Entrevistas / TimeToAct / Violência Sexual

Jolie fala sobre o estigma do estupro em entrevista

4 de dezembro de 2018

Angelina Jolie está aumentando sua batalha contra o estigma do estupro. Lançada em 2012, por Jolie ao lado do antigo Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, a Prevenção à Violência Sexual em Conflitos é uma Iniciativa global focada não apenas em acabar com os estupros, mas também em acabar com o estigma social enfrentado pelos sobreviventes da violência sexual e em prover justiça às vítimas.

“A violência sexual em conflitos ainda é um assunto visto como tabu. Sobreviventes do sexo feminino e do sexo masculino, crianças nascidas do estupro, são pessoas frenquentemente tratadas como se tivessem feito algo errado. Essas pessoas são rejeitadas e estigmatizadas enquanto seus agressores continuam impunes. É isso o que precisa ser mudado e quebrar o tabu existente, faz parte disso,” disse Jolie à revista Marie Claire durante uma entrevista exclusiva através da qual, explicou porque o estigma existe.

Liderando este esforço global está o Reino Unido que desde o lançamento da Iniciativa de Prevenção à Violência Sexual em Conflitos forneceu assistência médica, social e jurídica a milhares de sobreviventes, ajudou organizações em comunidades locais, apoiou sobreviventes e treinou mais de 17.000 militares e policiais sobre como prevenir e como reagir à violência sexual e criou diretrizes com a finalidade de ajudar e fortalecer a coleta de evidências e de documentos para levar os criminosos à justiça. Além de encontrar maneiras de tornar mais fácil, para os sobreviventes, a denunciar os crimes nas situações em que não podem ir até as autoridades locais, Jolie também está lutando para resolver déficits no financiamento realizado pelos governos que visam a proteção, o apoio psicossocial e outros programas de ajuda aos sobreviventes, bem como reparações que buscam auxiliar os sobreviventes a reconstruírem suas vidas. Ela também está pedindo pela criação de um órgão internacional de investigação que possa tomar medidas e determinar se um crime de violência sexual realmente ocorreu, coletar evidências e possibilitar um processo judicial rápido e eficaz.

Este é apenas o começo.

“Nossos parceiros neste esforço, são as vítimas que denunciaram, são as ONGs locais e os governos ao redor do mundo, bem como os militares. Temos que resolver isso compreensivamente. Nós precisamos ir ao centro de onde ocorrem os abusos e fazer mudanças, exigirmos novas práticas e responsabilização. Para dar um exemplo, 37 países ainda isentam os autores do crime estupro de um processo judicial se eles forem casados com suas vítimas ou se eles concordarem em se casar com elas depois. Mais de 60 países não incluem sobreviventes do sexo masculino dentro do escopo de sua legislação de violência sexual. Portanto, temos que mudar as leis e as atitudes. E temos que encontrar maneiras de conseguirmos condenações e ações penais bem sucedidas, de modo que não exista mais crime sem impunidade”, disse Jolie.

Como parte deste esforço, a Iniciativa realizou um Festival de Cinema em Londres no mês de Novembro deste ano. O evento, que recebeu o nome de “Fighting Stigma Through Film” visava abordar especificamente o aspecto social da causa e a discriminação que os sobreviventes de estupro em zonas de guerra enfrentam.

“Eu acho que o cinema tem o poder de nos fazer viver a experiência de outra pessoa de uma forma única e diferente. Mas também é uma maneira realmente importante de iniciar um dialogo, de afirmar que essas coisas acontecem ou aconteceram em nossos países e que precisamos falar sobre isso. Muitas vezes, depois de uma guerra, a violência sexual se torna um assunto sobre o qual ninguém quer falar, que é varrido para debaixo do tapete. E se ninguém fala a respeito disso, não existe justiça, não existe cura e encerramento”.

E a conversa não pode ser feita exclusivamente para mulheres, salienta Jolie. Para que a mudança aconteça, este assunto precisa ser um tópico sobre o qual homens e mulheres são informados. “Eu não falo sobre isso apenas com as minhas filhas. Eu converso sobre isso também com meus filhos. Talvez, essa seja a primeira distinção importante. Este não é apenas um problema das mulheres e a solução é trabalhar este assunto com homens e mulheres. Meninas e meninos. Não só com os homens e com os meninos que foram vítimas desses crimes, mas também com aqueles homens que praticaram esses crimes. É preciso que os homens lembrem os autores destes crimes sobre o que é realmente ser homem. Um homem com relacionamento saudável com mulheres. E todas as sociedades precisam ser claras em não tolerar esse comportamento”.

Artigo escrito por Sally Holmes.
Traduzido por Angelina Jolie Brasil.

Fonte: Marie Claire

Você pode ver as imagens do evento em nossa Galeria de Fotos.