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Perversa e adorável – Parte 2

8 de março de 2014

Como foi assustar as outras crianças? Foi divertido?

Eu tenho uma amiga que foi aos sets com os filhos e quando eu os conheci, as crianças congelaram e começaram a gritar tanto que eu tive que ir esperar em meu trailer. Quando meu filho Pax me viu pela primeira vez, ele saiu correndo e ficou bravo – e eu pensei que ele estava somente brincando. Então, comecei fingir que o perseguia, até que, na verdade, eu o encontrei chorando. Eu tive que tirar pedaços da maquiagem na frente dele para mostrar que era tudo falso e para que não ficasse tão traumatizado.

Eu fico imaginando sobre o que filme diz a respeito da “vilanificação” dessa personagem. Você conhece o pensamento padrão – se um cara é mau, ele é valentão; se uma mulher é má, ela é uma v*dia. Isso faz parte da história de Malévola? Isso significa algo para você?

Eu não pensei nisso dessa forma, mas eu acho que as pessoas podem ler certas coisas e eu acho que há algo em mim que…. Eu gostaria de ser delicada como sou em casa com meus filhos, pela manhã e durante o dia. Eu gostaria de não ser desafiada a ponto de precisar ser dura, forte e batalhadora. Eu não gosto de me colocar em situações nas quais eu tenho que ser feia e má. Minha mãe (Marcheline Bertrand, que faleceu em 2007) era uma mulher muito feminina e muito delicada, mas eu sempre fui consciente de quando as coisas iriam acontecer e que poderia haver brigas com meu pai (Jon Vioight) em casa. Ela sempre achou que precisava ser firme para saber lidar com a vida e eu sempre dizia que não queria que ela fizesse isso – EU preferia ser firme e EU preferia brigar. Mas foi muito importante o fato dela sempre se manter gentil, delicada, aberta e doce porque é uma coisa horrível quando o mundo te endurece.

Parece que foi difícil pra você por um tempo. Você disse mais cedo que, quando você era jovem, você era mais dark, mais introvertida.

Sim eu fiquei “dura”. Eu era difícil.

O que você acha que fez você mudar?

Quando eu fiquei mais velha? Bem, eu comecei a viajar, a olhar além de mim mesma e comecei a ver como as outras pessoas lutavam no mundo.

Você disse isso em seu discurso no Governors Awards, quando você recebeu o Prêmio Humanitário Jean Hersholt.

Isso – e o fato de ter tido filhos. No momento em que você tem um filho, em apenas um instante, a sua vida não é mais para você e ela passa a ser 100% dedicada a outro ser humano, e isso sempre vem em primeiro lugar. Isso muda você para sempre. Eu fico desmotivada por um monte de coisas, mas eu acordei esta manhã para os meus filhos – e nós conversamos, rimos, brincamos e eu fiquei iluminada novamente, eu me tornei criança novamente. Eu sou amorosa e gentil novamente porque eles trouxeram isso de volta para a minha vida.

A sua Malévola gosta de ser má e dark?

Eu acho que você chega a um ponto onde você pensa, ‘Por favor, não me deixe com raiva – por favor, apenas me deixe ser eu mesma, me deixe sozinha’. E você entra numa fase – na qual todos nós passamos como pessoa – de se sentir machucada, de se sentir julgada e de se sentir atacada. E então surge aquele momento de: Bem, se você vai me chamar de má, então eu vou ser má e veja quão má eu posso ser.

Existe uma parte em nossa sociedade que apenas gosta de odiar – nós gostamos de fazer as pessoas de vilãs.

Isso me faz lembrar como as pessoas se comportam no colégio. Uma vez que crescemos e nos damos conta de quão humanos somos, de como somos tão parecidos e de como tão individualmente falhos nós somos, não há tempo para isso sabe? Existe um ódio real nesse mundo. Existe violência real e existe algo realmente inumano. Eu irei para o Líbano amanhã – para visitar a fronteira com a Síria – e quando você vê esse tipo de sofrimento, quando isso realmente existe, não existe tempo para certas coisas como ódio e julgamento mesquinhos. Porque já existe bastante crueldade e feiura no mundo. Nós realmente precisamos tentar proteger e ser melhor com os outros.

Vamos falar sobre algo bom que você fez. Exatamente há um ano, você estava prestes a se submeter a uma dupla mastectomia, depois que testes determinaram que você era geneticamente propensa a desenvolver câncer de mama. Antes de tudo, eu gostaria de saber, como você está hoje?

Eu estou ótima!… Eu fiquei muito feliz em ter tomado essa decisão. Eu sou muito sortuda por ter ótimos médicos, por ter tido uma boa recuperação, por tido um bom projeto como “Unbroken” no qual eu pudesse ficar realmente focada, e pelo qual eu precisasse ficar saudável, e também por ter voltado rapidamente ao trabalho.

Você manteve sua decisão em segredo por um tempo. Mas você escreveu um artigo para o jornal The New York Times inspirando outras mulheres a fazer o teste. Que tipo de reação você teve com isso?

Eu me senti muito, muito próxima – realmente muito próxima – das outras mulheres e de mulheres que estavam passando pelas mesmas coisas. Aonde quer que eu vá normalmente eu acabo ficando ao lado de mulheres e nós conversamos sobre problemas de saúde, sobre assuntos femininos, sobre câncer de mama e de ovário. Eu também cheguei a conversar com os homens a respeito da saúde de suas filhas e de suas mulheres. Isto faz com que eu me sinta mais próxima das pessoas que passaram pelas mesmas coisas, que também perderam familiares, que estão considerando fazer cirurgias ou que estão preocupadas com seus filhos. A razão pela qual eu escrevi o artigo, foi para tentar me comunicar, ajudar e me conectar com outras mulheres e com outras famílias que estão passando pelas mesmas coisas. Eu fiquei realmente muito emocionada com todo o apoio e carinho dado por tantas pessoas.

Falar sobre isso faz com que você fique encabulada, não faz?

(Sorriso) Sim, um pouco.

Eu imagino que você deva receber cartas.

Eu recebo, e é adorável.

A reação foi útil para você, pessoalmente?

Ainda existe uma outra cirurgia, a qual eu ainda não fiz. (Jolie é também geneticamente propensa a desenvolver câncer de ovário, doença que levou a vida de sua mãe, quando ela tinha apenas 56 anos). E, você sabe, eu recebi conselhos de todas essas pessoas maravilhosas com quem eu conversei, para conseguir dar o próximo passo.

Eu achei que compartilhar a sua história do jeito que você fez, foi extremamente legal. Então, bom trabalho. (Ofereço um cumprimento)

(Risos) Obrigada. (Aceita o cumprimento).

Você esteve dirigindo “Unbroken” – que contará a história de Louis Zamperini – um corredor Olímpico que lutou na Segunda Guerra Mundial. Ele sofreu um acidente aéreo e caiu no Oceano Pacífico. Ele ficou perdido no Oceano durante dias e ficou retido em um campo de prisioneiros de guerra. A história é inspiradora e quase inacreditável, mas é verdade.

Eu sou atraída por pessoas guerreiras. Por força de vontade. Eu não sei como alguém pode não ser atraída pela história deste homem. Existem muitas pessoas diferentes que se identificaram com algo bom na história dele, como fé, perdão resiliência, atletismo, heroísmo puro – ou pessoas que tiveram problemas na juventude e que não sabiam que valiam alguma coisa, sabe?

Os dois filmes que você dirigiu, “Unbroken” e “Na Terra de Amor o Ódio”, são bem pesados.

Eu também acho isso. Os filmes que eu dirigi, são histórias reais (ou) baseados em histórias reais, e você tem que ter muita responsabilidade – você tem que ser muito cuidadosa ao equilibrar isso. Um dia, irá ser divertido dirigir algo no qual eu não precise ser tão cuidadosa. Na qual eu poderei ser completamente, completamente hm…corajosa, selvagem, irreverente e dark.

É bom saber que você ainda tem esse lado, caso você precise.

Eu sei!

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Traduzido por Julia Leyte, Angelina Fan Brasil.

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