam trabalhando na equipe de alguma forma, não estavam?
Sim. Mad e Pax estavam nesse projeto. Fazendo trabalho de AD [assistente de direção]. Eles fizeram isso algumas vezes e acho que é bom para eles. Pax gosta de fazer fotos e foi trazido para o projeto. Pablo foi maravilhoso e reconheceu que ele era bom nisso.
Por que você esperou tanto tempo para voltar desde a última vez que atuou ou dirigiu?
Eu precisava ficar mais em casa com meus filhos.
E o que fez você se sentir pronta para voltar ao trabalho?
Eles estão um pouco mais velhos, ficando mais independentes. Agora sou menos necessária e, portanto, sou capaz de ficar fora por diferentes períodos de tempo. E eles têm idade suficiente para se juntar a mim no trabalho. É uma nova temporada em nossas vidas. Estou muito animada para que eles estejam se tornando cada vez mais independentes a cada dia.
O que te atraiu para o livro Without Blood?
Eu adoro escritores que entendem as complexidades dos seres humanos e que não tentam explicá-las ou envolvê-las em um pequeno laço, o que pode ser algo que algumas pessoas terão dificuldade neste filme, porque ele não responde completamente tudo. Mas mostra parte do que o conflito faz às pessoas e quão prejudicial o conflito é, especialmente para as crianças, é que ele sangra em todos os aspectos da sua vida. E você acaba vendo como isso afetou ambas as pessoas.
Normalmente, meus filmes são considerados filmes de guerra ou filmes sobre conflitos e, muitas vezes, sobre história. O primeiro filme que fiz [como diretora, Na Terra de Amor e Ódio, lançado em 2011], escrevi tentando entender a guerra na Iugoslávia. Muitas pessoas naquele conflito em particular eram amigas, amantes e vizinhas. Entretanto, elas passaram a se enfrentar, se tornaram inimigas e foram divididas. E então escrevi uma história sobre o que aconteceria se, no começo, essas pessoas tivessem todas as chances de serem felizes, apaixonadas, terem uma família e tudo mais. E no final, uma mata a outra. Como isso acontece? Já “Without Blood”, é um capítulo final de certa forma. Eu mostrei guerras. Eu mostrei Louis Zamperini em um campo de prisioneiros [em Invencível, lançado em 2014]. Eu mostrei uma criança passando por uma guerra que não foi criada por um inimigo externo, mas por um inimigo em seu próprio país [Primeiro Mataram Meu Pai, lançado em 2017].
Por que os conflitos são um assunto para o qual você sempre retorna?
Passei muito tempo em zonas de conflito e suponho que foi onde vi o melhor da humanidade e também o pior. Nunca pretendi fazer filmes sobre guerra, mas passei muitos anos com pessoas deslocadas pela guerra. Continuo trabalhando com elas e tenho minha casa no Camboja. Meus vizinhos passaram pela guerra e também muitos dos meus amigos mais próximos. Suponho que seja apenas uma grande parte do que é ser humano, entender por que fazemos isso uns aos outros e como superamos isso. Nunca tive que vivenciar a guerra ou perder alguém por conflito armado. Mas tenho pessoas com quem me importo profundamente que passaram por isso. Vi pessoas que não tinham nada, darem tudo de si. E vi pessoas que tinham tudo, não fazerem nada. Nem sempre é sobre o porquê dessas coisas horríveis acontecerem. Na verdade, é muito mais sobre como as pessoas as superam. As pessoas que mais amo e admiro no mundo são as que mantêm sua graça depois de todo o mal que lhes foi causado. Acho que considero essas pessoas as mais comoventes e as admiro por isso.
“Without Blood” é sobre um lugar não específico, certo? Uma guerra não específica?
Isso foi intencional. O escritor escreveu dessa forma, pois era algo que poderia ou pode acontecer em qualquer lugar. OK, agora a guerra acabou e aqui estamos nós. Isso agregou alguma coisa? Mudou o mundo? Houve um vencedor? O que isso fez com nossas vidas?
Como você abordou a escrita para esta adaptação?
Tentei me ater muito ao livro. Tanto que o escritor realmente me disse: “Você nunca vai conseguir fazer isso. Eles vão tentar te forçar a mudar o final. Eles vão tentar te forçar a definir um lugar e um tempo.”
Você tem algum ritual de escrita, um lugar específico em sua casa ou uma hora do dia em que gosta de escrever?
Eu geralmente escrevo quando todos estão dormindo para que eu possa me concentrar.
Como você caminha na linha entre ser uma artista e ser alguém que tem uma voz que as pessoas ouvem em certas questões políticas?
Eu não sou uma artista em primeiro lugar, eu sou uma mãe. E eu sou alguém que tentou ter uma educação melhor sobre política externa. Eu penso na quantidade de vezes que fui resumida em: “Você é uma artista, mas você também usa sua voz”. Mas sinto que se trata de apenas ser uma pessoa. Estou tentando entender o que está acontecendo em nosso mundo, por que tantas coisas são do jeito que são. Estou tentando entender como ser uma melhor guia para meus filhos, para ter certeza de que eles serão boas pessoas. Eu não sinto que estou fazendo o suficiente. Então, quando você diz, “Você usa sua voz”, eu sinto que ainda existem tantas coisas que eu não sei muito bem como fazer ou dizer neste momento.
Quando seus filhos crescerem, você vai ficar em Los Angeles?
Eu cresci nesta cidade. Estou aqui porque tenho que ficar em razão do divórcio, mas assim que eles tiverem 18 anos, poderei ir embora. Quando você tem uma grande família, você quer que eles tenham privacidade, paz, segurança. Agora tenho uma casa para criar meus filhos, mas às vezes este lugar pode ser… Aquela humanidade que encontrei ao redor do mundo não é a mesma com a qual cresci aqui. Depois de Los Angeles, pretendo passar muito tempo no Camboja. Passarei um tempo visitando meus familiares onde quer que eles estejam no mundo.
Nós do público, sentimos que conhecemos você. Talvez tenhamos passado por algo que você também viveu e tenha falado sobre publicamente — câncer de mama, a perda de sua mãe. Como é ter pessoas expressando essas conexões com você?
É uma das coisas mais legais — talvez a única coisa legal — sobre ser uma pessoa pública, a conexão com outras pessoas. Percebi isso quando entrei neste negócio fazendo filmes como “Gia” ou “Garota, Interrompida”, nos quais expressei muito da minha loucura e da minha dor. Quando as pessoas se conectavam a isso, eu me sentia menos sozinha. Então, se alguém fala comigo sobre ter passado por um câncer de mama ou sobre ter perdido um dos pais, eu me sinto mais profundamente conectada com outro ser humano. Entrar em uma sala cheia de pessoas que você não conhece e saber que tem muito em comum porque, de alguma forma, você esteve na casa delas pela televisão, fez os filhos delas rirem ou porque elas sabem de algo pessoal seu, é muito legal.
Posso perguntar qual é o status do seu divórcio?
Não.
O que você faz quando está relaxando? Na minha casa, eu peço comida tailandesa e assisto TV. Não consigo imaginar qual é a sua versão disso.
Se alguém quer assistir TV e pedir comida tailandesa, eu sou a primeira a vestir umas meias peludas e sentar ao lado. Gosto de estar com pessoas que amo. Não sou alguém que implora para ficar sozinha. Não sou aquela pessoa que pensa: “Ah, queria poder ficar sozinha para poder ter meus prazeres secretos”. Porque geralmente meu prazer secreto é estar com alguém. Adoro fazer algo que deixa as pessoas que amo felizes. Isso realmente me faz feliz.
Quais são seus amigos mais próximos? Quem é a pessoa para quem você liga às 3 da manhã?
Eu realmente não tenho esse tipo de relacionamento. Talvez porque perdi minha mãe muito jovem. Talvez por conta do trabalho. Talvez, por ser alguém que foi que muito traída. Eu não tenho muitos desses relacionamentos calorosos e próximos nos quais eu me apoio. Mas eu tenho alguns e alguns são o suficiente. Loung Ung [ativista de direitos humanos cambojana-americana] é uma das minhas amigas mais próximas. Minha mãe era muito próxima de mim, mas eu a perdi. Tive alguns amigos ao longo dos anos que não estiveram ao lado da minha família nas horas de necessidade. Tenho algumas pessoas em quem confio. E com quem Maria Callas morreu? Com duas pessoas de confiança.
O que você ainda quer fazer profissionalmente?
Há alguns projetos maiores de direção que levariam mais tempo e que eu ainda não consegui fazer. O que está na minha mesa agora, é um grande projeto épico sobre a história maravilhosa de [fotojornalista britânico] Don McCullin. De muitas maneiras, é sobre a ascensão e queda do jornalismo. Don é um homem extraordinário. Ele ainda está por aí, se tornou um amigo e é incrível pelo o que viu. Eu adoraria passar um tempo, traçar seus passos e talvez aprender mais. Sou uma péssima aluna. Se eu tiver que apenas ler algo, não consigo entender nada. Mas se eu vivenciar ou conhecer a pessoa, então eu consigo entender. Eu também ainda quero interpretar uma vilã.
E quanto à Malévola? Ela é uma vilã.
Ela é a “mocinha”. Minhas vilãs acabam sendo boas. Suponho que todo vilão geralmente é apenas alguém em sofrimento. Para ser honesta, seria legal fazer algo talvez um pouco mais leve. Para que meus filhos possam me ouvir rir um pouco mais. Como artista, há uma parte de mim que gostaria de encontrar uma forma de fazer as pessoas sorrirem.
Esta matéria estará disponível na edição de 4 de setembro da revista The Hollywood Reporter.
• Fonte: The Hollywood Reporter
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