Austrália / Entrevistas / News / Unbroken

Angelina Jolie: “Ainda sou um pouco rebelde”

21 de agosto de 2014

Em entrevista ao site ‘Cover Media’ disponibilizada com exclusividade pelo Yahoo, Angelina Jolie (39 anos) conta como foi dirigir seu novo filme, “Invencível” (Unbroken), que é baseado na história de vida do atleta olímpico, Louis Zamperini. Esta notável mulher é noiva de Brad Pitt, mãe de seis filhos, ganhadora de um Oscar, Enviada Especial e antiga Embaixadora da Boa Vontade para os Refugiados. Sem mencionar o fato de que, regularmente, ela é citada como a mulher mais bonita do mundo, Angelina Jolie é uma força da natureza. Confira a entrevista:

O que a religião significa para você? Como você vê a religião em sua vida?

Bem, penso que todos nós podemos ver, hoje em dia, os lados negativos de uma religião já que ela também é utilizada como um instrumento para a agressão. Com relação ao filme, eu quis que ele tivesse a fé como foco. Por este motivo, foi muito importante para nós que este filme tivesse temas que são universais para todas as crenças, independentemente da forma que você interpreta Deus e o que ele significa para você.

Este filme mostra que existe um herói dentro de nós e que talvez, nós possamos descobrir isso em nós mesmos. Você pode compartilhar um momento da sua vida no qual você descobriu que era mais forte do que imaginava? Tenho certeza que devem existir vários.

Sim, todos os dias eu penso sobre isso. Acho que foi quando eu me tornei mãe, porque isso era, obviamente, uma experiência um pouco diferente para mim já que não dei à luz ao meu primeiro filho e, de repente, ele estava lá, quando o peguei no aeroporto (risos). Ele tinha seis meses de idade e nós ficávamos sozinhos. Antes de adotá-lo eu estava na África e não sabia como iria enfrentar esse desafio; eu não conseguia acreditar que eu seria a mãe de alguém e, naquele momento, eu me dei conta de que em apenas um instante, sua vida começa a pertencer a outra pessoa e que cada escolha que você fizer vai afetar esta outra pessoa. Então, a partir daí, você tem que ser firme e se tornar uma versão melhor de si mesma, simplesmente porque você tem que fazer isso. E eu me lembro da primeira vez que ele se machucou e eu disse: “Oh, está tudo bem. Está tudo bem!” E então, você se dá conta: “Agora você se tornou essa pessoa”. Você é aquela pessoa que tem que dizer que está tudo bem com a total confiança de que você está fazendo isso muito bem, porque esta é sua obrigação agora, fazer com que tudo fique bem. Você não é mais aquela pessoa que chora sozinha.

Como foi a experiência de, temporariamente, morar na Austrália? É um mundo bem longe de Hollywood.

Bem, foi uma ótima experiência. Meus filhos aprenderam a surfar e mesmo que o papai não quisesse saber quando eles estavam no mar – porque enquanto isso ele participava das filmagens de “Fury”, na Inglaterra, e porque ele tem fobia de tubarões (risos) – eu não dizia especificamente quando eles estavam no mar. Nós estávamos com um ótimo grupo e tínhamos muitas opções. Trabalhar na Austrália foi extraordinário porque nós pudemos gravar na água, pois tínhamos três tanques diferentes a disposição; tínhamos o mar, a Ilha de Cockatoo, vastas paisagens de vários lugares diferentes para filmar e a equipe foi realmente extraordinária. Acho que por conta do estilo de vida que elas tem, elas são pessoas mais saudáveis, são pessoas muito inteligentes e muito fortes. Dessa forma, quando havia tanta coisa para ser feita e tanto trabalho que precisava ser feito, nós fizemos; muitas mangas foram arregaçadas e começamos logo com tudo aquilo. E além de tudo foi um ótimo lugar para as crianças. Eu passei muitas noites no zoológico e nós vestíamos roupas de animais (risos).

Com a roupa de qual animal você ia?

Eu não vou dizer (risos). Mas nossos filhos queriam que nós ficássemos parecidos, então no final da noite, nós estávamos dormindo no Zoológico Taronga e todos estavam com macacões e formamos um grupo de diversos animais.

Me parece que em sua vida, sua carreira, sua vida pessoa, sua vida pública e em seu trabalho, você tem tudo. Você já ganhou um Oscar, tem poder, dinheiro, fama, um marido maravilhoso e uma família fantástica.

Realmente parece algo muito bom vindo de você (risos)!

Existe alguma coisa que você ainda não fez? O que motiva você atualmente?

Meu foco está, agora, no meu filho mais velho que completou 13 anos. Eu quero ter certeza de que ele irá se tornar um grande homem. Eu sou como qualquer mãe, tenho seis filhos e quero ter certeza de que eles estão crescendo da forma adequada. Eu quero ter uma ótima família. Eu quero que nos próximos anos, eles sejam felizes, saudáveis e que tenham tudo o que precisam na vida. Eu percebi desde cedo que prêmios, dinheiro e tudo isso não fazem você feliz. De certa forma, isso ajuda você a saber que irá conseguir um próximo trabalho, algo que é ótimo, mas você só é feliz quando sente que está sendo útil. Você é feliz quando você faz coisas que indicam que você está no caminho certo, então, eu acho que apenas continuarei tentando descobrir onde posso fazer coisas boas. Eu sei quem eu sou em casa e estou tentando descobrir onde no mundo – com meu trabalho humanitário e com meu trabalho político – posso ser útil; estou tentando descobrir também o que sou capaz de fazer, porque ainda não sei, mas continuarei aprendendo e tentando. Vamos ver como estarei daqui cinco anos (risos).

Você se considera uma boa nadadora?

Esta é uma pergunta interessante. Quando eu nadei pela primeira vez no mar acho que eu era garotinha e estava com a minha mãe. Naquela época, eu até que era uma boa nadadora, mas eu sou uma daquelas mães que ensinam seus filhos a nadar muito cedo porque têm medo das crianças se afogarem. Eu sou muito paranoica com relação à água. E isso acontece muito em Los Angeles, então eu acho que você tem que ter segurança e por isso eu ensinei meus filhos a nadar o mais cedo possível. Mas eu não entro no mar já faz um bom tempo. Eu, provavelmente, deveria ir e entrar no mar porque todo mundo faz isso não faz? Nossas vidas ficam muito cheias de coisas e nós nos esquecemos de apenas desfrutar de um mergulho.

“Invencível” vai estrear no dia de Natal. O que você achou disso?

Quer saber? Eu estou tão feliz que o filme ira estrear no dia de natal porque eu realmente acho que é um filme de natal perfeito. E nós também estamos nos preparando para “By the Sea” e Brad está em casa praticando suas cenas em francês enquanto conversamos (risos).

Você tem sido um exemplo da força do espírito humano. Alguma vez você já pensou em escrever sua autobiografia ou fazer um filme sobre as suas experiências?

Eu sinto que eu tenho muito a aprender e que ainda estou no meio de tudo o que eu ainda vou ser. Eu espero e aprecio quando você diz isso. Eu acho que eu aprendi algumas coisas. Eu fiz algumas coisas, mas não sei. Eu apenas sou eu mesma. Eu ainda acordo todos os dias me questionando se estou fazendo o bastante e sobre o que eu deveria estar fazendo com a minha vida.

Você se refere ao seu lado rebelde?

Um pouco (risos). Não descarte a rebeldia (risos).

Como você relaxa depois de um longo dia de trabalho em um grande projeto como esse?

Se você perguntar isso para o Brad ele vai lhe dizer que eu nunca descanso. Eu sou péssima nisso. Quero dizer, eu ainda estou trabalhando no filme. Hoje a noite irei até a sala de edição para fazer duas sessões de “ADR”, efeitos visuais e música logo que terminarmos aqui. Então, estou trabalhando. Eu odeio não fazer nada, sou terrível nisso. Por isso, eu adorei passar dois anos aprendendo tudo o que podia sobre cada aspecto da vida deste homem [Louis Zamperini]. E mesmo quando estava aprendendo sobre aquela época dos anos 20 na Califórnia, quando estava aprendendo sobre os imigrantes italianos, sobre a Olimpíada do Hitler e sobre Jesse Owens, foi um grande prazer. Então, não, eu não costumo relaxar. Meus filhos pulam na cama e eles são mais barulhentos que eu (risos). Então, nós vivemos nesse caos.

Você e Brad estavam trabalhando em dois filmes históricos. Ele estava fazendo “Fury” e você estava fazendo “Invencível”. Como isso funcionou?

Sim, eu estava trabalhando em “Invencível” e ele descobriu “Fury”. Ele realmente queria trabalhar nele, e por conta disso esta foi a primeira vez em que nós trabalhamos separados. Ele não estava lá enquanto eu gravada “Invencível”. Por isso, foi interessante, mas nós decidimos transformar isso em algo positivo, nós aderimos ao estilo da Segunda Guerra Mundial e começamos a escrever cartas, como se ele estivesse vivenciando a guerra na Europa e eu no Pacífico.

Olhando para trás, depois do seu lado selvagem vir à tona, quando as coisas começaram a mudar para você? Porque, no passado, você disse que sua mãe era como se fosse sua “bússola moral”. Quando foi que você fez as escolhas que transformaram você na diretora que você é hoje?

Bem, isso é engraçado. Eu me sinto mais selvagem hoje do que já mais fui. Apesar das viagens que eu faço, com a vida que eu tenho com meus filhos e com as decisões que eu tomo, o que importa é a forma que eu direciono esse tipo de energia. Eu acho que é apenas uma questão de ajuste. Para mim, eu acho que a grande mudança aconteceu quando eu tirei o foco de mim mesma e parei de pensar tanto em mim. Isso aconteceu durante a primeira vez que eu visitei um país devastado pela guerra, porque quando você cresce, especialmente quando você cresceu na cidade de Los Angeles, você acaba se importando com coisas muito medíocres, com coisas muito, muito tontas. Você está “dark”, você está deprimida e você tem vontade de fazer uma coisa ou outra e então, quando você viaja para um ludar desses você se dá conta de que, na verdade, você deveria dar em tapa em sua própria cara e dizer: “Como pude ser tão cega e pensar que podia reclamar das coisas e que podia querer um monte de coisas quando tantas pessoas não têm nada e sofrem tanto.” E assim, logo que eu me atentei a isso, eu fiquei muito envergonhada por ter me preocupado tanto apenas com meus próprios problemas, então isso me mudou completamente e faz com que eu lembre disso durante todos os dias da minha vida. É por isso que quando eu acordo pela manhã, a primeira coisa que eu faço é ler sobre as coisas que estão acontecendo ao redor do mundo para checar, como ser humano, para onde devo ir e o que eu posso fazer.

Você doa tando o tempo da sua vida e você tem essa grande família. Seria compreensível se você aparecesse e dissesse algo como “Pessoal, estou com minhas mãos atadas”. Mas, na verdade, você vai até as zonas de guerra. Quão frustrante é, basicamente, ver o que está acontecendo e saber que você não pode fazer muita coisa, mesmo se doando tanto?

É algo que vai além da frustração. Anos atrás, eu estava tendo um ótimo almoço com a Jane Goodall e eu disse a ela: “É difícil ter esperança porque não é apenas uma coisa ou outra”. E ela bateu com o punho na mesa e disse: “Sempre existe esperança!” Ou seja, você não tem o direito de desistir da chance de tornar o mundo melhor, porque você está em uma posição através da qual, você realmente pode fazer algo melhor. E para todas as outras pessoas, você não está autorizada a levantar e sentir o peso em seus ombros, você tem que encontrar soluções. Então, eu olho para o mundo hoje e penso: “Como isso poderia ficar pior?” E ao mesmo tempo, eu olho para trás e vejo que mesmo com todos aqueles momentos sombrios que aconteceram durante a história, as coisas mudaram, as coisas andaram e se reestruturaram. Eu não sei se isso vai acontecer, mas eu sei que algo vai ruir, é isso que parece estar acontecendo, como se uma represa estivesse ruindo. E alguma coisa vai acontecer para reconstruirmos e teremos que repensar a forma pela qual nos aproximamos uns dos outros e a forma em que trabalhamos juntos. Nós precisamos que grandiosas vozes de liderança apareçam. Eu tenho que acreditar que isso é possível porque se não, a Jane ficará muito brava comigo (risos).

Cover Media / Viva Press

Agradecimentos especiais à Juliana pela ajuda com a tradução <3


Fonte: Yahoo