O Turista – Crítica
29 de janeiro de 2011
Fonte: Omelete
Fique até o final pra não perder a melhor piada.
A Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood pediu para ser zoada por Ricky Gervais quando colocou “O Turista” (The Tourist) entre os melhores de 2010 no Globo de Ouro, mas não dá pra condená-la por enquadrar o filme na categoria das comédias. Da trilha de James Newton Howard aos policiais italianos caricatos, tudo aqui tende para o humor.
E seria uma comédia com potencial se o diretor Florian Henckel von Donnersmarck não levasse a coisa tão a sério. Em seu primeiro trabalho hollywoodiano, o alemão de “A Vida dos Outros” se comporta mais ou menos como o holandês Anton Corbijn quando fez sua estreia hollywoodiana, “Um Homem Misterioso”. São dois filmes que lidam de forma solene com um gênero que a indústria banalizou, o thriller de espionagem.
Nessa aproximação respeitosa, Corbijn se sai melhor. Von Donnersmarck patina. O alemão se encanta com o star system (filmar os protagonistas só na base do close-up engessa a ação e deixa a canastrice mais evidente) e não tem autoridade ou competência para refinar o roteiro, que consegue ser esperto nas frases de efeito e bem burro na exposição (quantas vezes os capangas russos repetem para não atirar no cara?).
Ah, sim, a sinopse. O remake de Anthony Zimmer – “A Caçada” (2005) coloca Angelina Jolie para viver uma inglesa (sotaque forçado = humor involuntário) que está sendo vigiada pela Interpol porque seu amado é um fugitivo da justiça. Ela usa um turista dos EUA como isca, no caminho até Veneza, para poder se reencontrar secretamente com o ladrão. Obviamente, nada sai como planejado.
Johnny Depp interpreta o turista, inicialmente, com uma cara de inocência à la James Barrie, e depois, quando precisa correr, incorpora Jack Sparrow. A pantomima na construção do personagem e a insistência com os gracejos (ele fala espanhol no lugar de italiano) fazem o filme pesar de vez para o lado cômico. Estabelece-se, então, um acordo velado: a gente vai assistir a “O Turista” na brincadeira e, assim, quando a estapafúrdia reviravolta final acontecer, vamos encará-la só como mais uma piadinha.
Só faltou combinar o acordo com o diretor, que justifica o estereótipo de que alemão não tem senso de humor.
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