>Angelina Jolie: dona do coração… das mulheres
29 de agosto de 2010
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A transformação da garota-problema na mãe de família que todos querem assistir.
Um filme de ação com público majoritariamente feminino? Culpa de Angelina Jolie. Quando “Salt” entrou em cartaz nos Estados Unidos, 53% dos espectadores que correram às salas eram mulheres, e maiores de 25 anos, de acordo com informações da Sony. Que magia a senhora Brad Pitt exerce sobre universitárias, jovens profissionais e donas-de-casa para que elas se interessem em ver pancadaria, tiros e explosões? Só acompanhar o namorado não é motivo suficiente: Angelina serve como exemplo de beleza, redenção, sucesso e família.
Mas, nem sempre foi assim. Adolescente rebelde, cresceu longe do pai, o ator John Voigt, com quem até hoje mantém uma relação conturbada. Fez tatuagens desde cedo e as drogas nunca lhe faltaram – “cocaína, heroína, ecstasy, LSD, experimentei de tudo”, já disse. De beleza sobrenatural – grandes olhos verdes, magra, lábios siliconados sem silicone –, começou a trabalhar como modelo aos 14 anos, teve aulas de teatro e aos 18 fez seu primeiro filme como atriz profissional, “Cyborg 2”, ficção científica de baixo orçamento. A estreia em Hollywood aconteceu com “Hackers” (1995), onde ela conheceu seu primeiro marido, o ator inglês Jonny Lee Miller. A cerimônia do casamento demonstrou a excentricidade do casal: ele de couro, ela com calças pretas de borracha e uma camiseta branca, na qual escreveu o nome do noivo com seu próprio sangue (Pra quem ainda não sabe, Angelina gostava de se cortar). Quatro anos e um divórcio depois, ela interpretou a mulher de Billy Bob Thorton no filme “Alto Controle” (1999) e os dois levaram a história para fora dos sets. História, aliás, estranhíssima: tatuaram seus nomes como prova de amor, além de andarem por aí com um frasco do sangue do outro pendurado no pescoço. Nessa época, a carreira de Jolie estava em disparada. Ganhou três Globos de Ouro consecutivos, pelos telefilmes “George Wallace – O Homem que Vendeu sua Alma” (1997), “Gia – Fama & Destruição” (1998) e, finalmente, pelo longa “Garota, Interrompida” (1999), que lhe valeu também o Oscar de atriz coadjuvante. Ao subir ao palco para pegar o prêmio, sem embarcar na guerra dos estilistas, mostrou um visual a la Morticia Adams, com vestido e longos cabelos negros, e fez um discurso ambíguo com relação ao irmão, com quem depois trocou beijos na boca.
A atriz dramática, então, começou a apostar também nos filmes de ação e se converteu na maior estrela do gênero atualmente. Até hoje, são oito produções, de “60 Segundos”, passando pela Lara Croft dos filmes “Tom Raider”, até, enfim, “Sr. & Sra. Smith” (2005), quando conheceu Brad Pitt. Ali, ela conseguiu a façanha de “roubar” o marido da namoradinha da América, Jennifer Anniston, da série Friends. Um currículo desses não é, nem de longe, uma garantia de sucesso com o público, apesar de manter espaço cativo na imprensa de celebridades (com a qual a atriz sabe lidar muito bem). Nesse quesito, a tal fascinação com sangue e suas supostas relações homossexuais só ajudavam. A questão é que, desde que conheceu Pitt, Jolie sofreu uma transformação. Ao lado do homem mais bonito de Hollywood, passou a dar maior visibilidade para seu trabalho humanitário e aos filhos adotados em países subdesenvolvidos. Virou uma mulher de família, uma inversão de expectativas que fez sua popularidade subir ainda mais. Embaixadora da boa vontade das Nações Unidas, Jolie volta e meia está voando para nações em risco. Haiti, Líbano, Bósnia, Iraque, Afeganistão… A lista de carimbos no passaporte da estrela é extensa. Foi nessas viagens que ela adotou três de seus filhos: Maddox, do Camboja, Zahara, da Etiópia, e Pax, do Vietnã. Completam a prole a menina Shiloh e os gêmeos Knox e Vivienne, filhos biológicos da relação com Pitt. Tantas crianças fizeram com que ela ficasse mais tempo em casa e escolhesse melhor seus projetos – nos últimos dois anos, foram apenas três filmes, uma animação (“Kung Fu Panda”), um drama aclamado pela crítica (“A Troca”) e dois filmes de ação, (“O Procurado” e, agora, “Salt”).
A ligação com o projeto começou com o telefonema de uma executiva da Sony Pictures, interessada em saber se Angelina queria ser uma Bond Girl, os famosos pares femininos do espião 007. A atriz disse não, mas que gostaria de interpretar Bond. Uma ano e meio depois, a oportunidade apareceu com Salt, escrito anteriormente para Tom Cruise. O personagem mudou de nome, de Edwin para Edwina, e de repente ganhou conotação feminista, uma espiã que bate, atira e mata como um homem. “O engraçado de ter crianças é que agora me sinto ainda mais motivada a fazer cenas de ação porque sei que elas adoram”, declarou Jolie à Entertainment Weekly.A família, portanto, move sua carreira, mas, ao mesmo tempo, será responsável por abreviá-la. Angelina não quer mais continuar apostando na roleta de Hollywood. Uma aposentadoria está nos planos para que ela possa construir um lar grande e feliz, coisa que não teve na infância. “Não amo tanto atuar a ponto de ficar com o coração partido se não pudesse mais fazer isso amanhã”, afirmou a atriz à revista Vanity Fair. “[Brad e eu] faremos isso por mais alguns poucos anos e depois vamos fazer outra coisa. Isso não significa que nunca mais tentaremos fazer outro filme, mas será uma coisa diferente.”
No tempo livre, estão previstas viagens a lugares distantes, inclusive aos países dos filhos, para aprender e mergulhar na cultura local. “Em qualquer momento que me sinto perdida, pego um mapa e olho, olho até me lembrar que a vida é uma aventura gigantesca, com muito a fazer, a ver”, diz ela. Em Veneza, onde a família esteve há alguns mêses para Jolie filmar “The Tourist” ao lado de Johnny Depp, com direção do alemão Florian Henckel von Donnersmarck, a rotina, apesar dos paparazzi, era pacata. As crianças tinham aulas com professores particulares, que viajam com o casal, enquanto Pitt ficou à vontade para construir móveis, esculpir e desenhar (ele é um entusiasta da arquitetura). Aos 35 anos, a maluca tatuada, ícone dos filmes de ação, está perto de concluir sua metamorfose. A simpatia do público, e das mulheres, isso ela já conquistou.
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