O Making Of de Angelina Jolie
26 de abril de 2018
Continuando com o tema do Dia Internacional da Mulher, o jornalista argentino Fabián W. Waintal entrevistou a cineasta, humanitária e atriz, Angelina Jolie, para a revista “Equity”.
A grande multidão que se encontrava ao lado de fora do Studio Glenn Gould, na cidade de Toronto, no Canadá, continuava a receber pessoas, já que Angelina Jolie iria atravessar aquelas portas (e que exigia apenas uma condição: não responder perguntas sobre Brad Pitt). A graciosa atriz estava menos preocupada em chegar atrasada para a entrevista, e mais preocupada em apertar as mãos de seus fãs e tirar selfies, a caminho do local. Para Angelina Jolie, os fãs sempre vem em primeiro lugar, as entrevistas vem depois.
Seus seis filhos estavam ali, no teatro, ouvindo cada palavra que ela dizia. Era por este motivo que Angelina Jolie não queria falar sobre o seu divórcio de Brad Pitt. Desde que ela nasceu, uma das primeiras palavras que ouviu foi “divórcio”, pois quando tinha apenas dois anos de idade, seu pai, o ator ganhador do Oscar, Jon Voight, e sua mãe, Marcheline Bertrand, tinham se separado. Angie tinha apenas 14 anos de idade quando sentiu o primeiro gosto do que é o casamento quando morou, na casa de sua mãe, junto com o namorado. Quando tinha 21 anos, ela deixou sua casa para casar com o ator britânico Johnny Lee Miller, depois de o conhecer nos sets do filme “Hackers – Piratas de Computador”. Eles se separaram no ano seguinte, através de um processo legal de divórcio ingressado no ano de 1999, um ano antes de casar com o ator Billy Bob Thornton (eles se conheceram nos sets do filme “Alto Controle”, quando ele ainda estava noivo da atriz Laura Dern e Angelina namorava Timothy Hutton). Mais tarde, ela adotou seu primeiro filho, Maddox, no Camboja em Março de 2002. Quando os dois decidiram se separar, três meses depois, ela ingressou com todos os papéis da adoção. Anos depois, ela foi o motivo do divorcio entre Brad Pitt e Jennifer Aniston. Angelina viveu o romance real que eles interpretaram no filme “Sr. & Sra. Smith”. Em Janeiro de 2006, ela confirmou que estava gravida e juntos os dois tiveram três filhos biológicos e outros três adotados, quando finalmente se casaram no dia 23 de Agosto de 2014. A palavra “divorcio” surgiu novamente quando os papéis do processo ingressado por ela, foram assinados em Setembro de 2016 permanecendo a atriz com a custódia de todos os seus filhos.
Você se lembra do dia em que pensou: “Eu quero ser atriz, assim como o meu pai” (Jon Voight)?
Bem, uma coisa engraçada é que eu cresci cercada por filmes. Eu cresci no meio dos filmes em uma cidade em que estes são tão importantes, que é sobre que todo mundo fala. E quando eu estava crescendo, lembro da minha mãe me dizendo que queria ter sido atriz e que minha avó também e ela sempre foi muito animada com o fato de que eu poderia ser atriz. Eu nunca pensei que eu poderia ser outra coisa e nunca questionei isso. Eu comecei a atuar e, parcialmente, fiz isso porque era uma coisa relacionada com a minha mãe – isso fazia ela feliz. Eu amo auto-análise e amo tentar descobrir quem eu realmente sou, o que as coisas significam, o que eu realmente sinto e eu amo história. Por este motivo eu consigo atuar. Eu consigo interpretar pessoas diferentes em épocas diferentes, mas eu percebi, quando minha mãe faleceu, que isso era uma coisa que eu fazia mais para ela e isso mudou mudou um pouco quando ela não estava mais aqui.
O que isso muda afinal?
Eu não tenho trabalhado muito em frente às câmeras desde que ela faleceu, mas agora eu vou continuar a fazer isso para os meus filhos. Eu amo isso. É divertido. Quem não adora fazer coisas bobas? Eu acho que todo mundo que é pai é ator. Nos fazemos coisas o dia todo onde temos que agir como pessoas loucas ou algo assim, por tanto este é um ótimo trabalho, mas eu acho que se eu tivesse falado alguma coisa, na época, eu poderia ter me tornado escritora ou qualquer outra coisa, eu não sei. Talvez eu tivesse descoberto isso antes, mas nunca tive isso.
Conta um pouco pra gente sobre as lembranças que você tem quando ainda estava começando?
Bem, eu ainda estava estudando no Instituto Strasberg, mas eu acho que você realmente deve crescer primeiro antes de decidir atuar. Existe uma coisa engraçada no método de Stanislavski, onde você tinha que contar algo que havia acontecido sete anos atrás e então, de acordo com esta conta eu tinha 13 anos de idade e as coisas não faziam muito sentido, por isso eu levei um tempo para conseguir fazer os exercícios. Eu acho que aquilo tinha muita “vida”. Quando eu encontro jovens atores e eles me perguntam: “O que eu devo fazer, ou o que eu devo estudar?” Eu digo apenas para terem uma vida muito plena. Tenha uma vida tão completa quanto possível. Escute. Passe a maior parte do seu tempo atuando, mas pare para escutar as coisas. Escute os outros atores. Saiba o que está ao seu redor e responda a isso. E se você faz isso na vida, você se torna uma pessoa melhor. Faça isso como amor e você vai se comunicar de uma forma mais honesta, e eu acho que isso ressoa quando as pessoas assistem você.
É verdade que momentos pessoais da vida alteram um ator?
Bem, eu fiz “Gia”, “George Wallace” e eu meio que saí e passei por um divórcio quando eu ainda era jovem. Depois eu fui para Nova York para fazer a escola de cinema, com a cabeça raspada e uma pequena mochila. Eu acho que seis meses depois na escola de cinema, eu comecei a ser notada. Eu usava as mesmas roupas e tive que deixar a escola de cinema, o ônibus era diferente e o metro era diferente. Eu, realmente, fiquei muito depressiva.
O que te levou à depressão?
Ah, porque eu era muito nova e eu amava minha liberdade e amava estar com as pessoas, e também era muito, muito consciente de que eu não tinha muito a dizer. Eu não merecia um microfone. Eu não tinha nada a dizer e estava tentando descobrir quem eu era. Eu certamente não era diferente de ninguém e eu não queria ficar do outro lado de todos, então eu me sentia “errada”. Quando eu fiz “Garota, Interrompida”, foi uma coisa estranha. Você está feliz em poder trabalhar e é bom que as pessoas pensem que seu trabalho é bom. Mas ao mesmo tempo você só quer ser como todo mundo. É um sentimento estranho. Eu me lembro que o filme era sobre alguém que não estava em uma situação mental estável. Eu nunca li nenhuma notícia naquela época e não queria saber [se falavam] bem ou mal. Eu estava no México e alguém disse: “Ah, estão falando bem sobre isso [o filme]. Você pode ganhar um Oscar.”; eu disse: “Olha, isso é legal” e então a pessoa disse: “Mas diz aqui que a única razão que você pode não ganhar é porque as pessoas não têm certeza de que você não é realmente louca”.
Isso foi um elogio ou…?
Eu só aceitei (risadas).
Você já teve ajuda de algum dos seus filhos, por exemplo, para desenvolver algum personagem?
Malévola. Ela por inteiro, o sotaque e tudo nela, eu fui descobrindo enquanto brincava com as crianças, porque eles eram meu público. Eu acho que tentei umas 17 coisas diferentes antes, até que eles me perguntassem, “O que que você tá fazendo?”. Um dia eu finalmente fiquei insana e fiz aquele sotaque, e eles começaram a rir. Então eu fiz isso a noite toda e deu certo. Eu testei, e funcionou. Foi exatamente o que eu sabia que eles responderiam.
Você já fez três filmes animados incluindo a Tigresa em “Kung Fu Panda”, o que fez você desejar interpretar a Malévola?
Eu não havia feito nada como Malévola e embora eu tivesse treinado um pouco de teatro, eu nunca me senti confiante para subir num palco. Eu sou uma atriz de filmes, acho, e isso é mais interno. Eu sempre fico maravilhada quando vou ao teatro. Eu amo assistir os atores e quando eu soube que eu faria esse papel, eu pensei ‘eu preciso treinar. Não sou boa o bastante. Não estou pronta de verdade pra isso’.
O que fez você mudar de direção e se tornar uma diretora?
Eu sou uma dessas atrizes que sempre está consciente dessa parte [da direção] e porque eu acredito firmemente que tem a ver como nós contribuímos com o processo de fazer um filme. Nós temos a responsabilidade, seja ela grande ou pequena, se temos que ser o antagonista ou sei lá o que seja, nós temos que dar ao público o que ele precisa, então eu tentei ficar bem consciente disso. Eu gosto de trabalhar com equipes e me preocupo com o trabalho de cada um. Eu nunca pensei que eu poderia fazer um filme ou escrever. Nunca foi um plano meu.
E o que mudou?
Bom, foi meio que por acidente. Parece estranho falar isso. Toda vez que menciono isso, sei que parece estranho. Eu queria aprender como se tornar uma diretora. Eu queria aprender mais sobre a guerra na Iugoslávia porque quando eu era adolescente, eu senti que não havia entendido direito. Foi uma guerra que eu não conseguia tirar da cabeça. Eu não tinha intenção de fazer um filme, não mesmo. Eu fiquei doente por dias. Eu estava longe dos meus filhos e pensei em escrever um roteiro só por diversão, só para mim. Ninguém jamais leria, então [eu pensei], ‘vou começar colocando duas pessoas que se amam muito, e então acabar com um deles matando o outro, e de alguma forma descobrindo como eles vão de lá para cá durante a história, e eu tenho que descobrir o que ia acontecer. Eu estou aprendendo algo que vai me ajudar a chegar a um acordo. Isso pode me ajudar com meu trabalho. Eu vou explorar isso’. Se eu fizesse o filme, eu viajaria e conheceria pessoas incríveis, aprenderia com eles, conversaria. Eu conheci tantas mulheres que foram vítimas de abuso sexual, então o [primeiro] filme [como diretora] surgiu em mim. Eu me dei uma desculpa de que era uma lição de casa que eu precisava estudar. Alguém leu o script e me disse que não era tão ruim, e então isso virou uma ideia, e se tornou algo que eu poderia fazer. Esse foi “Na Terra de Amor e Ódio”, meu primeiro filme como diretora.
Você fica mais confortável agora atrás das câmeras do que na frente delas?
Sim. Eu amo assistir as pessoas atuando. Eu amo a performance, a emoção, as histórias. Eu acho que eu tenho um tipo de relação diferente ao filmar e lidar com o fato de estar atrás da câmera, e eu gosto de apoiar as pessoas. Isso é a parte legal de ser diretora. Você descobre a grandeza das pessoas, elucida isso e faz vir à tona, e é um prazer fazer isso.
O que você espera como diretora depois de fazer filmes sobre o genocídio no Camboja com ‘First They Killed My Father’?
Nós gravamos o filme lá e foi incrível porque estávamos todos bem nervosos sobre isso, e as pessoas que assistiriam veriam que era sobre os sobreviventes. Seriam pessoas que participariam no próximo Khmer Rouge. O governo, a família real, estariam todos lá e nós não tínhamos certeza sobre a reação porque não é um assunto falado por lá. Nós preparamos para conhecer as pessoas e receber cidadãos para assistir, para também debater sobre e discutir, e foi uma experiência tocante quando nós estreamos o filme no país, em muitos lugares como o estádio Olímpico, onde também ocorreu muito horror lá. O país em si merece esse filme e precisa desse diálogo, e quando eu ouvi as pessoas indo embora para suas casas e conversando sobre isso, avós e avôs pela primeira vez falando sobre isso com seus netos, porque não era algo que se conversavam sobre, eu percebi o porquê [era importante].
Seu filho mais velho Maddox nasceu no Camboja. Ele teve algo a ver com esse filme?
Eu fiz esse filme também para Maddox. Eu queria que ele trabalhasse nele, que pudesse vê-lo, vivê-lo. Ele sempre vai pro Camboja, mas isso era diferente. Ele iria mergulhar no que seus pais biológicos provavelmente passaram e aprender sobre ele mesmo como um Cambojano, de uma forma diferente.
Você sente a necessidade de ser um modelo de exemplo para seus filhos e muitas mulheres jovens que te admiram?
Eu levo isso muito a sério. Eu tenho muito a aprender e certamente eu preciso de modelos como eu para me manter com pé no chão, mas eu levo isso muito a sério se eu estou sendo um exemplo, de qualquer forma que seja, e é o que eu tento ser para os meus filhos. Se eu estou sendo vista assim, eu quero ter certeza de que tenho como me comunicar com os jovens ao redor do mundo e ajudar no que puder. Eu queria ter tido mais orientação quando eu era jovem, então eu estou muito feliz em fazer parte dessa discussão comunitária.
Fonte: Equity
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