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Angelina Jolie, a Super Mulher!

7 de outubro de 2014

Duas espécies dividem a humanidade. A primeira, recebe você oferecendo algo para beber. A segunda não. Angelina Jolie, que pertence à primeira espécie, está preocupada se você está com sede e se não está com muito frio – porque os americanos têm o curioso hábito de ligar o ar condicionado de uma forma que você se sente como se estivesse na Groenlândia e não na Califórnia. A atriz deu a nós, em Los Angeles, uma entrevista excepcional que durou, aproximadamente, mais de uma hora, para promover “Invencível” (Unbroken), seu segundo filme como diretora. “Porque a Marie Claire vale a pena”, foi a explicação dada por ela para desligar o ar condicionado e abrir uma grande janela banhada por céus azuis e folhas de palmeira. Vale tanto a pena que parece meio óbvio que esta entrevista esteja nesta edição histórica (nós, ainda, iremos dedicar a edição de janeiro especificamente para o tão esperado filme, “Invencível”). Angelina Jolie simboliza, para nós, alguém muito maior do que uma atriz de cinema comprometida. Ela representa uma mulher batalhadora, que é, ao mesmo tempo, muito gentil e ultra-determinada. De um altruísmo absoluto. Uma mulher poderosa. Ou seja, um exemplo a ser seguido.

Por que você decidiu dar, a nós, mais tempo do que o previsto?

Eu amo o conceito da Marie Claire – uma mistura de artigos extremamente interessantes, que fazem dela uma ótima revista!

Estamos celebrando nosso sexagésimo aniversário e eu fiz essa pergunta para várias pessoas: O que é ser uma mulher poderosa para você?

Uma mulher honesta.

Você deu uma grande impressão em Junho, em Londres, durante o evento dedicado a acabar com a violência sexual. Você conseguiu mudar alguma coisa?

Sim, mas eu não sei se foi por minha causa. Eles já tinham estado na reunião do G8, que irá criminalizar mais fortemente o estupro utilizado em zonas de guerra. Muitos países fizeram da decisão, seus compromissos prioritários e, por isso, todos nós devemos trabalhar juntos, legisladores, políticos, médicos, investigadores, para conseguirmos uma responsabilização imediata com relação aos autores destes crimes de guerra.

Na prática, muitas coisas mudaram finalmente?

Sim, absolutamente. A coisa mais importante é identificar os autores dos estupros em massa que estão sendo praticados no Congo, no norte da Nigéria e em outros países. Equipes estão trabalhando duro e se dedicando a esta causa. Toda manhã, eu recebo um relatório feito pela ONU, com os crimes sexuais mais recentes, praticados contra mulheres em 20 países, e com o progresso das medidas que estão sendo tomadas. Eu, constantemente, tenho essa batalha em mente. Devemos reverter essa barbaridade.

Você não fica depressiva em ler essa lista de horrores pela manhã?

Provavelmente, mas não mais do que quando leio os jornais ou assisto às notícias na televisão. E eu posso dizer que eles não irão melhorar. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, existem mais pessoas desabrigadas no mundo. 51 milhões, sem contar as vítimas recentes das atrocidades no Iraque. No momento em que conversamos, existirão mais do que 52 milhões. Nós estamos chegando a um ponto de ruptura, com tudo isso que acontece no mundo. As necessidades humanitárias estão aumentando, e isso não pode continuar.

Mas como se pode agir de forma mais concreta?

Nós temos que nos preocupar, mais do que nunca, com as leis e com a ordem onde existe o caos. É necessário colocar pressão nos criminosos de guerra, e fazer de tudo para levá-los à justiça. Para isso, é preciso ajudar os governos dos países que possuem estruturas apropriadas para identificar e neutralizar esses homicidas em massa, a estabilizar estruturas de prova legais. Devemos ser menos egoístas e realizar mais trabalhos em colaboração com os outros. Estou determinada a ver mais consciência, e isso será um progresso.

Será o bastante?

Não, provavelmente não. Por 12 anos, eu realizei trabalhos humanitários de campo e vi que nós continuamos a ser muito cautelosos com as leis e com o direito moral de interferência. Nós passamos muito tempo levando em consideração a importância das diferentes culturas, nos questionando se devemos tomar uma medida apropriada com base na estrutura moral de que temos de confiar, simplesmente, no campo jurídico para mudar as coisas.

Você defende o direito de intervenção?

Veja, nós não podemos simplesmente anunciar o fato de muitas meninas não tem acesso à escola. Temos de impor a obrigação de frequentar a escola em qualquer lugar do mundo. Parte da Carta das Nações Unidas prevê que a “não inscrição” de meninas na escola é um crime sujeito a processo e até prisão, se necessário. Se você se casa com uma menina, contra a vontade dela, isso é estupro, e não pode, indefinidamente, ser considerado como algo importante dentro de costumes tribais. É hora de agir! Não podemos mais ser apenas neutros ou entrar em uma zona cinzenta confortável de críticas suaves. Você tem que ver as coisas no preto ou no branco. Temos de aplicar as mesmas leis universais em todo o mundo. Obter os mesmos padrões legais para todos. Que não exista mais padrões duplos!

As mulheres, com certeza, estão na linha de fogo.

Sim, com certeza, e é por isso que é necessário, ao mesmo tempo, criminalizar essas questões sexuais e educar os homens, sejam pais, irmãos ou filhos. Colocá-los a frente de suas responsabilidades, explicando-lhes que não respeitar a lei é uma infração à lei. Protegendo, assim, aqueles que lutam para mudar atitudes, e que muitas vezes arriscam suas vidas. Existe, infelizmente, mais e mais pessoas com boa vontade em todo o mundo e isso é uma coisa reconfortante.

O Secretário de Estado, John Kerry, bem como os representantes de 140 países, calorosamente aplaudiram você no final do evento contra a violência sexual que aconteceu em Londres. Eles irão apoiar a sua vontade de estabelecer leis universais para as mulheres? Se sim, como?

Eu acredito que sim. Eles estão determinados a fazer a diferença. Eles poderiam, por exemplo, ajudar mais determinados países a mudar a condição das mulheres.

Ouvindo você hoje, surge uma questão: Você está tentando, através da política, impulsionar o nível real de mudanças?

Eu não acho que minha família iria concordar. Eu não sei como posso ser mais eficaz, neste momento, porque a minha posição como figura pública me ajuda muito na mídia a criar consciência sobre as minhas lutas.

Mas você pensa nisso, afinal?

Eu realmente não sei o que pode acontecer amanhã… Eu nunca pensei que um dia iria fazer um discurso para muitos líderes políticos, mas eu sempre soube que eu queria ser útil. Eu faria coisas para ajudar os outros. Portanto, não é um não definitivo.

Qual foi a primeira coisa que te deixou indignada?

Foi quando eu estava no Camboja para participar das filmagens de um filme, que eu tomei ciência do Khmer Vermelho. Você não consegue nem imaginar o estado deste país, com milhares de refugiados em acampamentos, órfãos, veteranos de guerra deficientes, com minas terrestres por todos os lados e a morte tão perto, com enormes valas comuns… Isso, significantemente, me ajudou a aumentar minha consciência. Logo depois, vi abomináveis imagens do que estava acontecendo na Serra Leoa, e então, entrei em contado com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, o qual me mandou para lá como uma enviada. Então, pude ver as brutais atrocidades cometidas contra civis. Eu jurei pensar todos os dias no que eu tinha visto. Eu não conseguia me imagina vivendo sem fazer nada.

Sua mãe influenciou você com relações às questões éticas e morais?

Sem dúvida. Minha mãe era muito delicada e amorosa, mas moveria montanhas pelos seus filhos. Isso é algo que eu sempre admirei nas mulheres: essa mistura de delicadeza e força. Ela tinha descendência indígena [do índio nativo americano], e eu lembro de que, quando eu ainda era pequena, ela me levou para jantar organizado pela Amnesty International [Anistia Internacional]. Ela sempre quis tentar entender a complexidade do mundo. Ela tinha um grande coração e ficou sensibilizada com a violência do mundo. Ela orava pela paz e não conseguia suportar toda essa violência.

Você acredita na vida após a morte? Se sim, de quem você se sente próxima?

Eu não tenho certeza se acredito na vida após a morte. Eu me sinto próxima da minha mãe quando eu olho para os meus filhos. E então, eu posso sentir a influência dela em mim. Vejo que a forma em que crio meus filhos é parecida com a dela; é parecida com a forma em que ela criou meu irmão e eu.Isso é ainda mais evidente no meu relacionamento com as minhas filhas Shiloh e Vivienne. Então, sim, minha mãe me influencia em todos os momentos. Eu não sei se nós iremos para algum lugar depois que partirmos, mas o que eu tenho certeza é com relação à influência que cada um de nós tem sobre o destino do mundo e que a corrente humana que existe entre o passado, presente e futuro continua viva, dando um espécie de eternidade para a humanidade.

O relacionamento com o seu pai continua complicado?

Não é que é complicado, o fato é que esse relacionamento nunca realmente existiu. Ele praticamente não me criou. É um pouco tarde, agora, para criar algo profundo.

O com Brad, está tudo bem?

Ele está ótimo e obrigada por perguntar sobre ele (risadas). Enquanto conversamos aqui, ele está fazendo aula de francês. Ele trabalha duro. E é por isso que eu irei dirigi-lo em meu novo filme, que deve se passar na França, embora por outras razões, nós iremos para Malta. Nós iremos interpretar um casal de americanos no Sul da França, que, sem dúvida, irá lembrar algo.

Viver no sul da França é o mesmo que viver na América?

Exatamente o mesmo. Você sabe, eu não sou muito boa em descansar. Descansar sempre me fazer coisas. Eu não consigo. Eu leio, eu escrevo, eu negocio filmes, eu fico no computador. Não, realmente, eu não sou a melhor pessoas para descansar. Miraval é o local romântico perfeito para nós mas também é perfeito porque está próximo de tudo – das cidades europeias, da África, do Oriente Médio e de todos os outros países que eu preciso visitar por conta do meu trabalho com a ONU. Los Angeles é realmente muito longe de tudo.

Você é coberta de tatuagens. Se você fosse fazer uma nova, qual seria?

Se eu quisesse que fazer uma nova, com certeza já estaria na minha pele (risos).Eu não tenho nenhum desejo no momento, mas você pode ter certeza que em breve irei fazer uma nova. Provavelmente uma inscrição japonesa.

Eu vejo uma inscrição em seu antebraço. O que significa?

É uma frase do grande poeta místico persa Rumi, que influenciou o Sufismo. Significa “força de vontade”.

Algo que pode mudar o mundo?

A Corte Penal Internacional. Ela irá mudar.

Você sabe, nós fomos avisados: sem questões sobre sua dupla mastectomia. Por que?

Porque eu já disse tudo sobre esse assunto. O que eu posso dizer é que eu não me arrependo da minha escolha, pelo contrário, eu interajo muito com as mulheres que me pedem conselho.

No seu primeiro filme, havia uma cena extraordinária dos dois amantes inimigos protagonistas, enquanto visitavam um museu em ruínas, e os dois saem em paz. Pode a arte também salvar o mundo?

Absolutamente. Eu estou convencida de que a arte pode nos deixar mais próximos uns dos outros. Independentemente de qual forma – através de reflexões ou distrações – a arte força as pessoas à pensar, à falar e à compartilhar.

Você é indestrutível?

Eu espero que sim. Pelo menos por enquanto (risos).

Fonte: Marie Claire e angelinajolie.forumfree.it

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