Vogue Espanha entrevista Angelina Jolie
22 de setembro de 2019
A edição do mês de Outubro de 2019 da revista Vogue Espanha, trouxe uma entrevista exclusiva com a atriz Angelina Jolie, na qual ela fala sobre a nova edição do perfume Mon Guerlain, seu papel como Malévola no novo filme da Disney, seu trabalho humanitário, sobre o mundo feminino entre outras coisas. Confira abaixo a tradução feita na íntegra pelo Angelina Jolie Brasil.
Entrevista e artigo por C. Lanchares
Fotos por Andres Kudacki
Rebelde com causa: Angelina Jolie é o exemplo vivo de como se pode defender um discurso poderoso e um forte compromisso sem perder os papéis. A ajuda aos refugiados, a luta pelos direitos das mulheres e o apelo pela liberdade são algumas das causas que movem a atriz e musa da Guerlain.
Conversar com Angelina Jolie (nascida em Los Angeles, 1975) tem um efeito tão surpreendentemente relaxante como uma sessão de yoga. Sua voz exala o efeito tranquilizador de um mantra e a loquacidade morna de suas mãos tem a beleza de uma coreografia de ásana. Só assim se entende o poder quase hipnótico que esta mulher exerce sobre seu interlocutor, já que seu grande atrativo, por incrível que pareça, reside no menos óbvio.
Ao ponto de ver-la novamente no papel da vilã (Malévola: Dona do Mal estreia dia 17 de Outubro) e encarnando outra vez, em um segundo comercial, o espírito do perfume Mon Guerlain, agora em sua versão L’eau de parfum Intense, a atriz vai se revelando pouco a pouco. Confessa que vive um momento de resiliência.
“Sinto que estou me recuperando de uns anos difíceis. E me encontro mais flexível e lutadora”. Ainda assim, admite que pode chegar a ser muito rígida consigo mesma. “Sempre penso que não sei o suficiente, por isso constantemente tento melhorar e aumentar meus conhecimentos em diferentes aspectos”. Billy Bob [Thornton, com quem esteve casada durante pouco mais de dois anos e com quem adotou seu primeiro filho, Maddox, no Camboja] costumava dizer que eu tenho um espírito acelerado. Não sei muito bem o que isso significava, mas acredito que existe algo de verdade: não fico parada, nunca relaxo, sempre estou me movimentando e esperando o que está por vir”.
Pra quem era uma adolescente rebelde, daquelas que ninguém pensava que fosse seguir carreira, hoje é uma atriz reconhecida, diretora e roteirista, devota aos seus seis filhos – três deles adotados – e uma mulher com grande compromisso humanitário.
“Tenho trabalhado com refugiados há 18 anos. Quando comecei, os dados os situavam em uns 20 milhões; hoje são mais de 70 milhões e a metade deles é formada por crianças. O número aumenta em mais de 3.000 por dia. As pessoas desabrigadas são as mais vulneráveis porque formam uma comunidade que tem todos os problemas de uma população normal, assim como também os problemas exclusivos dos refugiados. Existem pessoas doentes, crianças que precisam de educação, mulheres mal tratadas… todas na fronteira, ou presas sem saber até quando. É uma crise que se mantém depois de 40 anos, por guerras e falta de diplomacia. Isso tem que acabar e as pessoas precisam retornar para seus lares”.
Com relação a estas questões, Angelina é absolutamente beligerante. Ela também é assim pela causa feminina. “Acredito que nós temos que nos concentrar em alterar as leis para proteger as mulheres. Elas podem ser incentivadas a falar sobre os direitos, sobre sexualidade ou religião, mas em muitos lugares isso é uma difícil de fazer porque elas podem acabar na prisão, serem vítimas de abuso ou ignoradas. E não existe um lugar em que estejam totalmente protegidas, incluindo regiões da América, onde achamos que existem certos direitos e que são protegidas. Mas não é verdade. Ainda existe muito caminho para percorrer. Precisamos de justiça para os crimes contra as mulheres. Isso fará a diferença e nos levará a uma verdadeira mudança”.
A liberdade é outro dos valores que regem sua vida. “Tenho uma tatuagem nas costas que diz “conheça seus direitos” (know your rights) que foi feita em homenagem ao meu filho Pax” – adotado no Vietnã em 2007. “Acredito que o mais importante para todos é ter liberdade e poder viver com todo nosso potencial. Precisamos nos liberar daquilo que nos aprisiona e nos faz mal. Por isso, precisamos fazer mais para conseguirmos mudar as coisas e para que exista um custo ao cometer crimes contra mulheres e crianças. Temos que ficar mais fortes”.
Sua generosidade é outro dos atributos que mais se destacam para quem a conhece. Algo que a leva não apenas para as causas mais desfavorecidas, mas também para aquilo em que acredita. Inclusive aos negócios. De fato, Laurent Boillot, presidente e diretor geral da Guerlain, menciona a atriz como aquela que mais esteve envolvida e como aquela que contribuiu mais do que o habitual como embaixadora de uma marca. “Na primeira campanha de Mon Guerlain, ela nos abriu a porta de sua casa na região da Provença francesa e para este novo comercial, ela mesma propôs de gravarmos em sua casa no Camboja. Ela foi muito generosa. Ela permitiu que entrássemos em sua intimidade e conhecêssemos um país que é muito querido para ela e onde está a origem de sua maternidade. Como pode ver, este comercial também está impregnado de verdade”.
O Camboja foi um ponto na vida de Angelina. “Mudou a minha vida e o modo de ver as coisas. Meu primeiro filho é de lá e, por isso, somos uma família cambojana. E Shiloh – sua primeira filha biológica, nascida na Namíbia – escolheu estudar o cambojano como seu segundo idioma. É nossa casa. Eu mantenho lá uma Fundação há muito tempo e adoro meus vizinhos. São pessoas incríveis, a comunidade é genial e, por exemplo, todos trabalhamos juntos no ano passado para melhor as condições desta região que sofreu tanto. Quando compramos um imóvel para construir as oficinas principais da Fundação Maddox (dedicada a conservação ambiental) encontramos, na propriedade, muitas marcas da passagem do Khrmer Vermelho. Por isso, eu gosto da ideia de ter conseguido transformar algo muito sombrio em algo com uma finalidade e um futuro mais positivo. Agora é um lar.”
A gravação desta nova campanha publicitária de Guerlain no Camboja Também deve ter sido uma espécie de impulso para a equipe. “Não é muito comum que esteja trabalhando em um projeto onde se vai mais além de onde está acostumado. Me refiro a equipe. Eles vieram até minha casa, conheceram os agricultores locais e nos explicaram seus projetos. A verdade é que estávamos trabalhando em um perfume, mas na realidade todos nós estávamos pensando sobre a vida e em estar agradecido. Isso é importante.”
Hoje as prioridades de Angelina Jolie se concentram em sua família. Por isso, ainda que prefira dirigir ao invés de atuar, no momento, está mais dedicada à segunda opção. “Minha família precisa de mim e tenho que me concentrar nela um pouco mais. A direção é um trabalho muito exigente, que pode levar até dois anos. Por isso, agora, escolho a interpretação, que não leva mais do que alguns meses”. A mais esperada, sua nova aparição como Malévola na sequência da Disney. “Adorei trabalhar com Elle” [Fanning] – que repete o papel de Princesa Aurora – “e com Michelle” [Pfeiffer] – que interpreta o papel da Rainha Ingrith. “Nós nos divertimos muito com nossas personagens, dando vida a três mulheres muito diferentes e explorando os diferentes lados do que é ser mulher atualmente. Para trás, ficaram os dias em que as mulheres se apresentavam como se fossem apenas uma coisa, quando sempre fomos muito mais”.
Ela ainda se identifica com a mensagem subentendida do filme: “Às mulheres jovens de hoje, é dito que elas devem ser firmes e fortes e que, às vezes, tem que batalhar. Mas é igualmente empoderante a ternura, em ser aberta e em se ajudar mutuamente. Todas temos ambas facetas, a selvagem e rebelde, assim como a simpática e educada. Essa dualidade é também parte da nossa força. Uma mulher que é fiel a si mesma, é uma mulher que toma suas próprias decisões”.
Se tornar musa de Guerlain provavelmente significou um balão de oxigênio para aqueles momentos complicados que ela estava vivendo. Entretanto, assegura que nunca apoiaria um projeto no qual não acreditasse. “Eu gosto desta empresa. Nunca tentaram me forçar a ser quem não sou e, além disso, estão muito comprometidos com a biodiversidade. Nos demos bem trabalhando juntos. Agora somos uma especie de família!”
Em nossa Galeria, foram adicionadas 3 scans da revista. Clique em qualquer uma das miniaturas para ter acesso ao álbum.
Fotos:
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