Câncer / Mastectomia

Procura por testes genéticos cresce após caso de Angelina Jolie

18 de dezembro de 2016

Um estudo, publicado na quinta-feira, dia 15 de Dezembro de 2016, na revista médica britânica “BMJ”, analisou se houve aumento no número de testes que procuram mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 após o dia 14 de maio de 2013.

A data tem uma particularidade: foi o dia em que a atriz Angelina Jolie declarou, em editorial do jornal “The New York Times”, ter retirado as mamas depois de descobrir alterações no BRCA1. A cirurgia foi feita para reduzir seu risco de desenvolver câncer.

A mutação no gene BRCA1 está associada a um risco de 60% de ter câncer de mama e de 39% de câncer de ovário.

Os genes BRCA são responsáveis por “consertar” o DNA quando ocorrem falhas na duplicação celular, segundo Dirce Carraro, líder do laboratório de genômica do A.C.Camargo Cancer Center. Em caso de mutações dos genes BRCA, o DNA pode acumular defeitos, o que aumenta as chances de câncer.

Para verificar se houve crescimento, os pesquisadores das universidades de Harvard,de Cambridge e do Massachusetts General Hospital, em Boston, usaram bancos de dados de planos de saúde com informações de 9 milhões de mulheres entre 18 e 64 anos.

O crescimento dos testes referentes ao genes foi de 59% nos 15 dias após a publicação do texto de Angelina Jolie. Levados em conta os meses seguintes, houve aumento de 37%.

Não houve, porém, aumento no número total de retirada de mamas. Entre as mulheres que fizeram o teste depois do editorial da atriz, as cirurgias até diminuíram, o que para os autores do estudo pode significar que os exames foram feitos por quem não se enquadrava na população de maior risco.

A pesquisa concluiu que a ação de famosos tem efeitos imediatos em serviços de saúde pública. Contudo, a maior conscientização pode vir acompanhada de resultados adversos, como a realização de exames desnecessários.

Isso pode ocorrer porque a mensagem não necessariamente atinge quem deveria, ou seja, a população de risco, dizem os autores do estudo.

Indicação

Esse exame é indicado para mulheres que apresentem na família muitos casos de câncer em pessoas jovens.

“Recomendamos que só faça o teste quem tem histórico familiar”, diz a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do centro do genoma humano e células-tronco da USP.

O teste precisa ser pedido por um médico especialista, já que a percepção de frequência de câncer na família pode estar equivocada, segundo Bernardo Garicochea, diretor da unidade de aconselhamento genético do Hospital Sírio Libanês.

O exame hoje custa entre R$ 2 mil e R$ 3 mil e é coberto por planos de saúde somente quando é feito pelas populações de risco.

A avaliação familiar faz parte do aconselhamento genético, que continua após a realização do exame. “São consultas muito longas. Explicamos detalhadamente os resultados do teste, o que aquilo significa e o que pode ser feito em cada caso”, diz Garicochea.

A mastectomia e a retirada dos ovários não são a única solução. Mulheres nessa situação podem optar pelo rastreamento mais frequente para o câncer de mama, intercalando a cada seis meses exames de mamografia e ressonância magnética.

Também é possível optar pela quimioterapia preventiva, com a droga tamoxifeno.

Fonte: Folha