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Escolha de Angelina Jolie é recomendada por especialistas

28 de março de 2015

A dolorosa escolha de remover os ovários — como a praticada pela atriz Angelina Jolie — é recomendada pela comunidade médica tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, pois reduz consideravelmente o risco de câncer em mulheres geneticamente suscetíveis, segundo especialistas.

Portadora de uma mutação no gene BRCA1, que predispõe ao câncer de mama e de ovário, a estrela americana disse nesta terça-feira (24) que foi submetida à remoção dos ovários e das trompas de Falópio, quase dois anos após a remoção das mamas. Essa intervenção parece ser a continuação lógica da dupla mastectomia preventiva feita pela atriz, operação que desencadeou uma ida maciça de mulheres aos consultórios em busca de possíveis mutações genéticas.

Enquanto há 15 ou 20 anos a questão da utilidade de remover órgãos saudáveis ainda era questionada, agora existe um amplo consenso entre os especialistas para recomendar a remoção dos ovários e trompas de Falópio em mulheres portadoras de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, explica a especialista francesa Dominique Stoppa-Lyonnet.

A presença dessas mutações é acompanhada de um risco muito elevado de um dia vir a desenvolver câncer de mama ou de ovário, ressalta a médica, que dirige o serviço de genética do câncer do Instituto Curie, em Paris.

“O risco de câncer de ovário acumulado aos 70 anos para uma mulher que carrega a mutação BRCA1 é de cerca de 40%. E de 20% para portadoras da BRCA2, contra 1,5% para a população em geral,” afirma Dominique.

O professor sueco Per Hall, especialista em câncer de mama do Karolinska Institutet de Estocolmo, também recomendaria a uma mulher portadora dessa mutação que se submetesse à remoção preventiva, pois ela reduz consideravelmente o risco de câncer, segundo o especialista.

A ovariectomia também tornou-se uma operação muito comum nos Estados Unidos em mulheres após a menopausa, incluindo as que não são portadoras de mutações BRCA, apenas para reduzir o risco de câncer de ovário, de acordo com ele. Isso porque, ao contrário do câncer de mama, esse tipo de tumor é considerado silencioso e muito difícil de detectar, com sinais clínicos fracos e pouco característicos, como leves dores no ventre, explica Hall.

Apesar de uma paciente de risco pode realizar um controle regular com ecografias, o exame não é confiável o suficiente para permitir a detecção precoce de tumores.

“Um diagnóstico precoce não é garantido”, disse Dominique.

Os médicos também recomendam a retirada dos ovários e trompas de Falópio nas mulheres com a mutação BRCA1 a partir dos 40 anos e até os 50 anos para aquelas que carregam a mutação BRCA2. Uma alta proporção dessas mulheres aceitam a operação, que é simples, descomplicada e geralmente praticada por laparoscopia: 80% para BRCA1 e 50% para BRCA2, de acordo com um estudo realizado pelo Institut Curie. No entanto, essa cirurgia tem um grande problema: causa infertilidade e menopausa precoce e brutal.

“É um gesto que recomendamos apenas quando o desejo de ter filhos foi realizado e, mesmo assim, continua sendo difícil para uma mulher renunciar à possibilidade de ser mãe”, comentou Dominique.

Estima-se que uma entre 400 a 500 mulheres carregue uma mutação do gene BRCA1 ou BRCA2, o que resulta em um risco cumulativo de câncer da mama aos 70 anos de 70% para a primeira anomalia e de 50% de falha para a segunda.

Fonte: Jornal Zero Hora