>Resenha de Salt @Terra
21 de julho de 2010
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Angelina Jolie corre, atira, salta e escorrega em ‘Salt’
Por Carol Almeida do Terra (Brasil)
Se a paz mundial fosse uma opção no cardápio do delivery mais próximo, certamente não iriam faltar entregadores rápidos, ágeis e hábeis em driblar todo tipo de obstáculo para entregar essa preciosa encomenda em mãos: James Bond (franquia 007), Ethan Hunt (franquia Missão Impossível) e Denzel Washington (franquia Denzel Washington) são apenas alguns dos nada modestos nomes desse grupo de motoboys. Todos eles são treinados para matar, escapar de armadilhas projetadas por Houdini e nunca quebrar a coluna em quedas vertiginosas. Mas nenhum deles consegue fazer tudo isso para logo depois desfilar de salto alto com cabelos ao vento e uma maquiagem que resiste a granadas. Portanto, se é para pedir a paz mundial com estilo, disquem Angelina Jolie, ou melhor, Evelyn Salt.
A nova personagem de Jolie chega aos cinemas como uma suposta versão feminina de outro conhecido personagem de franquias gato-e-rato: Jason Bourne. Mas é bom esclarecer: se Angelina tem catwalk, Bourne tem roteiro. Portanto, não espere nada além de reviravoltas mirabolantes, acrobacias urbanas e esquizofrenias automobilísticas em “Salt”. E lembre: a Guerra Fria é o novo pretinho básico de Hollywood. Ou seja, os russos voltaram a ser os bons vilões de sempre, o que diz bastante sobre a fragilidade narrativa do império americano, cada vez mais apegada aos saudosos tempos em que, de fato, eles tinham controle ideológico da maior parte do tabuleiro de War.
Salt, personagem que nos é apresentada em uma cena que deve ter sido editada do clipe Die Another Day, de Madonna, começa essa história como prisioneira do cruel exército norte-coreano. Logo em seguida vemos a moça sendo libertada, olho inchado, arranhões expostos, caminhando cautelosamente em direção ao homem com quem ela se casou e para quem ela decidiu quebrar o protocolo de não se apaixonar. Ah, o amor.
A contravenção se dá porque, claro, Evelyn Salt é uma agente da CIA e, como tal, não deveria ceder às intempéries de qualquer tipo de sentimento, exceto aqueles de devoção ao governo americano. E Salt é devota à bandeira estrelada. Até que se prove o contrário. Sentença esta que se cumpre ainda nos primeiros minutos de filme quando um russo surge em cena afirmando que a moça é uma espiã compatriota cuja missão é matar o presidente russo em visita aos Estados Unidos, ou melhor, Nova York (não seria um filme de ação sem perseguições em Manhattan). De onde começam as cenas de perseguições a até então exemplar funcionária d governo americano.
Parece complexo, mas naturalmente não é. A coisa toda é tão cronicamente inverossímil e retorcida que faz a ideia de paz mundial parecer algo passível de acontecer.
O problema neste filme é que, ao contrário de vários outros clássicos do gênero, o inverossímil não sincroniza seus passos com diálogos inteligentes e bem-humorados que costumamos ver, por exemplo, na franquia Bourne. A ideia toda de uma conspiração russa é, de cara, pouco convincente. Para dramatizar a falta de um honesto conflito interno, a personagem de Salt é constantemente tomada por flashbacks primaveris com o homem por quem ela se apaixonou, nos lembrando que a estética Crepúsculo conquistou corações e mentes em Hollywood.
E, acreditem, a culpa não é da atriz principal. Ou não de todo. Angelina é um totem contemporâneo da mulher bem-sucedida, bem-amada e bem intencionada. Ter um nome dessa relevância midiática é uma alavanca para bilheteria. E se na vida real ela tenta salvar o mundo cuidando de uma prole de crianças internacionais ou fotografando seu rosto em nome da Unesco, na ficção Angelina tem experiência de sobra com armas de destruição em massa.
Com um currículo que inclui munições de “60 Segundos”, os dois “Tomb Raiders” , “Sr. e Sra. Smith” e “O Procurado”, a senhora Jolie-Pitt entra e sai de cena fazendo as caras e bocas que ela já se acostumou a reproduzir em outros sets de filmagens. Bom. O fato é que, de pano de fundo, temos um roteiro cheio de buracos, erros graves de continuidade e uma direção mais preocupada em intercalar batidas de carro com o close nos olhos azuis da protagonista. Ruim. E cada vez mais magra, Angelina não parece ter atualmente estrutura óssea para segurar uma metralhadora. Ruim não apenas para o filme, mas para a saúde.
A lembrar que na assinatura desse quebra-cabeças de peças perdidas está o nome de Phillip Noyce, um diretor de picos e vales em sua carreira. A se tomar o resultado final do primeiro “Salt” – sim, porque há uma “chamada” para futuras sequências – Noyce desistiu de escalar montanhas.
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