Não culpem os refugiados por buscarem uma vida melhor
7 de setembro de 2015
Nesta segunda-feira, dia 07 de Setembro, o jornal britânico “The Times”, publicou um artigo escrito por Angelina Jolie Pitt e Arminka Helic que trata sobre a recente crise refugiados que afeta o mundo. Confira:
Em momento algum da história atual, precisou-se tanto de uma liderança para administrar as consequências e as causas da crise global de refugiados. Nada deixa isso mais claro do que a visão de centenas de refugiados marchando através das fronteiras europeias, vindos de países como o Iraque, o Afeganistão e a Síria.
O conflito na Síria criou uma onda de sofrimento humano que assolou toda a região e que agora atinge as encostas da Europa. Os sírios estão fugindo de bombas de barril, de armas químicas, estupros e de massacres. O país deles se tornou um campo de matança.
O fato das pessoas que passaram por anos de guerra, ou que tenham vivido em campos de refugiados com poucos suprimentos, estão resolvendo os problemas com suas próprias mãos deveria ser recebido sem nenhuma surpresa. Quantos de nós poderia dizer, honestamente, que se estivéssemos vestindo seus sapatos, não faríamos o mesmo, por medo, pela falta de esperança e por uma manifesta falta de vontade política internacional em acabar com o conflito?
Nós nos identificamos com os Sírios quando eles pediram por liberdade política e econômica na Síria. Ficamos indignados com as imagens de famílias sendo bombardeadas em suas casas, crianças sendo soterradas pelos escombros e com cidades sendo invadidas por extremistas. Seja na Europa ou em outro lugar do mundo, os refugiados sírios merecem nossa compaixão.
Nas últimas semanas, vimos muitas figuras públicas e um número crescente de líderes políticos tomando uma posição moral, grupo de refugiados sendo bem recebidos e novos compromissos de assistência sendo feitos. Pela primeira vez em anos, refugiados estão dominando as manchetes e estão no topo do debate. Precisamos usar isso, para que ocorra uma mudança na compreensão das pessoas, não apenas com relação ao conflito na Síria mas também com relação a toda crise global de refugiados. Isso exige que não usemos apenas nossos corações, mas também nossos cérebros; não apenas ajudando mas também fazendo diplomacia, direcionando nossos esforços não apenas para este ano, mas também para os anos que estão por vir.
Temos que enfrentar algumas duras verdades. A primeira é que a responsabilidade em ajudar não é determinada pela geografia, mas por respeito aos valores e aos direitos humanos universais. A responsabilidade em ajudar transcende religião, cultura e etnia. Não devemos buscar pelo menor denominador comum em nossa resposta para a crise de refugiados; nós devemos nos esforçar para viver de acordo com os nossos ideais mais elevados. Todos os países do mundo, não apenas os da Europa, devem fazer parte desta solução.
Em segundo lugar, não há dúvida de que a atual escala do fluxo de refugiados para a Europa cria desafios políticos, sociais, econômicos e de segurança para os países da União Europeia. Quando isso ganha voz, é algo que não deve ser simplesmente ignorado. Isso coloca uma responsabilidade particular nos governos em encontrar recursos para lidar com as implicações nacionais e para ajudar os refugiados a se integrar. Os países vizinhos da Síria tem carregado grandes fardos por anos, com uma generosidade exemplar, e por isso precisam muito mais de ajuda. Cada país e cada governo, precisa ter um bom plano para cumprir com suas obrigações internacionais e equilibrar as necessidades de seus cidadãos.
Em terceiro lugar, neste momento de emergência, nós devemos estar conscientes da distinção entre os migrantes econômicos, que estão tentando fugir de uma pobreza extrema, e os refugiados, que estão fugindo de uma ameaça imediata as suas vidas. Todas as pessoas que estão se mudando sob essas trágicas circunstâncias, devem ter seus direitos humanos e dignidade respeitados, assim como também suas necessidades compreendidas e destacadas. Não devemos estigmatizar alguém por aspirar uma vida melhor.
Mas os refugiados estão enfrentando uma necessidade imediata de serem salvos de perseguições e morte já que seus direitos são definidos pela lei internacional. É por isso que efetivas recepções e triagens são importantes para permitir que os pedidos sejam analisados e as proteções sejam concedidas para quem precisa. Além disso, mesmo que os refugiados sejam acolhidos em nossos países, o problema só vai aumentar desde que o conflito na Síria continue. Não podemos arrumar apenas um modo de sair da crise; não podemos resolver o problema apenas recebendo os refugiados. Nós temos que encontrar uma alternativa diplomática para acabar com o conflito.
É impressionante que, desde o começo da guerra na Síria, o Conselho de Segurança das Nações Unidas ainda precise visitar a região; algo que muitos de nós vê como um ponto de partida essencial para a diplomacia. A iniciativa de paz que começou em Genebra quatro anos atrás, se esgotou e a energia com que as negociações nucleares iranianas estão sendo conduzidas, falharam até agora ao se tentar materializar algo para a Síria.
Finalmente, nós devemos ver isso da forma que é – parte de uma enorme crise de governança lobal. Nos últimos dez anos, o número de pessoas deslocadas no mundo dobrou para 60 milhões. É algo insustentável e que vai além do que as organizações humanitárias internacionais podem administrar. Tudo isso foi impulsionado por uma falha sistêmica em tentar resolver conflitos. Nada nos diz mais sobre a situação do mundo do que a movimentação das pessoas através das fronteiras.
É hora de procurar por soluções a longo prazo e reconhecer que são os governos, e não os refugiados, que precisam dar uma resposta.
Esta não é a primeira crise de refugidos que estamos enfrentando e não será a última. Da Europa até a América, nossos países foram construídos, em parte, em cima de uma tradição de ajudar os refugiados, desde a Segunda Guerra Mundial até a Guerra dos Bálcãs que aconteceu nos anos 90. A maneira como estamos reagindo agora irá confirmar que tipo de país nós somos e o quão profunda é a humanidade e a força das nossas democracias.
Angelina Jolie Pitt é Enviada Especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Arminka Helic é membro da Câmara dos Lordes e ex-refugiada da Guerra dos Bálcãs.
Fonte: The Times.
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