Jolie fala sobre The Outsiders em entrevista ao Deadline
11 de junho de 2024
Há quase um ano, quando Angelina Jolie anunciou que havia assinado o contrato para trabalhar como produtora do musical da Broadway, “The Outsiders”, a comunidade teatral poderia ser perdoada por presumir que ela era apenas mais uma na longa e crescente lista de celebridades dispostas a arrecadar dinheiro ou compartilhar fama em troca de crédito no panfleto de um espetáculo. No entanto, as pessoas estavam erradas.
“Angelina esteve muito presente”, disse a diretora do musical, Danya Taymor, explicando que a atriz vencedora do Oscar ofereceu notas criativas, sugestões, orientações e até conselhos para o jovem elenco do musical, muitos dos quais estavam fazendo suas estreias na Broadway.
“Tive sucessos e fracassos e já estou aqui há muito tempo…” disse Jolie ao Deadline.
Brody Grant, que recebeu uma indicação ao Tony por sua estreia na Broadway interpretando o papel de Ponyboy Curtis, disse ao Deadline: “Danya e Angelina são duas artistas que estão no topo. É uma honra trabalhar sob a orientação dessas mulheres incríveis.”
Então, como Jolie e Taymor formaram uma equipe tão eficaz? Acontece que elas devem seus agradecimentos à filha de 15 anos de Jolie, Vivienne.
Baseado no livro escrito por S.E. Hinton e na adaptação cinematográfica dirigida por Francis Ford Coppola, “The Outsiders” se passa na cidade de Tulsa no ano de 1967 e conta a história de Ponyboy Curtis, de 14 anos, seus dois irmãos e seu melhor amigo Johnny – os Greasers – enquanto eles lutam para sobreviver e resistir ao grupo rival, os Socs.
A direção de Taymor – que estreou no Teatro La Jolla Playhouse em San Diego no ano passado, antes da Broadway – foi um dos poucos sucessos não qualificados a emergir da primavera incrivelmente movimentada da Broadway, recebendo boas críticas e excelentes bilheterias.
“The Outsiders” foi indicado a 12 Tony Awards: Melhor Musical; Melhor Ator em Peça de Teatro; Melhor Ator Coadjuvante em Peça de Teatro; Melhor Direção de Musical; Melhor Libreto de Musical; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Cenografia em Musical; Melhor Desenho de Luz em Musical; Melhor Desenho de Som em Musical; Melhor Coreografia e Melhor Orquestração.
Confira a entrevista exclusiva concedida por Angelina Jolie e Danya Taymor ao website “Deadline”, compartilhada nesta segunda-feira, dia 10 de Junho de 2024 e traduzida pelo Angelina Jolie Brasil. A entrevista foi editada e condensada para maior clareza e extensão. Por Greg Evans.
Danya, o que te atraiu nesse musical, The Outsiders? O filme, o livro, ou outra coisa?
TAYMOR: Fui abordada por Adam Rapp, um dos escritores do musical. Eu o conheço como dramaturgo e o convidei para ver um espetáculo meu chamado “Pass Over”. Ele foi e assistiu o espetáculo. Eles estavam procurando um diretor para “The Outsiders”. Eu sabia da existência do livro e eu sabia do filme, mas não tinha lido e não tinha assistido. Então meu primeiro encontro com o material foi o próprio musical. Acho que o que mais me impressionou, e isso é importante para um musical, foi a música. Foi isso que me atingiu primeiro. Depois de ler o material do musical, li o livro de uma só vez e ele acabou comigo. Eu realmente tive uma experiência emocionante ao lê-lo. Eu senti que S. E. Hinton, Susie Hinton, foi incansável, foi realmente brutal. Ela sentiu como era ser uma adolescente e eu pensei: preciso fazer isso.
Em que momento você viu o filme?
TAYMOR: No início do desenvolvimento, fizemos uma viagem para Tulsa. Conheci Susie Hinton e pude ver o lugar, porque sabia que Coppola havia filmado lá e, você sabe, tanto o cinema quanto o teatro são meios visuais. Eu queria sentar com o material, sentar com o livro por um tempo antes de assistir o filme. Certa vez, fui para Tulsa e fiquei realmente sentada com o material por um tempo, então assisti ao filme.
Angelina, como você se envolveu com o projeto?
JOLIE: Minha filha Viv adora teatro. Ela gosta de teatro num geral, mas certamente sabe quais coisas lhe tocam e como responde a elas. Ela foi assistir “The Outsiders” no Teatro La Jolla umas cinco vezes e ficava falando sobre isso. Eu já tinha lido o livro e visto o filme anos atrás. Aí ela me pediu para ir assistir com ela e eu pensei que era só… você sabe. Danya fala do quanto esta peça é importante para os adolescentes já que foi escrita por alguém da idade da minha filha, né? Então, realmente, como mãe, como pessoa, eu assisti, mas eu fiquei realmente observando o efeito que o espetáculo causava na minha filha e o que ela estava me contando sobre si mesma. Eu entendi por que era tão importante para ela e por que se conectou tão profundamente a ela. Foi uma experiência muito diferente de compreensão de como isso teve um efeito significativo nela, sendo uma jovem, e de que forma ela estava querendo me dizer algo. Esse é o poder deste material, que já estava em muito bom estado naquela época. E então tive o privilégio de ver todo mundo trabalhando neste último ano para transformá-lo no que é hoje e Vivienne esteve presente o tempo todo.
O livro foi publicado no final dos anos 60. O filme foi lançado no início dos anos 80. O que há nessa história que ressoou tanto em sua filha agora?
JOLIE: [Risos] Ah, é difícil falar por ela, porque ela é uma jovem complexa. Eu acho que é muito profundo, honesto e não foge de sentimentos reais, discussões reais e dor real. Talvez, cada pessoa que assista possa se identificar um pouco mais com um personagem ou outro, mas o que eu acho que você vê através de tudo isso é que há dor na vida, certo? Existe medo. Nesta história, existem questionamentos como: Quem sou eu e onde pertenço? Por que essas pessoas são marginalizadas e prejudicadas mais do que outras? Por que essas pessoas se matam? O que estamos enfrentando na vida? Acho que muitos jovens, especialmente hoje, vivem tempos muito difíceis e querem ter essa discussão real, querem saber das coisas que ajudam a passar pela vida. Qual é a realidade disso? Tipo, não embeleze as coisas para os adolescentes, foi o que aprendi com a S. E. Hinton. Conhecer onde eles estão é pesado, é real, e estes são os maiores e mais complexos momentos à medida que você se transforma em um adulto e percebe certas duras verdades sobre a vida e coisas que ajudam a superá-las.
Acho interessante a história de “The Outsiders”, embora sempre tenha parecido ser algo sobre garotos, as mulheres não apenas estiveram envolvidas, mas também foram fundamentais na narrativa, desde a autora até vocês duas. E as jovens mulheres também estão indo assistir o espetáculo.
JOLIE: Pode ser sobre como vemos os homens. Em vez de ser como isso ressoa em nós. Talvez seja possível que esta exploração do homem, ou dos homens, seja realmente muito bonita através dos olhos das esposas, das mães, amantes, irmãs, filhas, porque é o quanto vemos, amamos e compreendemos os vários aspectos dos homens.
TAYMOR: Eu concordo totalmente com isso. Acho que a história ressoa nas pessoas. Nas pessoas. Acho que isso faz parte do poder duradouro de um livro. E não apenas os norte americanos, mas pessoas de diferentes países, pessoas de diferentes idades. Acho que o que Angelina está dizendo é verdade. Um dos momentos mais importantes e impactantes da história de Ponyboy é sua interação com Cherry, não por uma questão de romance, mas porque Cherry é uma pessoa que realmente o vê. Eu acho que o que S. E. Hinton fez pelo grupo de jovens ao seu redor, que por acaso eram muitos meninos, é profundo e ressoa nas pessoas, porque estamos todos juntos. Não estamos isolados uns dos outros e penso que esse olhar compassivo ressoa poderosamente entre gêneros, raças, religiões e classes também.
Danya, muitas adaptações do filme para o palco nem sempre funcionam, algumas porque ficam muito próximas do filme e outras porque se desviam muito dele. Estou me perguntando como você conseguiu encontrar o ponto ideal.
TAYMOR: Não posso falar por Coppola, mas Fred Roos – o falecido e grande Fred Roos – cuja ideia era que isso se tornasse um musical, ele adorou o livro e Coppola também. Acho que todos nós estávamos tentando contar a mesma história, então acho que não pensei, ‘vou fazer exatamente como o filme’ ou ‘não quero fazer nada parecido com o filme’. Eu pensei, ‘vou pegar tudo o que puder desses materiais de origem incríveis e tentar adaptá-los para esse meio diferente’. Algo que teve um grande impacto em mim, foi visitar Susie Hinton. Ela disse: ‘Você tem os personagens, você tem a história, agora tenha a visão’. Isso foi muito libertador para mim e um guia muito bom. Ela não disse: ‘invente’. Ela disse: ‘Use o que você tem’. Também li outros romances dela, como “Tex”, “Rumble Fish”, “That Was Then, This is Now”, e também assisti sua outra colaboração com Coppola, “Rumble Fish”, que também é ótima e foi uma grande inspiração visual para o nosso musical.
Isso é interessante porque o musical tem alguns elementos muito cinematográficos – os barulhos, o fogo…
TAYMOR: Fico comovida com o fato de as pessoas usarem a palavra cinematográfica para descrever a peça, e o que é interessante para mim é que usamos as coisas que o teatro faz de melhor e que o fazem parecer cinematográfico. Usamos luzes estroboscópicas e blackouts, usamos narrativas expressivas. Eu tentei descobrir, tipo, como você faz o corte de uma cena no palco?
JOLIE: Isso é muito interessante para mim.
TAYMOR: Estamos usando o que o teatro faz de melhor e o que é fascinante para mim, é que isso faz com que pareça cinematográfico, sabe? Na verdade, não existem máquinas em nosso show. Tudo é feito à mão. É tudo analógico e, ainda assim, a sensação é como a de assistir a um ótimo filme, o que eu acho uma coisa linda. Usamos frames congelados, câmera lenta, como tentar brincar com o tempo da mesma forma que você faria em uma sala de edição. Tivemos que pensar: como fazer isso com corpos no espaço?
Angelina, assim que você embarcou no projeto, como você via seu papel? Funcionou como você imaginou?
JOLIE: Depois que nós assistimos, fomos contatadas pelos produtores e eles perguntaram se havíamos gostado. Nós respondemos que sim e eles perguntaram do que mais tínhamos gostado. Então, Viv e eu sentamos juntas e escrevemos sobre o que gostamos e sobre o que ficamos curiosas. E eles responderam às nossas notas. Para mim, foi um momento de aprender mais sobre a Viv, e não de pensar em me tornar produtora. Então nos pediram novamente para pensar mais um pouco, foi quando tivemos a oportunidade de conhecer Danya, Adam e Justin. Acho que em algum momento, parecia que a equipe sentia que estávamos acrescentando algo. Eu realmente queria apenas ser uma forma de apoio, de ouvir e compartilhar meus pensamentos quando fosse útil. Na maioria das vezes, eu estava simplesmente ouvindo. Tenho muito respeito por Danya e seu trabalho. Como diretora, aprendi muito observando-a, como ela garante que os artistas, que estavam fazendo um trabalho tão especial, fossem ouvidos e apoiados.
TAYMOR: Angelina esteve muito, muito presente e forneceu, não apenas apoio, mas também um feedback incrível, não apenas para mim, embora tenha sido definitivamente para mim. Ela foi uma verdadeira campeã em manter uma visão potente, corajosa e brutal como está no livro, mas ela também esteve lá para os atores. Tivemos muitos artistas fazendo sua estreia na Broadway, muitas pessoas entrando no centro das atenções pela primeira vez e ela foi incrivelmente generosa em compartilhar sua experiência. Os ensaios técnicos no teatro não são para quem é fraco do coração. São dias longos e me emocionou muito a presença da Angelina, porque é assim que você ganha a confiança das pessoas e ela nos deu isso. Ela participou intensamente e tinha muita curiosidade sobre tudo. E foi a mesma coisa com a Vivienne. Vivienne assistia ao show e me dava as notas mais incríveis. Ela tem um olho incrível. Então, foi um apoio maravilhoso, maravilhoso, e também, obviamente, tornou o trabalho melhor.
Eu tenho tendência de presumir que, quando produtores famosos são anunciados, geralmente é apenas no nome, para ajudar a divulgar o programa. Isso parece muito mais prático.
TAYMOR: Eu sempre digo que Angelina é verdadeira. Ela esteve presente em todos os sentidos e também nos deu espaço quando precisávamos. E ela dizia coisas como: “Você consegue. Você vai ficar ótimo. Você vai voar. Eu sei disso.” Esses são momentos importantes em que você não sabe se pode fazer algo, até que alguém diga: “Você pode fazer isso. Vá em frente, você consegue”. Momentos em que alguém te empurra para onde você quer ir, mas está com medo.
Angelina, que conselho você daria para os jovens atores do elenco? Eles ficaram intimidados por você?
Bem, eu adoraria trabalhar com Danya como atriz. Ela está muito, muito sintonizada com os atores e em extrair deles autenticidade, em alicerçá-los e em colaborar. Então, durante grande parte do tempo, estive acompanhando esse processo. Depois, com certeza, estive lá sendo um apoio, mas acho que foi realmente estar ao lado dela que me fez acompanhar esse processo. Ela era minha guia. Sempre que havia um momento em que eu percebia que alguém precisava conversar ou apenas… Você sabe, eu tive sucessos, fracassos e estou aqui há muito tempo. É realmente sobre a família que você cria. É um grande privilégio ser uma artista e é uma coisa tão profunda, tão maravilhosa, poder me conectar com um estranho através de uma obra de arte. Somos todos afortunados por apenas desfrutar disso, sabe? Não apenas sentir a pressão, mas também ter essa experiência plena. Acho que isso é parte do que há de especial nesta peça. Ela é plenamente realizada, vivida, discutida e sentida por todos os envolvidos. Ela traz à tona, em cada um de nós, uma discussão sobre nossas próprias questões de vida e dor, sobre família, sobre aquilo pelo o que lutamos. Para mim, está relacionado em fazer parte da equipe. Às vezes, apressamos as coisas hoje em dia e a arte pode ser uma questão de conteúdo, promoção, marketing, venda de ingressos, mas este projeto não é nada disso. É a parte mais profunda de você tentando se conectar com a parte mais profunda de outra pessoa e sermos humanos juntos, e isso é tudo que estamos fazendo.
Parece que você foi picada pelo inseto do teatro. Você acha que fará mais disso?
Eu adoraria. Eu adoraria. Adorei meu papel nisso e adoraria continuar produzindo. E se eu fosse fazer isso como atriz, eu realmente gostaria de estar nas mãos desta equipe. Então, esta sou eu. Eu vou ficar com esse grupo.
Quais foram suas reações às indicações ao Tony?
TAYMOR: Minha reação foi de alegria e alívio. Este trabalho é uma verdadeira colaboração. Todo mundo colocou seu coração, alma, coragem e tempo nesta peça, e então, quando saíram 12 indicações, entre departamentos, escritores, atores, coreografia, designers, direção, isso me fez sentir como se a peça estivesse sendo vista. Eu sei que o reconhecimento, às vezes, vem quando algo é digno. Mas algo pode ser digno e não ser reconhecido. Eu me senti muito orgulhosa do grupo e muito feliz que a colaboração estava sendo vista e que mais pessoas poderiam ser expostas à peça por causa disso.
JOLIE: Algumas noites antes, eu estava conversando com o compositor e roteirista, Justin Levine, e estávamos quase que nos preparando para lidar com algumas questões. Como poderíamos garantir que todos soubessem o quão bons são, independentemente das indicações? Nós queríamos poder cuidar de todos. Eu estava pensando em garantir que todos soubessem que não era a medida do que eles faziam, porque às vezes é um trabalho muito digno e eles não são reconhecidos. Mas acordei com a minha filha sentada na minha cama e acho que ela estava esperando eu acordar e, nossa, foram 12 indicações! Todo mundo foi indicado, sabe? Nós pensamos: Justin foi indicado, Adam foi indicado e Danya foi indicada. Quais atores foram indicados? Josh foi? Você sabe, eles são nossos amigos e nossos amigos foram reconhecidos. Nossos amigos, que amamos e admiramos muito, muito. É muito especial. Muito especial.
A 77ª edição dos Tony Awards será realizada no Teatro David H. Koch, Lincoln Center, na cidade de Nova York, e será transmitida pela CBS no dia 16 de junho de 2024. “The Outsiders” está em exibição no Teatro Bernard B. Jacobs.
• Fonte: Deadline
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