Jolie entrevista jovem cientista para a revista TIME
5 de dezembro de 2020
“Observe, faça um brainstorm, pesquise, construa e comunique.” Isso é o que a brilhante jovem cientista e inventora, Gitanjali Rao, disse à atriz e ativista, Angelina Jolie, através da plataforma “Zoom”, em sua casa no Colorado, durante o intervalo de suas aulas virtuais.
Com apenas 15 anos de idade, Rao foi selecionada entre os mais de 5.000 estudantes nomeados à primeira edição do prêmio “Kid of the Year” da TIME. Ela falou sobre seu surpreendente trabalho, que utiliza a tecnologia para resolver problemas que vão desde água contaminada, à dependência de opioides, cyberbullying e sobre sua missão em criar uma comunidade global de jovens inovadores para resolver problemas em todo o mundo.
Mesmo na conversa de vídeo, sua mente brilhante e espírito generoso transparecem, junto com uma mensagem inspiradora para outros jovens: “Não tente resolver todos os problemas, apenas concentre-se em um que te estimula. Se eu posso fazer essas coisas, qualquer um pode”.
ANGELINA JOLIE: Quando você descobriu que a ciência era sua paixão?
Eu sinto que não houve realmente um momento específico. Sempre fui alguém que queria colocar sorrisos nos rostos das pessoas. Esse era meu objetivo diário, apenas fazer alguém feliz. E logo se transformou em: Como podemos trazer positividade e coletividade para o lugar em que vivemos? E então, quando eu estava na segunda ou terceira série, comecei a pensar sobre como podemos usar a ciência e a tecnologia para criar mudanças sociais. Eu tinha uns 10 anos quando disse aos meus pais que queria pesquisar sobre os sensores de nano tubos de carbono, no laboratório de pesquisa de qualidade da água de Denver Water. Na época, minha mãe disse: “Pesquisar o que?” [Nota do editor: são moléculas cilíndricas feitas de átomos de carbono, muito sensíveis a mudanças químicas e, portanto, são boas para detectar produtos químicos na água, entre outros usos.] Foi um fator de mudança, você sabe, este trabalho logo estará nas mãos da nossa geração. Então, se ninguém vai fazer essas coisas, eu vou.
Eu amo isso. Muito do que minha geração deveria estar fazendo, era garantir que causássemos o mínimo de danos possível para que a próxima geração possa assumir a liderança. Sei que uma de suas inovações mais recentes ajuda a prevenir o cyberbullying. Você poderia me falar sobre isso?
É um serviço chamado Kindly – que funciona como aplicativo e extensão do Google Chrome – que é capaz de detectar o cyberbullying em um estágio inicial, com base na tecnologia de inteligência artificial. Comecei a codificar algumas palavras que poderiam ser consideradas como bullying e, então, meu mecanismo selecionou essas palavras e identificou palavras semelhantes. Você digita uma palavra ou uma frase e ele é capaz de identificá-la, caso seja bullying. Além disso, ele oferece a opção de editá-la ou enviá-la como está. O objetivo não é punir. Já que eu sou uma, sei que, às vezes, adolescentes tendem a atacar os outros. Em vez disso, o mecanismo dá a você a chance de repensar o que está escrevendo para saber o que fazer na próxima vez.
Então você acabou de disponibilizar este serviço nos telefones das crianças?
Sim. Eu fiz uma pesquisa com pais, professores e alunos e, honestamente, esperava que os alunos não quisessem ser micro gerenciados.
Certo. Com certeza, meus filhos falariam: “Não encoste no meu celular, eu mesmo faço isso”.
Exatamente assim que eu também faria. Mas muitos adolescentes me disseram que não pareciam que estavam sendo microgerenciados; parecia que estavam tendo a oportunidade de aprender com seus erros. Então, isso me deixou superexcitada, já que eles entenderam qual era o objetivo disso.
A maneira como você está falando sobre tecnologia, como uma ferramenta para lembrar as pessoas e ajudá-las a crescer, parece uma coisa muito nova e diferente. É tão emocionante ter uma jovem inventora com visão de futuro. Isso afeta você de alguma forma? É surpreendente porque vejo as mulheres como seres brilhantes, mas existem tão poucas mulheres nas áreas da ciência e tecnologia.
Não me pareço com um cientista típico. Quando eu vejo cientistas na TV, sempre é alguém mais velho e geralmente um homem branco. Sempre achei isso estranho, pois era quase como se as pessoas tivessem papéis atribuídos, em relação ao sexo, idade e cor da pele. Meu objetivo realmente mudou, não apenas com relação a criar meus próprios dispositivos buscando resolver os problemas do mundo, mas também para inspirar outros a fazerem o mesmo. Porque, por experiência própria, não é fácil quando você não vê ninguém igual a você. Então, eu realmente quero deixar essa mensagem: se eu posso fazer isso, você também pode, assim como todas as outras pessoas podem.
Eu sei que você tem essas “sessões de inovação”. Me conte sobre isso.
Eu descobri como isso funcionou para mim e decidi compartilhar com todo mundo. Então eu criei esse processo que, agora uso para tudo: é o de observar, fazer um brainstorm, pesquisar, construir e comunicar. Tudo começou com uma apresentação simples e planos de aula, e então comecei a aplicar isso criando laboratórios e concursos que os alunos poderiam fazer. Agora, fiz parceria com escolas rurais, com meninas das organizações STEM, com museus em todo o mundo e com organizações maiores, como o grupo Internacional de Ciência e Tecnologia da Juventude de Xangai (Shanghai International Youth Science and Technology Group) e a Royal Academy of Engineering de Londres para realizar workshops de inovação. Os alunos com quem trabalho, simplesmente não sabem por onde começar. Eu acho que se você der a eles aquela centelha de que eles podem criar coisas, então isso muda tudo. Isso significa que mais uma pessoa neste mundo deseja ter ideias para resolver problemas. No final de cada workshop, todos têm algo em que podem começar a trabalhar. Se você puder fazer isso em 45 minutos a uma hora, imagine o que poderá fazer se passar meses e meses trabalhando nisso. Fico muito animada quando recebo um e-mail dizendo: “Ei, participei de seu workshop há quatro meses e aqui está meu produto acabado, realmente adorei, é um sapato que liga para o SAMU”.
Isso é incrivelmente impressionante. Para muitos jovens, é necessário muito esforço para encontrar a confiança necessária de apresentar uma ideia. Você tem uma mente brilhante, claramente, mas você é muito, muito generosa com ela e isso é realmente maravilhoso. No que você está trabalhando agora?
Atualmente, estou trabalhando em uma maneira fácil de ajudar a detectar biocontaminantes na água – coisas como parasitas. Espero que isso seja algo barato e preciso para que as pessoas nos países de terceiro mundo possam identificar o que está em sua água. E recentemente alcancei minha meta de 30.000 alunos que orientei, o que é super excitante. É como criar uma comunidade de inovadores. Eu realmente espero que o trabalho que todas essas crianças estão fazendo identifique a inovação como uma necessidade e não como algo que é mais uma escolha. Espero poder ser uma pequena parte disso.
Eu acho que você é. Sua geração é única. Você não apenas aceita o que está sendo apresentado, mas realmente questiona, e isso é muito importante. Eu sei que existem muitos, muitos problemas que enfrentamos hoje. Com o seu trabalho sobre a contaminação da água, o meio ambiente é algo que está no seu radar?
Sim. Nossa geração está enfrentando tantos problemas que nunca vimos antes. Mas, ao mesmo tempo, enfrentamos velhos problemas que ainda existem. Tipo, estamos sentados aqui no meio de uma nova pandemia global e também estamos enfrentando questões de direitos humanos. Existem problemas que não criamos, mas que agora temos que resolver, como as mudanças climáticas e o cyberbullying com a introdução da tecnologia. Acho que mais do que qualquer coisa agora, só precisamos encontrar aquela coisa pela qual somos apaixonados e resolvê-la. Mesmo que seja algo pequeno, eu quero encontrar uma maneira fácil de recolher o lixo. Tudo faz a diferença. Não se sinta pressionado a inventar algo grande. A maior parte do meu trabalho com os biocontaminantes é baseada em uma solução baseada em genes que ainda estou tentando descobrir. Também estou trabalhando em um produto que ajuda a diagnosticar o vício em opioides prescritos em estágio inicial, com base na produção de proteína do gene receptor. Eu estive muito, muito interessada em genética. É disso que eu gosto, então é nisso que estou decidindo trabalhar.
Sabe, uma das coisas que você disse é muito importante e, às vezes, existem tantas coisas para serem feitas que você pode acabar ficando confusa. Quando comecei a trabalhar nos campos de refugiados, havia muitos problemas diferentes para lidar em uma situação de deslocamento de pessoas. Você fica sobrecarregada e realmente não consegue sair da onde está. Eu amo o que você está dizendo: encontre alguma coisa que você gosta, mas não tente resolver tudo de uma vez. Cada solução é parte de um quadro maior do que temos que fazer. Eu realmente ouço isso e agradeço por você dizer isso. Onde você consegue suas notícias ou faz sua pesquisa?
Minhas notícias de cultura moderna são, na verdade, da MIT Tech Review. Eu leio constantemente. Eu acho que é realmente onde acho inspiração: ouvir sobre todas essas pessoas incríveis em escolas como a MIT e Harvard, que estão fazendo um trabalho incrível com tecnologia. E tento conectar de volta ao que vejo lá fora e colocá-lo junto de uma forma que ninguém viu antes.
Quando você não está fazendo todas essas coisas incríveis – porque a impressão que dá é que estou falando com um cientista de 60 anos em Genebra – o que você faz que seja apenas uma coisa de uma adolescente de 15 anos?
Na verdade, passo mais tempo fazendo coisas de uma adolescente de 15 anos durante a quarentena. Asso comida. Não fica muito bom, mas é assado. E, tipo, é ciência também.
Então a ciência da cozinha não é sua especialidade?
Acho que não, não. Para ser justa, na maioria das vezes, não temos ovos em casa, ou farinha, então eu tenho que entrar na internet e pesquisar biscoitos sem ovo, sem farinha e sem açúcar, e então tento fazer isso. Fiz pão recentemente e ficou bom, por isso estou orgulhosa de mim mesmo.
Bem, estou muito feliz em poder te conhecer um pouco. Tenho certeza de que usarei suas invenções nos próximos anos e ficarei maravilhada, conforme verei você fazer mais e mais em sua vida, e poderei dizer: “Eu conversei com ela uma vez.”
Fonte: TIME
Vídeo:
Fotos:
- Notícia anterior: Filme estrelado por Jolie ganha data de estreia no Brasil
- Próxima notícia: Angelina e Knox fazem compras em Los Angeles