Vogue Reino Unido: Em casa com Angelina Jolie
1 de fevereiro de 2021
Nesta segunda-feira, dia 01 de Fevereiro de 2021, a revista Vogue britânica publicou, em seu site oficial, uma entrevista exclusiva com a cineasta e ativista estadunidense, Angelina Jolie. A atriz falou sobre seu mais recente projeto de direção, seu livro em parceria com a Anistia Internacional e sua luta contínua pelos direitos das mulheres e crianças.
Além da entrevista, Jolie também participou da gravação de um vídeo onde conta o que ela carrega dentro de sua bolsa. Assista o vídeo abaixo e veja as capturas de tela em nossa Galeria!
Entrevista por Edward Enninful.
Ensaio fotográfico por Craig McDean.
Quando o sol nasceu em Los Angeles na primeira terça-feira de novembro do ano passado, trouxe consigo a promessa de um dia auspicioso. Às 7 horas da manhã, as pesquisas na Califórnia eram abertas para apurar uma eleição norte americana que definiu uma geração, quando a equipe da Vogue britânica estacionou em uma propriedade discreta em um lado tranquilo de Los Feliz, encimado por uma atraente villa italiana, construída em 1913, e mergulhada na história de Hollywood. Assim como sua atual proprietária.
Angelina Jolie – atriz, cineasta, humanitária – nos convidou para passar dois dias com ela e nos deixar entrar em seu mundo. Dizer que a casa que ela divide com seus seis filhos – Maddox (19), Pax (16), Zahara (15), Shiloh (14) e os gêmeos de 12 anos Vivienne e Knox – é cheia de vida seria um eufemismo. Risos, tagarelice, comida, coelhos, cachorros, lagartos, debate político, apreciação musical, cortes de cabelo improvisados e reuniões no Zoom fazem parte do dia-a-dia. (As crianças acabaram aparecendo nas fotos também.)
Como tem acontecido ultimamente, eu vim de Londres remotamente para estilizar as fotos. Angelina, que veste suas roupas até ficarem completamente gastas e adora um estilo vintage, compartilhou algumas de suas peças preciosas.
Foi um dia notável … e uma noite … e mais um dia. À medida que as horas passavam, ficávamos todos checando nossos telefones compulsivamente entre uma foto e outra, acompanhando os resultados das eleições se aproximando, nos sentindo cada vez mais tentadoramente animados. Algumas semanas depois, Angelina (45) e eu conversamos, sua risada calorosa e pausas pensativas são tão fascinantes em uma conversa quanto nos cinemas.
O que se segue é o retrato de uma mulher, uma mãe e uma rebelde de coração. Com duas décadas de experiência como ativista humanitária, defensora dos direitos humanos em seu currículo e com uma série de novos projetos artísticos chegando, ela estava, eu descobri, em um humor reflexivo e sincero, cautelosamente esperançoso por seu futuro e pelo futuro do mundo. Como sempre, o que mais impressiona na Angelina é que, não importa o que a vida jogue em cima dela, seu fogo permanece intacto.
Edward Enninful: Angelina, que prazer falar com você hoje. Há um novo presidente se mudando para a Casa Branca; alguns passos positivos, em termos de vacinação, estão sendo dados nesta pandemia; e estamos no limiar de uma nova temporada. Apesar de tudo, você está se sentindo um pouco esperançosa?
Angelina Jolie: Bem, eu coloco muitas das minhas esperanças no futuro da geração mais jovem. Talvez seja porque eu moro com seis crianças, de 12 a 19 anos, então consigo ver este grupo específico – e certamente vejo quanta pressão eles sofrem mais do que nós na idade deles. Eles estão bastante sobrecarregados com muitas informações das quais fomos protegidos. Mas vejo Mad [Maddox] falando online em russo com alguém ou falando com a Coreia do Sul, ou Shi [Shiloh] dizendo oi para seus amigos na Namíbia, e vejo que existe um novo jeito dos jovens se conectarem e se conhecerem de maneira global. É assim que eles vão começar a resolver nossos problemas.
Como foram os últimos meses para você? Eu sei que você está na sua casa em Los Angeles com seus filhos.
Acho que, como a maioria das famílias, tivemos esta gigante coisa acontecendo com a pandemia. Mas é claro que, além disso, você também tem outras coisas acontecendo em sua vida. Em casa, nós entramos nisso depois de sair do hospital com Zahara [que passou por uma cirurgia no início do ano passado], e ficamos tão felizes por ela estar bem que entramos na quarentena com um estado de espírito diferente. Mas, você sabe, também existem outras coisas: Pax entrando no último ano da escola, mas não podendo aproveitar tudo por ser um veterano; Zahara finalmente vai tirar sua carteira de motorista, mas ela está fazendo as aulas com um instrutor envolto em uma roupa de proteção completa e com as máscaras. Esses momentos não estão acontecendo da forma que você imagina. Mas os aniversários continuam e acho que, para muitas pessoas, isso fez com que todos nos sentíssemos mais humanos juntos. Há algo lindo nisso.
Definitivamente existe. Tivemos o grande prazer de fotografá-la em sua casa, que por acaso também é a antiga propriedade de Cecil B. DeMille. Que coisa maravilhosa…
Eu queria que nossa casa ficasse perto do pai deles, que está a apenas cinco minutos de distância. Senti um pouco de pressão me mudando pra cá. Como se tivesse fugido para onde DeMille e Chaplin ficavam. Eu amo o fato de que não existe uma sala de entretenimento, mas muitas trilhas e lugares para caminhar e pensar. Eu me sinto muito feliz por termos isso neste momento.
Você pode descrever um dia típico de sua família?
Bem, nunca fui muito boa em ficar parada e quieta. Mesmo querendo ter muitos filhos e ser mãe, sempre imaginei que eu fosse ser como a Jane Goodall, viajando no meio da selva em algum lugar. Eu não imaginei isso no sentido tradicional e verdadeiro. Eu sinto que não tenho todas as habilidades para ser uma mãe tradicional que fica em casa. Estou conseguindo superar isso porque as crianças são bastante resilientes e estão me ajudando, mas não sou boa nisso.
Oh, eu não acredito nisso!
Bem, eu os amo. Eu sinto que somos uma equipe. Pode soar clichê, mas quando você ama e tenta fazer alguma coisa, mesmo que você queime os ovos, isso não importa no final. Mas você conheceu nossos filhos. Eles são muito capazes.
Isso é como um testamento para você. Você deveria estar orgulhosa.
Obrigado [risos].
Então, nos divertimos muito ao longo de dois dias registrando essa história. Eu sabia o quão importante era para nós refletir através da fotografia em que momento você está agora como mulher. Onde você se encontra na sua vida e qual sua perspectiva?
Estou sentindo que superei algumas coisas. Estou tentando ter esperança. Acho que isso é algo que todos nós descobrimos durante a pandemia.
Uma das coisas que respeito em você é o modo como você nunca desiste de suas paixões. Em breve você estará publicando um livro para crianças e jovens com Geraldine Van Bueren QC e a Amnistia Internacional – pode falar um pouco sobre isso?
O livro recebeu o título “Know Your Rights (And Claim Them)” (Conheça Seus Direitos (e Reivindique-os). Queremos ajudar os jovens a identificar quem ou o que os impede de acessar seus direitos humanos e como tentar superar isso. A mensagem para os jovens é: ninguém tem o direito de prejudicá-los, de silenciá-los.
Fantástico.
Os jovens estão engajados e prontos para lutar. Mas há um nível de desinformação que nunca enfrentamos quando crescemos. Queremos que o livro ajude a dar a eles as ferramentas para fortalecer suas batalhass e capacitá-los de uma forma muito prática.
Trabalho importante.
Talvez seja apenas a jovem punk que existe em mim, mas eu gosto do espírito da juventude. Eu acredito que eles podem ver o certo e o errado com mais clareza. Eu vejo muitas pessoas mais velhas dando desculpas para certos comportamento e tende a ser a pessoa mais jovem que diz primeiro: “Mas isso é simplesmente errado e nós nos opomos a isso”. Eu queria continuar sendo essa pessoa.
Você é a Enviada Especial da Agência das Nações Unidas para os Refugiados. Você está com eles há 20 anos, eu acho?
Vinte anos este ano.
Uau!
Comecei com meus vinte e poucos anos, calçando minhas botas, colocando minha mochila e saindo para tentar descobrir o que diabos estava acontecendo no mundo. Tentei me dar uma educação mais ampla do que tive na escola. Eu cresci em um lugar muito vazio, de muitas maneiras, então tive que ir para outros lugares para encontrar um entendimento mais amplo.
Você mudou durante isso?
Passei por uma fase em que fiquei muito chocada e zangada com um sistema que tolera milhões de pessoas sendo desalojadas pela guerra, genocídio e perseguição. Ainda tenho raiva da injustiça, mas enquanto meu eu mais jovem queria destruir o sistema, aprendi que tenho que lutar para tentar mudá-lo por dentro.
Como você se sente quando olha para trás e vê seu trabalho com a ONU?
Tenho uma relação de amor e ódio com a ONU. Adoro quando vejo soluções práticas e proteção para aqueles que mais precisam. Adoro ver pessoas de todo o mundo arriscando suas vidas por isso. O que eu odeio é o pouco foco dos governos em realmente resolver os motivos da fuga das pessoas. Eu odeio quando não falamos e defendemos os direitos de todas as pessoas igualmente. E odeio quando sinto que o foco não é encorajar as pessoas e os países a serem independentes, quando, na verdade, parecem que se beneficiam com os países quebrados.
Você sente que o discurso sobre os refugiados evoluiu nas últimas duas décadas?
Acho que piorou. Falamos como se os refugiados fossem um fardo. Mas eles tiveram que se adaptar. Eles têm um conjunto de habilidades diferente, uma aparência diferente em seus olhos. Eles enfrentaram sua própria humanidade de uma forma tão profunda. Eles resistiram à opressão. Devemos honrar sua luta. Honre as pessoas que fugiram de bombas e protegeram seus filhos.
Você já dirigiu filmes e documentários e está prestes a voltar para trás das câmeras para produzir a biografia do fotógrafo de guerra, Don McCullin. Don é um dos meus fotojornalistas favoritos – o que fez você querer adaptar a autobiografia dele para o cinema?
Ainda estou muito nervosa. Outro dia mesmo, pensei em enviar um e-mail para ele e fazer algumas perguntas e estive editando o que escrevi para fazer tudo certo. Ele é incrível. A história é sobre Don, mas também é sobre os conflitos dos quais ele testemunhou e as vidas das pessoas nas fotos, agora famosas, sobre quem elas eram e a verdade, muitas vezes mais sombria, sobre esses conflitos.
E você vai interpretar uma adaptação dos quadrinhos para o cinema ainda este ano em “Eternals” da Marvel, com Richard Madden e Salma Hayek. Ouvi dizer que pode haver uma roupa dourada envolvida?
Eu amo esse elenco e o fato de que todos nós estivemos juntos. Eu quis fazer este papel para apoiar a visão de Chloé [Zhao] e o compromisso da Marvel em expandir a forma como vemos os “super-heróis”. Correr por aí com um macacão dourado não era como eu imaginava meus quarenta anos. Mas é uma boa loucura, eu acho.
Você se sente como se estivesse em uma fase feliz de sua vida?
Eu não sei. Os últimos anos foram muito difíceis. Tenho me concentrado em recuperar nossa família. Está voltando lentamente, como se fosse derretimento de gelo e com o sangue retornando ao meu corpo.
É uma jornada…
Mas não estou lá. Ainda não cheguei lá. Mas espero conseguir. Estou planejando isso. Eu gosto de ser mais velha. Sinto-me muito mais confortável na casa dos quarenta do que quando era mais jovem. Talvez porque … eu não sei … talvez porque minha mãe não viveu muito tempo, então há algo sobre a idade que parece uma vitória em vez de uma tristeza para mim.
Absolutamente.
Então eu gosto. Estou ansiosa para chegar nos meus cinquenta anos – sinto que vou atingir o meu verdadeiro ritmo nos meus cinquenta. Embora estivéssemos brincando na cama elástica outro dia e as crianças dissessem: “Não, mãe, não faça isso. Você vai se machucar.” E eu pensei: “Deus, isso não é engraçado?” Houve um dia em que eu era uma estrela de ação e agora as crianças estão me dizendo para descer do trampolim porque vou me machucar.
Eu amo isso. As crianças sempre vão te dizer como são as coisas.
Mesmo em tenra idade, eles sabem que o que importa é se sentir seguro, amado e estável. Para não ver aqueles que você ama prejudicados. Para conhecer sua própria mente e a verdade e não viver uma mentira.
Você fez um esforço conjunto em educá-los para serem cidadãos globais. Por que é tão importante educá-los dessa maneira?Eles são do mundo todo. Quando vejo Mad no Camboja, aquela é a casa dele. Ele é um homem cambojano e, ao mesmo tempo, também é um cidadão americano e um cidadão global. Mas não é importante apenas para ele ir para lá, é importante que seus irmãos posssam ir também. Temos sido muito abençoados por ter uma família de diferentes culturas e raças. Estamos todos aprendendo uns com os outros.
Você construiu uma família de indivíduos.
Ah, bem, eu sinto que existe um grande problema neles me aceitarem, sabe? Quero dizer, isso é coisa para muitas mães e para muitos pais de qualquer maneira. Mas acho que isso existe ainda mais quando você adotou. Eles também têm que escolher você. Não é a família dos seus pais biológicos, mas eles estão nela. É nossa família.
Que conselho você daria aos pais sobre como inspirar seus filhos a serem socialmente e ambientalmente conscientes?
Bem, eu sei que isso pode parecer estranho, mas não crie para eles o dever de fazer o bem ou ter que retribuir. Se pudermos ajudar as crianças a sentir que não se trata de dever, serviço ou caridade, mas sim da alegria de uma vida interconectada com pessoas que você respeita, então a sensação é muito diferente.
Foi maravilhoso ver nas fotos, que as crianças estavam se divertindo muito com as roupas. Todos eles parecem ter estilos tão distintos.
Eu não poderia forçar alguma coisa ou alguém, o que faz parte da diversão. Eles são todos muito diferentes.
Eles são muito legais, não são?
Eles são [risos].
Como você se deu conta sobre as mudanças que vieram com maternidade, à medida que seus filhos cresceram, digamos, desde o início até agora?
Eu era a melhor amiga da minha mãe. Eu adorava quando eles eram bebês, mas adoro sentar à noite e conversar com meus filhos. Eu gosto da adolescência. Eu gosto dos anos mais velhos. Eu amo sair com eles.
Eles desafiam suas opiniões, às vezes?
[Risos] Oh, sim … Eles pensam que eu sou um pouco ridícula, como deveriam. E todos eles me conhecem de maneiras diferentes. Você sabe, todos eles chegaram ao momento em que percebem que não há nada de especial sobre mim. Eu sou apenas mais velha. Eu não tenho a resposta para todos os segredos.
Você é uma mãe.
Eu sou uma mãe.
Você sempre foi muito bem avaliada com relação às suas escolhas de moda.
Eu invisto em peças de qualidade e depois as uso até a morte. Botas, casaco preferido, bolsa preferida, não mudo muito, sabe? Essa é uma das minhas coisas.
Existe um elemento de sustentabilidade nisso também?
Estamos todos tentando descobrir qual é a melhor maneira, mas imagino que haverá cada vez mais regulamentações e acho que é a melhor coisa que pode acontecer. Porque mesmo um consumidor atencioso pode ser enganado por uma boa promoção de algo que não é bom de fato, certo?
De fato.
Desfrutar das suas peças vintage, se as tiver, e redescobrir algumas lojas vintage parece fazer parte do caminho a seguir. E com a beleza, Guerlain é realmente uma das minhas favoritas. Z [Zahara] e eu compartilhamos os produtos de perfume, como loção e sabonete líquido. Eu amo que ela e eu nos lembremos uma da outra por um cheiro. Especialmente porque minha primeira memória de Guerlain era o cheiro do pó facial que minha mãe usava.
Você mencionou a Guerlain. Você poderia nos contar sobre seu projeto com eles e as apicultoras?
O objetivo é ajudar a treinar mulheres de diferentes países para trabalhar como apicultoras. Na verdade, uma das primeiras mulheres a entrar no programa será da área onde trabalhamos no Camboja.
Isso é fantástico. Então me diga algo que as pessoas não sabem sobre você que pode surpreendê-los.
Meu Deus. Sempre ouvi pessoas fazerem essa pergunta e penso no fundo da minha cabeça: “Eu me pergunto o que eu diria se alguém me perguntasse?” Mas eu nunca preparei uma resposta. Hmmm. Alguém disse que a surpresa sobre mim é que sou uma especialista em política externa enrustida. Eu sou um pouco mais chata do que as pessoas pensam … Eu sou um pouco geek.
Por fim, como outra pessoa que não tende a se desligar muito, adoraria saber o que você faz para tentar relaxar, para que eu possa ter algumas aulas.
Ha! Se alguém pudesse me dizer como relaxar, eu gostaria de saber. Nunca aprendi como, e decidi, aos 45, que nunca vou aprender.
Concordo [risos].
Eu vou mais longe.
Eu amo isso.
Eu simplesmente vou fazer isso.
Fonte: Vogue
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