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Angelina Jolie concede entrevista para a revista Grazia

20 de março de 2018

Seu trabalho como diretora, a luta contra os abusos, o papel de mãe solteira. Angelina Jolie conta à revista italiana “Grazia”, a sua vida depois do adeus a Brad Pitt. Onde qualquer escolha é uma demonstração daquela determinação feminina que não aceita opressão.

É ela, é ela! Está chegando, sussurra alguém atrás de mim. Um reverencial silêncio cai na sala, todos se viram na mesma direção, e é como se o mundo começasse a se mexer em câmera lenta: levanto os olhos e lá está Angelina Jolie, 42 anos, acompanhada do filho Pax, 14 anos, que desce as escadas apoiando–se no corrimão. Observo primeiro os sapatos de salto 11, na cor nude, depois as calças de cashmere, modelo cigarrete na cor cinza e enfim uma manta também na cor cinza, a mesma que ela usará o dia seguinte ao Eliseu, durante o encontro com a primeira dama, Brigitte Macron, esposa do Presidente francês Emmanuel Macron.

“Então, é verdade que ela é assim tão bela?” pergunta minha filha de 17 anos algumas horas depois, enquanto eu a entregava uma folha de caderno com uma dedicatória e um autografo da estrela americana (a escrita é angular, a assinatura indecifrável). Sim, lhe confirmo. Uma beleza repousada, doce. E é esta doçura a me surpreender, em particular depois de tudo aquilo que disseram e escreveram alegando sua dureza e intransigência com o qual gerencia a separação de Brad Pitt desde setembro de 2016. No decorrer da nossa entrevista, Angelina vai apontar a importância da gentileza herdada de sua mãe, Marcheline Bertrand, falecida em 2007 com 56 anos.

Mas, por enquanto, voltemos ao nosso primeiro contato visual nas luxuosas salas da boutique Guerlain, nos Champs – Élysées de Paris. Face do perfume Mon Guerlain , Angelina Jolie veio apresentar a nova Eau de Parfum Florale acompanhada dos seus seis filhos: Madox, 16 anos, Pax, 14, Zahara, 13, Shiloh, 11, e os gêmeos Vivienne e Knox, 9. Desde que Brad Pitt não vive mais com eles, a atriz não se separa mais da sua família numerosa.

“Os garotos estão todos aqui”, me confirma um membro do pessoal enquanto Angelina desaparece com Pax em uma salinha privada. “Com eles tem também três professores, desta forma não arriscam de ficarem atrasados com as lições ”.

Em Los Angeles, onde na primavera anterior a atriz comprou uma nova casa de 25 milhões de dólares no bairro de Los Feliz com fontes, cascatas e piscina. Os três filhos adotivos e os outros três biológicos tidos com Pitt. Recebem aulas em casa; entre as matérias fundamentais tem também as matérias que a própria mãe introduziu no plano de estudos como: árabe, linguagem de sinais e ao quanto parece também arte de perfumaria: Descubro que Guerlain organizou para eles um curso privado com o celebre “nariz” da casa, Thierry Wasser (mas no final só Pax assistirá a aula com a mamãe).

Como os seis estão superando o trauma da separação dos pais? Gostaria de ter perguntado a Angelina, mas a equipe americana que se ocupa das relações públicas deles proibiu perguntas sobre os filhos e o divorcio. A estrela é sempre atenta à comunicação e também declara de não se importar sobre aquilo que as pessoas falam sobre ela. “Nunca esperei de ser compreendida ou aceita”, afirma ela quando nos encontramos sozinhas em uma salinha. “Deixo aos outros a liberdade de pensar aquilo que querem. Somente em um só ponto sou intransigente”, insiste ela. “Ninguém nunca poderá afirmar que eu não seja uma pessoa bem intencionada”. Angelina se interrompe para beber um gole de chá e, quando leva a xícara aos lábios a manta cai de um de seus ombros nus revelando no braço esquerdo uma de suas numerosas tatuagens. “É verdade”, lhe digo, “ninguém pode negar o seu compromisso humanitário a favor das crianças e em particular das mulheres”. E depois lhe pergunto:

A Sra. que acusou o produtor Harvey Weinstein de ter lhe feito avançar inoportunas acusações, acha que tudo isso que está acontecendo com o movimento #MeToo possa contribuir a vencer a batalha para a igualdade de sexos?
Cada palavra, cada ato conta. Existem muitos modos de lutar contra as descriminações. Constatei isso trabalhando com a associação “Preventing Sexual Violence Initiative” (Iniciativa Pela Prevenção da Violência Sexual), que fundei 5 anos atrás nas minhas missões para o “Centre for Women Peace and Security” (Centro Para a Paz e Segurança das Mulheres).

Do que se trata?
De um programa que coloquei em prática em colaboração com a “London School of Economics” em 2015 e que se põe o objetivo de meter fim ao estupro como arma de guerra. Uma causa cujo me interessei enquanto dirigia o filme “Na Terra de Amor e Ódio”, sobre o conflito na ex Iugoslávia. Não é possível imaginar com otimismo um futuro em um mundo onde os crimes contra as mulheres ficam impunes.

O seu último filme como diretora, “First They Killed My Father” também fala de um conflito, o genocídio cambojano contado com os olhos de uma menina. A senhora tem um laço forte com o Camboja. Por que?
É um país que me fez renascer. Na vida de todos nós tem uma viagem, um encontro, um livro que nos obriga a nos questionar e nos faz melhores. O Camboja teve este efeito sobre mim quando apenas cruzei as fronteiras (para o filme “Lara Croft: Tomb Raider”). Me abriu os olhos sobre o destino trágico dos refugiados e virou uma espécie de segunda casa. Não é casual que seja o país de origem do meu primeiro filho, Maddox.

Como amadureceu na senhora a ideia de adotá-lo?
Foi durante a minha segunda viagem. Eu já nutria muito respeito pelo povo cambojano que é assim tão inteligente, tão cheio de graça. Um povo que poderia abandonar-se à amargura e à raiva pelos horrores que eles passaram e, ao em vez disso, souberam olhar pra frente. Um dia, lembro–me de ter tido uma espécie de pressentimento.

Onde aconteceu?
Eu estava num orfanato. Estava brincando com um menino sentada no chão quando improvisadamente pensei: Meu filho está aqui. A ideia de virar mãe se transformou em certeza, mesmo que até aquele momento pensava nisso só vagamente.

Então, quando fez “First They Killed My Father”, que lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira, você teve que lidar com uma forte carga emotiva?
Sim e isso foi um estimulo. Estava orgulhosa de filmar em um país em que me sinto aceita e bem vinda. O Camboja fez com que eu sentisse, rapidamente, digna de ser mãe de um de seus filhos.

Você revelou ter dito sim à colaboração com Guerlain porque o universo olfativo da casa francesa a faz voltar para a infância? Em que maneira?
Minha mãe pouco se maquiava, mas quando eu era criança, os raros cosméticos que ela usava eram todos da Guerlain. Quando eu cresci comecei a associar a marca a uma certa visão da feminilidade da qual compartilho.

E como você a descreveria?
Uma mulher não tem necessidade de mostrar os músculos para demonstrar que os tem. Acredito no poder da doçura, da sensibilidade e da gentileza. É a força de nós, mulheres, e isso também eu aprendi com minha mãe.

Como você lembra dela?
Nela não tinha nenhuma forma de agressividade. Se desculpava continuamente por ser muito gentil, mas era a sua bondade e a sua ternura que me sustentavam. Aos homens tive vontade de dizer: nos permitam sermos nós mesmas, não nos obriguem a perder nossa feminilidade para que vocês se sintam menos vulneráveis.

A senhora se submeteu à uma dupla mastectomia e à retirada dos ovários por conta de um alto risco de desenvolver câncer. Por que você decidiu falar sobre isso publicamente?
Em questão de saúde, o conhecimento é importantíssimo. Eu gostaria que minha mãe tivesse tido a possibilidade de reduzir as chances de ficar doente. Eu tive esta oportunidade, me coloquei à disposição dos testes genéticos e optei por uma cirurgia preventiva. Foi uma escolha pessoal e não digo que todas as mulheres deveriam fazer como eu. Mas todas as mulheres tem o direito de saber que esta possibilidade existe.

A senhora também é Enviada Especial das Nações Unidas para os Refugiados. A vontade de mudar o mundo para o melhor vem da onde?
Do meu passado punk. Ser punk, e para certos aspectos ainda sou, significa não aceitar determinadas condições, lutar para que as coisas se envolvam no melhor, e às vezes também a tendência é ultrapassar os limites.

Se você devesse reconhecer uma qualidade sua, qual seria?
Sei amar as pessoas por aquilo que são, as aceito sem preconceitos. A beleza se destaca na diversidade, que é gerada durante a vida e a faz ficar mais interessante.

Qual é o seu próximo projeto como diretora?
Por enquanto não tenho. Em compensação, como atriz começarei logo as filmagens da sequencia de “Malévola”.

Como você se vê na pele da protagonista, que é uma bruxa?
É um papel interessante. Mostra o outro jeito de ser mulher e de reencarnar a feminilidade. E, depois, não tem nada de tedioso. Na vida também precisamos encontrar um tempo para nos divertirmos.

Foto por Mathieu César.
Artigo por Emanuela Mastropietro.
Tradução por Gabriela Figueiredo, exclusivamente, para o Angelina Jolie Brasil.

Obs.: Muito obrigada pela colaboração, Gabriela!

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