Divorcio / Entrevistas

Angelina Jolie: eu não gosto de ficar solteira

2 de setembro de 2017

Em uma recente entrevista concedida ao site Telegraph, a cineasta Angelina Jolie afirmou que não gosta de estar solteira. O artigo foi escrito por John Hiscock e publicado na madrugada deste domingo, dia 3 de Setembro de 2017. Confira abaixo a tradução feita na íntegra exclusivamente pelo Angelina Jolie Brasil.

Por John Hiscock

Se ela não tivesse um filme para promover, dificilmente uma Angelina Jolie estaria sentada na suíte do Hotel Beverly Hills para conversar – de forma relutante – sobre sua vida depois de se separar e ingressar com o pedido de divórcio do ator Brad Pitt em setembro do ano passado.

Mas ela é uma veterana no ramo dos negócios e o filme que ela co-escreveu, produziu e dirigiu, “First They Killed My Father”, precisa de publicidade. Por isso, ela está se submetendo a um longo final de semana de entrevistas enquanto admite: “Esta é a primeira vez que estou voltando a fazer isso depois de um longo tempo. Não está sendo fácil. Eu estou um pouco tímida desta vez, pois não me sinto forte o bastante por dentro como já estive no passado”.

Os últimos 12 meses claramente geraram certo impacto na atriz de 42 anos, que aparenta estar um pouco magra e pálida.

“Tem sido muito difícil. Eu não gosto de ficar solteira. Não é algo que eu queria. Não existe nada de bom nisso. É muito difícil. Às vezes, parece que eu estou segurando as pontas, mas na verdade, eu estou apenas tentando seguir em frente. Emocionalmente, tem sido um ano muito difícil e eu tive outros problemas de saúde. Portanto, minha saúde é algo que eu tenho que monitorar”, reconhece ela.

Quatro anos atrás ela causou um alvoroço em escala mundial ao anunciar que havia se submetido a uma dupla mastectomia preventiva, depois de descobrir que tinha 87% de chance em desenvolver câncer de mama. Sua mãe teve câncer de mama e faleceu por conta de um câncer de ovário em 2007, com apenas 56 anos de idade. Sua avó também morreu em virtude de um câncer de ovário com 45 anos. Então, dois anos atrás, Jolie se submeteu a uma nova cirurgia, removendo os ovários e suas trompas de Falópio. Por conta disso, ela desenvolveu hipertensão e teve paralisia de Bell – uma paralisia facial que gera a queda de um dos lados do rosto. Segundo ela, a acupuntura fez com ela se recuperasse.

“Muitas vezes na vida você se concentra no fato de que as coisas poderiam ter sido muito piores. Eu estou muito feliz por não ter tido câncer e se por acaso eu vier a ter, eu sei que consegui adiar isso por alguns anos. A troca que eu fiz para conseguir essa paz de espírito foi bastante boa. Eu sinto, às vezes, que meu corpo foi agredido, mas eu tento rir tanto quanto o possível”, disse ela.

“Nós tendemos a ficar tão estressados que nossos filhos sentem nosso estresse, quando, na verdade, eles precisam sentir nossa alegria. Mesmo que você esteja passando por uma quimioterapia, você precisa encontrar a habilidade de amar e rir”. Ela faz uma pausa e sorri. “Isso pode soar como uma frase de cartão postal, mas é verdade”.

Seus filhos – Maddox (16), Pax (13), Zahara (12), Shiloh (11), Knox (9) e Vivienne (9) – possuem uma posição proeminente durante a conversa, já que ela também requereu a guarda deles quando ingressou com o divórcio. Todos os seis filhos foram com ela para o Camboja, para morar lá durante os quatro meses de filmagens do longa “First They Killed My Father”. O filme é baseado no livro de memórias escrito por Loung Ung e publicado no ano 2000, que fala sobre o genocídio praticado pelo Khmer Vermelho. Na época, os pais e dois irmãos de Ung foram mortos, assim como, aproximadamente, dois milhões de cambojanos.

Jolie é cidadã cambojana há mais de uma década e possui uma casa perto da fronteira com a Tailândia; por isso, o tempo que a família passou no país foi de especial importância para ela e para Maddox, que foi adotado por ela no Camboja quando ele tinha apenas 3 meses de idade.

“Eu conheci Loung e perguntei a ela como ela se sentiria, já que ela é uma órfã cambojana, se eu adotasse um órfão cambojano. Ela me deu muito apoio. Se ela não tivesse dado, minha vida teria sido muito diferente. Portanto, ela conhece Mad desde pequeno e ele sempre soube a respeito da história de Loung e eu disse pra ele, ‘um dia filho, você estará pronto e quando este dia chegar eu quero que você me diga que é a hora de conhecer profundamente seu país. Mas eu preciso que você me ajude, que você trabalhe, que você esteja lá todos os dias; e você não vai poder dizer que está cansado’. E um dia ele disse: ‘Estou pronto’.

“Eu realmente queria que Maddox aprendesse tudo sobre a história do Camboja e eu senti que este filme era uma jornada que nós podíamos fazer. E ele entrou de cabeça na parte das pequisas e da edição. Além disso, eu tinha alguém mais novo ao meu lado para dizer ‘você fazendo com que eu perca a atenção’ ou ‘isso é muito complicado’. Ele foi realmente útil.”

O filme é um caso de família: Maddox recebeu os créditos de produtor executivo e Pax fez umas “bicos” como fotógrafo. Os outros filhos também estiveram presentes nos sets de filmagens durante todos os dias e ficaram amigos dos atores mirins.

“Setenta por cento dos cambojanos tem menos de 30 anos de idade. E se eles assistirem esse filme e quiserem que tudo isso não se repita, eles serão aqueles que levarão seu país para frente”.

Ela fala rapidamente, pausadamente e predominantemente de bom humor. O único momento que ela ficou um pouco ríspida foi quando eu perguntei a respeito da controversa que surgiu a respeito do método de seleção de elenco para o novo filme. Em entrevista para a Vanity Fair, ela contou que os diretores de elenco inventaram uma brincadeira, na qual certa quantia em dinheiro era deixada em cima de uma mesa e as crianças, durante as audições, tinham que pegar esse dinheiro. Neste momento, elas eram flagradas e tinham que inventar uma desculpa. O método aplicado na audição atraiu críticas e os advogados de Jolie pediram à revista por uma correção. A Vanity Fair, no entanto, bateu o pé e decidiu apenas compartilhar a transcrição da entrevista.

“Eu já expliquei isso e você pode procurar. “Foi um mal entendido e nada aconteceu sem pensarmos no que era melhor para as crianças e para as famílias”, disse ela bruscamente.

“First They Killed My Father” é o quarto filme dirigido por Jolie, seguindo “Na Terra de Amor e Ódio”, “Invencível” e “À Beira Mar”. No momento, entretanto, ela não tem nenhum plano imediato de atuar ou dirigir. Ao contrário, ela e os filhos recentemente se mudaram para uma mansão avaliada em 24,5 milhões de dólares, que no passado pertenceu a Cecil B de Mille, e se adaptar é atualmente sua prioridade.

“Eu estou fazendo aulas de culinária. Eu não tenho certeza de quão boa eu sou nisso. Cozinhar é uma dessas coisas que você faz quando já está bem resolvida na vida e você tem tempo. Mas, de certa forma eu sou muito impaciente e um pouco errática, então é muito difícil para mim, ficar na cozinha. Mas eu estou tentando isso agora. Eu estou realmente tentando, porque eu sinto que quando eu cozinho, as crianças gostam. Embora, muitas vezes, elas assumam o controle das coisas e digam que conseguem fazer melhor”, diz ela rindo.

“As crianças tem sido incríveis. Tem sido muito emocionante ver o quanto elas podem se ajudar e o quanto elas me ajudaram. Elas realmente estão crescendo, estão se descobrindo e encontrando suas próprias vozes. Eu sei que elas terão umas às outras por toda a vida e isso me dá muita paz; saber que quando eu não estiver mais aqui, elas cuidarão umas das outras”.

Depois que ela concluiu as filmagens do longa, ela visitou Londres como professora convidada da Escola de Economia e Ciência Política na Universidade de Londres, onde ela falou aos estudantes, sobre suas experiências como Enviada Especial da ONU.

“Parte do motivo pelo qual eu decidi ensinar foi porque eu também queria aprender. Eu realmente quero ouvir da geração que está por vir, quais são seus questionamentos e quais são seus objetivos…”

Se e quando ela retornar ao cinema, as chances são de voltar mais como diretora do que como atriz. “Quando você atua, você não pode esculpir o final da história. Mas poder supervisionar tudo, até a música que entra na parte de edição, é muito diferente,” diz ela.

Os primeiros anos de Jolie como uma garota selvagem foram muito bem documentados. Ela falou abertamente sobre seu passado, sobre as drogas e auto-mutilação. Durante seu casamento com o ator Billy Bob Thornton (antes, ela também foi brevemente casado com o ator Jonny Lee Miller), os dois usaram pingentes que continham o sangue um do outro e se gabavam sobre seu sexo selvagem.

No entanto, ela conheceu Pitt em 2004 nos sets do filme “Sr. & Sra. Smith” e a partir de 2005, dedicou os últimos anos de sua vida à maternidade. Porém, sua vida mudou drasticamente no ano passado e agora ela está pensando em mudar.

“Eu acho que agora eu preciso redescobrir um pouco do meu antigo eu. Eu acho que nós nos perdemos um pouco durante a vida. Eu tenho muitas coisas acontecendo no momento. De pessoas deixando minha vida, problemas de saúde até criar filhos. E esta tem sido uma fase muito boa para absorver, desenvolver e crescer. Mas talvez agora que meus filhos estão crescendo eu comece a perceber que uma parte minha foi deixada de lado por um tempo. E talvez o fato dos meus filhos estarem atingindo a adolescência traga um pouco de diversão para a mamãe. Então, talvez eu esteja voltando. Pode estar na hora”, ri ela.

O filme “First They Killed My Father” será lançado no dia 15 de Setembro na Netflix.

Fonte: Telegraph