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Angelina Jolie escreve artigo sobre crise de refugiados

18 de dezembro de 2018

Nossa resposta à situação dos refugiados no próximo ano será o medidor da nossa humanidade, escreve Angelina Jolie, atriz e Enviada Especial da UNHCR.

O número de refugiados em todo o mundo subiu durante seis anos consecutivos. Cerca de 68 milhões de pessoas estão agora deslocadas pela violência e pela perseguição – o equivalente a um quinto da população da América, quase metade da população da Rússia e mais do que toda a população da Grã-Bretanha.

Ao mesmo tempo, o apoio humanitário é cronicamente subfinanciado. Em setembro de 2018, a Agência para os Refugiados das Nações Unidas, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR / ACNUR) e seus parceiros receberam apenas 31% dos fundos necessários para fornecer assistência básica a milhões de refugiados sírios e pessoas deslocadas.

A mesma situação terrível também existe em outros lugares, com menos da metade dos recursos humanitários necessários, na grande maioria dos países afetados por conflitos. Se nada for feito, esta tendência de números crescendo e recursos escassos continuará com graves consequências em 2019.

Esta não é uma situação sustentável. A resposta não está nos países que adotam medidas unilaterais severas que miram nos refugiados e que são contrárias aos valores e às responsabilidades humanitárias. Isso só vai piorar o problema.

Em vez disso, devemos reduzir o número de pessoas deslocadas em todo o mundo, prevenindo e resolvendo os conflitos que as expulsam de suas casas.

Temos de reunir pessoas e países para agirem juntos com base em interesses comuns e aspirações universais de segurança, dignidade e igualdade. Este assunto não tem que vir às custas da nossa segurança e bem-estar econômico em casa, mas é um requisito essencial para enfrentar problemas de dimensões internacionais.

Direitos, financiamento, ação

Vamos aos fatos. Em primeiro lugar, 85% de todos os refugiados vive em países de baixa e média renda. A maioria das pessoas deslocadas pela violência permanece dentro das fronteiras de seus próprios países. Aqueles que são forçados a sair, tendem a permanecer o mais perto possível de casa, em nações vizinhas.

Menos de 1% de todos os refugiados são reassentados, inclusive nos países ocidentais. Os países mais pobres do mundo estão arcando com o peso deste fardo. Não podemos supor que eles continuarão a fazer isso, independentemente das políticas das nações mais ricas. Se o número de refugiados crescer, como provavelmente ocorrerá em 2019, o mesmo ocorrerá com a tensão desse desequilíbrio, a menos que façamos um trabalho melhor para compartilhar responsabilidades.

Em segundo lugar, apesar de toda a generosidade dos contribuintes no Ocidente e de todas as vidas salvas, os bilhões de dólares para ajuda humanitária fornecidos anualmente não chegam nem perto de atender às necessidades de 68 milhões de pessoas deslocadas à força, ainda mais se os números continuarem crescendo.

Terceiro, até dois terços de todos os refugiados que estão sob o mandato do ACNUR vêm de apenas cinco países: Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar e Somália. A paz, em qualquer um deles, criaria condições para as pessoas voltarem para casa e reduzir o número de refugiados em todo o mundo, em milhões. Nas democracias, nós, como eleitores, devemos desafiar nossos políticos a responder como suas políticas abordam as raízes do problema.

Já conseguimos reduzir os números anteriormente. Quando comecei a trabalhar com o ACNUR em 2001, o número de refugiados em todo o mundo estava diminuindo. Uma das minhas primeiras missões foi acompanhar os refugiados cambojanos que retornavam para casa. Conheci algumas das muitas pessoas que voltaram para seus lares após o fim dos conflitos na antiga Iugoslávia. Olhando mais fundo na história, após a Segunda Guerra Mundial, milhões de refugiados foram reassentados.

Esta estratégia dará visão, persistência e força. Não será a paródia de força envolvida em conversas duras contra os refugiados, mas a determinação, a vontade e a habilidade diplomática necessárias para negociar acordos de paz, estabilizar países inseguros e manter o estado de direito.

O refugiado é um homem, uma mulher ou uma criança em seus estado mais vulnerável: forçados a sair de casa, vivendo sem a proteção de seu estado e, em muitos casos, sem os meios de sobrevivência. É a condição humana que testa nossa crença de que todos os seres humanos têm direitos iguais e merecem proteção.

Nós vivemos em tempos de divisão. No entanto, a história também mostra nossa capacidade de nos unir, superar uma crise global e renovar nosso senso de propósito e comunidade com outras nações. Essa é a maior força de uma sociedade aberta.

Em 2019, não devemos deixar o debate para aqueles que exploram a ansiedade do público em benefício político. Estamos sendo testados hoje. Nossa resposta será o medidor de nossa humanidade.

Fonte: The World in 2019 – The Economist